Campanha dos sapatos promove compreensão e tolerância na Colômbia

BOGOTÁ, Colômbia, 13 de Janeiro (ACNUR) – A jovem Francesca nunca esquecerá o dia em que foi forçada a fugir de casa, em uma área rural do departamento de Antioquia, no norte da Colômbia. Havia um bonito pôr do sol, mas o resto daquele dia de fevereiro de 2003 foi marcado por medo e lágrimas.

A situação de segurança em sua cidade de origem, Granada, tem se deteriorado pouco a pouco desde 1995, com a chegada de um grupo armado ilegal na área e com crescente violência e deslocamento forçado. No dia três de novembro de 2000 um grupo armado matou 19 pessoas em Granada e nas áreas próximas, incluindo crianças, e no mês seguinte muitas partes da cidade foram destruídas e 23 pessoas foram mortas em ataques.

Por fim, a família de Francesca foi forçada a fugir para preservar suas vidas. “Nos deram pouco tempo para sair,” a menina de 11 anos escreveu em uma carta, em novembro passado, em apoio a uma nova e importante campanha de concientização do ACNUR. “Vendo a angústia de meus pais, eu chorei com eles sem saber de verdade o que estava acontecendo.”

Desde 2005, a situação tem se mantido relativamente estável e a família retornou à fazenda após aproximadamente um ano, encontrando a casa em ruínas e os campos cobertos de mato. “Tudo que tínhamos era coragem para retomar nossas vidas. Decidimos limpar o terreno e continuar trabalhando para recuperar a vida que um dia tivemos,” disse recentemente ao ACNUR.

Agora Francesca e outras vítimas de violência em Granada estão ajudando o ACNUR a conscientizar pessoas na Colômbia e outros países latinoamericanos sobre o sofrimento e a vida dos deslocados à força – incluindo os mais de três milhões dos deslocados internos colombianos – e a promover tolerância e compreensão.

A campanha multimedia do ACNUR “Vamos calçar os sapatos dos refugiados”, que coincide com as comemorações do aniversário de 60 anos do ACNUR (14 de dezembro de 2010), que foi lançada em um encontro internacional em Brasil sobre proteção de refugiados e outros assuntos. Para apoiar a campanha, que durará um ano, as pessoas literalmente estão calçando um par de sapatos. Várias celebridades já o fizeram.

Francesca entrou no espírito da campanha ao entregar um par de seus sapatos a um dos oficiais de alto cargo do ACNUR, Völker Turk, quando ele visitou Granada em novembro.Foi um gesto especialmente significativo para ela, por ser o primeiro par de sapatos que ela recebeu após fugir de casa, há vários anos.

“Eu fazia todos sorrirem com meus sapatos, por causa do barulho engraçado que faziam,” Francesca declarou ao ACNUR, acrescentando que “dessa maneira eu podia, até certo ponto, diminuir a dor causada por termos deixado nossa casa.”

Hoje, ela ocasionalmente ajuda o escritório do ACNUR em Medellin, a maior cidade em Antioquia, encontrando-se com visitantes como Turk e contando a eles sobre os desafios que as pessoas de Granada enfrentaram e as condições necessárias para que possam retornar a seus lares.

“Francesca é um símbolo representando todas as vítimas do conflito na municipalidade de Granada,” disse Teemar Kidane, que trabalha em assuntos de proteção no escritório do ACNUR em Medellín.

Há atualmente quase 750 mil deslocados internos no departamento de Antioquia. O ACNUR provê suporte técnico para as autoridades locais e monitora o bem estar das pessoas deslocadas. A agência para refugiados também está envolvida, na região, em projetos de moradia para indígenas que tenham sido deslocados.

*Nome mudado por razões de proteção.

Catalina Román em Bogotá, Colômbia

Para maiores informações sobre a campanha Sapatos, visite: http://www.ensuszapatos.org