Setembro Amarelo: o afegão Navid Haidar lidou com ameaças de morte antes de conseguir um visto humanitário. No Brasil, tenta reconstruir a vida e a saúde mental
Navid reescreve a própria história em uma nova direção. Foto: Miguel Pachioni
No desespero para salvar a própria vida e a de sua família, Navid Haidar, 39 anos, enfrentou uma jornada de 38 horas a pé, com quatro crianças pequenas, para fugir do Afeganistão e chegar ao Irã. No país vizinho, porém, eles estavam sem documentação e corriam risco de deportação.
Viveram escondidos até redescobrirem o que é esperança por meio do visto humanitário brasileiro e conseguirem dar o primeiro passo para reescrever a própria história em uma nova direção ao viajarem para o Brasil. Agora, eles se sentem seguros fisicamente, mas carregam muitos traumas e precisam cuidar da saúde mental.
ENVIAR UMA MENSAGEM PARA OS REFUGIADOS!
Assim como Navid, mais de 6 mil refugiados do Afeganistão chegaram até aqui, e o Brasil autorizou 12.399 vistos humanitários para essa população até agosto de 2023. São pessoas que buscam uma chance de reestruturar a vida em segurança depois de deixar o país, que enfrenta a maior crise humanitária do mundo. Descubra mais sobre esse assunto na página Em uma nova direção.
Neste Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio e valorização da saúde mental, não podemos deixar de apoiar pessoas refugiadas que passam por traumas resultantes do deslocamento forçado!
Você pode deixar uma mensagem de apoio e boas-vindas para Navid e pessoas refugiadas do Afeganistão que, assim como ele, chegam ao Brasil em busca de recomeçar a vida em segurança: clique aqui. Você também pode fazer a diferença na vida de refugiados do Afeganistão por meio de uma doação ao ACNUR: clique para doar.
Recomeçar no Brasil o enche de esperança, mesmo assim não é fácil lidar com os traumas do passado. Foto: Miguel Pachioni
“Eu já estava acostumado a receber ameaças de morte por telefone de números desconhecidos.
Foi quando recebi uma carta em minha casa que percebi que minha vida estava em risco. Foi aí que começou uma longa jornada, uma longa história.
No Afeganistão, eu trabalhei em ONGs em prol da democracia; muitas vezes, como intérprete. Quando a crise se intensificou, o cenário era incerto, e muitos intérpretes estavam sendo mortos enquanto esperavam por um visto especial, que demora muito para sair.
Eu não consegui esse visto, diziam que eu não era elegível. Foi por isso que eu e minha família fomos para o Irã — uma jornada de 38 horas caminhando com quatro crianças pequenas. Foi uma longa viagem.
Enquanto estávamos lá, o governo iraniano anunciou que, se capturasse pessoas do Afeganistão sem documentação, as deportaria imediatamente. E eu sabia o que minha deportação significava: ser executado.
Durante dois anos, eu e minha família vivemos em segredo. Ficávamos escondidos em casa, e eu trabalhava à noite enquanto os policiais não ficavam muito nas ruas. Um dia meu supervisor me contou sobre o visto humanitário brasileiro. Era a única maneira de sair do Irã.
Solicitei o visto humanitário na Embaixada do Brasil em Teerã e, felizmente, fui considerado elegível. Eu não estava ganhando dinheiro suficiente, mas meu supervisor me ajudou muito e comprou as passagens para que eu e minha família pudéssemos chegar no Brasil.
Futebol e alguns jogadores brasileiros, como Neymar e Marcelo… Essas eram as únicas coisas que eu e minha família sabíamos sobre o Brasil.
Quando cheguei aqui, vi que as pessoas são incríveis, muito gentis. Recebemos tanta gentileza que não tenho como explicar o quanto são incríveis.
Navid se alegra de poder ver os filhos crescerem no Brasil. Foto: Miguel Pachioni
Gosto muito do Brasil, e estou feliz porque meus filhos estão longe da violência. Tudo o que desejo para eles é que possam crescer saudáveis e com educação, tendo seus direitos respeitados. Sinto que agora estamos livres.
Temos uma situação muito difícil no Afeganistão, todos têm medo da violência. No mundo todo, há violência nas ruas, talvez um pouco mais em São Paulo, mas é diferente, posso lidar com isso sem problemas.
Aqui não estou sendo perseguido por alguém que está tentando nos matar.
Estou enfrentando traumas porque perdi muitos amigos e familiares… Estou tomando remédio antidepressivo agora para ansiedade e fobia. Até meus filhos estão tomando remédios porque a família toda desenvolveu fobia interna e estresse. Mesmo em casa, eles não conseguiam dormir e tinham sintomas de trauma.
Na verdade, o mais difícil para mim foi compreender que não estou mais sendo perseguido, que não há ninguém me seguindo e que não estou mais me escondendo. Agora posso dormir bem, não estou mais preocupado com isso.
O que me preocupa agora é a o resto de minha família. Meus pais e meu irmão ainda estão no Irã. Não sei o que vai acontecer com eles, isto é o que me aflige neste momento.”
Navid Haidar, refugiado afegão
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lidera a resposta emergencial de acolhida a pessoas refugiadas do Afeganistão no Brasil, fornecendo abrigo, ajuda humanitária, aulas de português e apoio para que elas se integrem ao país. Você pode fazer parte dessa missão: saiba mais e doe agora. Não perca também a chance de aquecer o coração de refugiados recém-chegados e deixe uma mensagem de boas-vindas para eles.
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