Refugiados da Etiópia buscam notícias de entes queridos após conflitos violentos

Mais de 40.000 etíopes já fugiram da crise no Tigré rumo ao Sudão, onde muitos aguardam ansiosamente o reencontro com seus familiares

Refugiado etíope segura uma criança em um abrigo no campo de Um Rakuba, no estado de Gedaref, ao leste do Sudão © ACNUR/Ebrahim Hamid

Lezabu está extremamente preocupada. A mãe solteira de três filhos não vê duas de suas filhas desde que fugiu da crise na região de Tigré, no norte da Etiópia, e cruzou a fronteira rumo ao Sudão.


“Minha filha mais velha fugiu com sua irmã mais nova. Eu não sei onde elas estão e estamos há semanas sem notícias”, afirmou Lezabu, que está atualmente no centro de recepção em Hamdayet, cidade fronteiriça no leste do Sudão com a Etiópia, onde refugiados continuam chegando aos milhares.

A fazendeira de 38 anos fugiu de sua pequena cidade de 42.000 habitantes após os conflitos eclodirem na região. “Eu acho que centenas de pessoas foram mortas aquele dia”, contou.

“Minha filha mais velha fugiu com sua irmã mais nova. Eu não sei onde elas estão”

Anna*, uma agente pública de saúde, estava trabalhando em um posto de saúde local quando os ataques aconteceram. Ela fugiu quando os confrontos se aproximaram. “Nós ouvimos gritos e soubemos que precisávamos correr para sobreviver”, afirmou.

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Etíopes que fugiram dos combates na região de Tigré se reúnem na vila de Hamdait, na fronteira do Sudão com a Etiópia, no estado de Kassala oriental. © ACNUR / El Tayeb Siddig

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Uma jovem é retirada de um barco que transportava refugiados etíopes pelo rio Serit, ao longo da fronteira de Hamdayet, no Sudão. © ACNUR / Olivier Jobard

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Refugiados etíopes esperam para ser registrados no centro de recepção em Hamdayet, no Sudão © ACNUR/Olivier Jobard

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Uma jovem refugiada etíope dorme em colchonete, no espaço de trânsito, Hamdayet, Sudão. © ACNUR/Olivier Jobard

Naquela noite, Anna e sua família encontraram um vizinho que concordou em transportá-los em seu trator. Porém, homens armados os emboscaram, forçando-os a fugir na direção oposta. Nesse momento, ela se separou dos filhos e do marido, indo parar na cidade de Humera, onde ouviu que seria mais seguro.

“No minuto em que chegamos na cidade, vimos uma pessoa levando um tiro na cabeça na nossa frente” diz estremecendo. “Vimos também muitos saques; as pessoas estavam roubando as casas. Ficamos com muito medo”. Após cinco dias se escondendo em Humera, ela encontrou uma maneira segura de atravessar a fronteira para o Sudão.

“Vimos uma pessoa levando um tiro na cabeça na nossa frente”

Lezabu e Anna fazem parte da leva recente de refugiados que chegaram à Hamdayet. Cerca de 5.000 mulheres, crianças e homens fugiram dos combates em curso, elevando o número de refugiados etíopes que chegaram ao Sudão para mais de 40.000 desde o início da crise. Os conflitos ocorrem desde o começo de novembro.

O ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, e seus parceiros estão entregando e distribuindo recursos essenciais, incluindo refeições quentes, água e latrinas para os que chegaram. Os funcionários na cidade fronteiriça de Hamdayet, no estado de Kassala, e na travessia de Lugdi, no estado de Gedaref, registram milhares de novas chegadas a cada dia.

Os refugiados mais vulneráveis, como idosos, gestantes, mulheres amamentando e crianças estão recebendo cuidados especiais, incluindo uma alimentação suplementar. No entanto, a resposta humanitária continua enfrentando problemas logísticos.

A realocação de refugiados para longe das fronteiras é dificultada pela logística e distância, limitando o número de pessoas sendo transferida para o campo Um Rakuba, em Gedareff, a aproximadamente 80 km no interior do país.

“Nós nunca imaginaríamos que seríamos refugiados. Eu posso te garantir”

A medida em que mais pessoas continuam a avançar rumo ao Sudão, refugiados como Filimon estão tentando aceitar a situação.

“Nós nunca imaginaríamos que seríamos refugiados. Nós nunca esperávamos por isso, porque estávamos em uma condição segura”, disse Filimon. “Estávamos crescendo e tentando ajudar nossas famílias. Nunca esperávamos por isso, eu posso te garantir”.

Robert, um adolescente que estava estudando no colegial, assentiu. “Tudo estava indo bem, mas agora eu perdi minha mãe e irmã nessa loucura”, disse. “Espero que encontremos paz novamente”.

*nomes foram alterados para proteger as identidades