“O esporte me deu uma família em todo mundo”

Corredor olímpico de maratonas e ex-refugiado, Yonas Kinde sabe o poder que o esporte tem de criar amizades, manter a saúde e reconstruir vidas

Yonas Kinde faz suas corridas matinais na floresta perto de sua casa em Luxemburgo. © ACNUR/Colin Delfosse

Desde o começo da pandemia de COVID-19 no ano passado, Yonas Kinde tem trocado a alegria das multidões nas corridas internacionais pelos sons da natureza durante suas corridas matutinas, perto de sua casa em Luxemburgo.


“Eu consigo correr imediatamente da minha casa para a floresta,” ele diz. “Correr é importante para mim para renovar minha mente e para me manter saudável física e mentalmente.

Cinco anos depois de competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, como parte do primeiro Time Olímpico de Refugiados, Yonas sabe encaixar seus treinos entre seus outros compromissos. Ele está estudando para sua qualificação em logística farmacêutica e trabalhando em uma farmácia de um hospital que está distribuindo vacinas para COVID-19.

Mas, corridas de longa distância continuam sendo sua paixão. Ele raramente passa um dia sem treinar e apenas teve uma pausa ano passado quando contraiu COVID-19 e teve que se isolar dentro de casa.

“Foi um momento difícil… Eu realmente senti falta de treinar,” ele lembra. “Meus amigos me apoiaram, por telefone, videochamadas. Eles diziam, ‘Estamos com você.’”

No Dia Mundial do Refugiado, em 20 de junho, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, convocou comunidades e governantes para incluir, em cuidados de saúde, educação e esporte, pessoas forçados a deixar seus países.

Oferecer oportunidades aos refugiados de se envolverem em esportes pode ajudá-los a ganharem confiança e se sentirem bem-vindos e inclusos em suas novas comunidades.

“O esporte me deu uma família não apenas em Luxemburgo, mas em todo mundo”

Muitos dos amigos que ajudaram Yonas em seu período de isolamento por conta da COVID-19 e lockdown foram adquiridos pelo seu amor pelo esporte.

“Graças ao esporte, eu conheci muitas pessoas importantes em minha vida,” ele disse. “O esporte me deu uma família não apenas em Luxemburgo, mas em todo o mundo.”

Yonas começou a correr quando adolescente na Etiópia, como uma forma de economizar o dinheiro do ônibus para doces e lanches.

“Eu estava correndo para a escola. Eram 16 kilômetros ida e volta, e eu não havia percebido o quanto me ajudava para competição eu estar correndo para chegar à escola.” Uma professora o encorajou a começar a competir.

Ele saiu de sua pátria, Etiópia, e chegou à Europa no verão de 2012, onde acabou em um pequeno país sem costa marítima, Luxemburgo. Após ter conseguido seu asilo em 2013, ele se tornou um dos melhores corredores de maratonas de Luxemburgo, ganhando títulos na França e na Alemanha.

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Yonas curtindo com seus amigos no centro da cidade de Luxemburgo. “Fazer esporte me ajudou a fazer amigos. Eu falo luxemburguês com eles para continuar aprendendo” ©ACNUR/Colin Delfosse

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Yonas Kinde na Floresta Ham, cidade de Luxemburgo, onde corre toda manhã ©ACNUR/Colin Delfosse

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Yonas com sua coleção de trófeus de corrida. “Eu sinto muita falta de competir.” ©ACNUR/Colin Delfosse

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Yonas trabalha na farmácia do Hospital Robert Schuman na cidade de Luxemburgo, que distribui vacinas da COVID-19 ©ACNUR/Colin Delfosse

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A cidade de Luxemburgo, onde Yonas mora desde sua chegada em 2012. Recentemente, ele se tornou cidadão de Luxemburgo ©ACNUR/Colin Delfosse

Yonas lembra do momento em que foi selecionado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para fazer parte do Time de Refugidos dos Jogos Rio 2016 como “um momento inesquecível.” Ele competiu na maratona masculina e curtiu sair com outros atletas refugiados na Vila Olímpica. “Foi muito especial,” ele disse.

Por causa da pandemia, Yonas não tem participado de competições internacionais desde que correu na Maratona de Tóquio, no começo de março de 2020. Ele foi o primeiro refugiado na história do evento a competir entre os corredores de elite.

“Eu sinto muita falta das minhas competições,” ele disse. “Eu sinto falta dos aplausos.”

Yonas agora fala luxemburguês, alemão, francês e inglês. No final de 2020, ele se tornou cidadão de Luxemburgo, sete anos depois de ter conseguido asilo.

“É algo muito importante para mim quando estou procurando por emprego e também para me integrar com outras pessoas. Eu posso representar Luxemburgo no esporte”, ele disse.

“O Time Olímpico de Refugiados é um símbolo de esperança

Agora que não é mais um refugiado, Yonas não é mais elegível a fazer parte do Time Olímpico de Refugiados dos Jogos de Tóquio 2021. Mas ele vai estar torcendo para os 29 atletas que farão parte do Time, já anunciados pelo COI.

“O Time Olímpico de Refugiados é um símbolo de esperança para atletas refugiados e também para refugiados ao redor do mundo,” ele disse. “Minha mensagem para o Time é de usar essa segunda chance para conseguir medalhas e mandar uma mensagem para o mundo para apoiar os refugiados.”

Durante a pandemia de COVID-19, médicos refugiados, enfermeiras e farmacêuticos como Yonas, têm trabalhado na linha de frente para conter o vírus, tratar pacientes e ajudar as pessoas a se vacinarem.

“Neste momento difícil, me faz feliz saber que posso contribuir, que posso fazer algo para os pacientes com COVID,” Yonas disse.

Usar esta oportunidade para continuar os estudos tem permitido a ele olhar para o futuro e aprender habilidades que precisa para contribuir com o país que o acolheu como refugiado.

Algum dia, Yonas planeja oferecer treinamento para refugiados recém-chegados em Luxemburgo para que eles possam experienciar os mesmos benefícios que ele.

“Correr me ensinou a ser mais forte. Correr me ajudou a me integrar com outras pessoas. E correr me ajudou a me encontrar,” ele disse.