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60 anos: Aniversariante relembra sua trajetória com ACNUR

Comunicados à imprensa

60 anos: Aniversariante relembra sua trajetória com ACNUR

60 anos: Aniversariante relembra sua trajetória com ACNURMads Madsen será um convidado de honra nas celebrações do aniversário de 60 anos do ACNUR em Genebra. O antigo soldado dinamarquês completa 60 anos hoje.
14 Dezembro 2010

KATHMANDU, Nepal, 14 de dezembro (ACNUR) – Mads Madsen será um convidado de honra nas celebrações do aniversário de 60 anos do ACNUR em Genebra. Como a Agência para Refugiados, o antigo soldado dinamarquês completa 60 anos hoje. Madsen, que hoje trabalha como consultor do ACNUR para segurança no terreno na cidade de Damak, no leste do Nepal, respondeu algumas perguntas enviadas pelo Oficial Assistente de Relações Externas do ACNUR, Nini Gurung, antes de voar para Genebra.

Conte-nos sobre seu trabalho.

Eu aconselho gerentes e funcionários sobre segurança e bem estar. Em termos práticos, eu os mantenho atualizados sobre a situação de segurança e sobre as implicações para a o bem estar e segurança de nossa equipe, nossos bens e atividades... Eu avalio os riscos e sugiro medidas apropriadas para garantir que possamos conduzir nossas operações sem a equipe sofra danos. Eu também faço relatórios de segurança e conduzo treinamentos para a equipe sobre esse tema.

Como você começou a trabalhar no ACNUR?

Eu era um oficial militar com um exército para tempos de paz, preparado para uma eventualidade que poderia nunca acontecer. Quando consegui uma proposta para participar de uma missão como observador militar da ONU na antiga Iugoslávia, em 1993 e 1994, agarrei a oportunidade... Foi uma experiência que mudou minha vida.

Consegui trabalhar com agências humanitárias como o ACNUR, que proveu assistência e ajudou a diminuir o sofrimento de refugiados e deslocados internos. Tinha muito respeito por aqueles trabalhadores humanitários e até os invejava. A ideia de me tornar um trabalhador humanitário começou a surgir quando trabalhei em várias missões da ONU. Finalmente, me integrei ao ACNUR em novembro de 2004 e minha primeira missão foi em Jalalabad [leste do Afeganistão].

Fale um pouco sobre seus trabalhos no terreno.

Jalalabad envolveu um grande programa de repatriação para milhares de refugiados afegãos no Paquistão, vindos de Khyber através da fronteira de Torkham. A situação de segurança era complicada e tínhamos problemas em acessar várias regiões do país. O risco de emboscadas, abduções e artefatos explosivos era constante.

Eu estava em Jalalabad quando protestos violentos ocorreram em meados de maio de 2005. As dependências da ONU foram atacadas, os dormitórios foram saqueados, destruídas e incendiadas. Todos os nossos funcionários internacionais perderam seus bens e tiveram que ser realocados em Kabul no mesmo dia. Devido ao sucesso da realocação, aquele evento se transformou em uma valiosa lição, e foi reconfortante saber que o sistema de segurança da ONU funcionou.

Minha segunda missão foi na Libéria de julho de 2005 até o final de 2006... Lá nós tínhamos vários desafios logísticos. Faltavam rodovias adequadas e pontes, os desafios eram maiores especialmente durante a estação de chuva.

Eu estou no Nepal desde janeiro de 2007 e planejo ficar até a minha aposentadoria, daqui a dois anos. Está sendo uma experiência maravilhosa. Há desafios de segurança e bem estar, mas são administráveis e sempre é um prazer fazer parte de operações em que se possa ver os resultados. Eu me sinto sortudo por ver os refugiados do Butão sendo reassentados [em terceiros países no ocidente] após terem vivido em campos por quase 20 anos.

Quais são os maiores desafios que você enfrenta no seu trabalho?

O maior desafio é encontrar um equilíbrio entre as medidas de segurança e bem estar e as demandas operacionais. Obviamente a segurança dos funcionários é preeminente… Nosso trabalho não é restringir atividades operacionais, mas apoiá-los – ao menos que não haja nenhuma outra saída.

Conte algumas de suas experiências mais marcantes.

Há várias, mas um pequeno episódio me deixou bastante impressionado. Após os protestos em Jalalabad, nós encontramos uma pequena imagem de Buda em um dos dormitórios que haviam sido destruídos. Pertencia a uma funcionária e eu ainda consigo me lembrar da sua alegria quando ela percebeu que o Buda estava intacto. Acho que ela percebeu aquilo como um sinal de que nada de mal iria acontecer a ela.

Outro caso mais recente foi o de uma funcionária que encontrou um morcego em seu quarto no meio da noite. Ela ficou extremamente assustada e tentou avisar o guarda. Entretanto, como ele tinha adormecido ela decidiu pedir ajuda pelo rádio que fica dentro dos quartos. Enquanto isso, os guardas de outras residências próximas à dela escutaram o pedido de ajuda pelo rádio e correram para sua casa. Mas quando eles chegaram o morcego já tinha conseguido sair sozinho do quarto. A mulher estava muito arrependida na manhã seguinte quando me contou o que tinha acontecido. Mas nós rimos muito juntos e encaramos aquilo como um bom exercício para testar nossas medidas de segurança.

Como é a questão da segurança em uma organização como o ACNUR?

A segurança é uma prioridade. Entretanto, é impossível trabalhar completamente sem riscos. Nós precisamos administrar os riscos com muita responsabilidade para que, nos casos em que os funcionários estejam expostos a grandes riscos, as medidas sejam tomadas para reduzi-los a níveis aceitáveis.

Quais são os erros mais frequentes cometidos pelos funcionários?

Complacência: a atitude “nada nunca aconteceu comigo e então não vai acontecer agora”. Frequentemente o senso comum e pequenas precauções são fundamentais para evitar imprevistos. A maioria dos incidentes, incluindo pequenos crimes, pode ser facilmente evitada. Em muitos casos, os funcionários apreciam a lógica e o raciocínio por trás de certas precauções de segurança, mas são omissos em seu cumprimento porque respeitá-las pode exigir algumas pequenas inconveniências. Por exemplo, as pessoas erram ao não carregar sempre com elas um rádio portátil.

Ficou mais perigoso trabalhar no terreno?

Eu acredito que sim. Em primeiro lugar nós já não nos beneficiamos da mesma proteção por sermos funcionários da ONU. Cada vez menos grupos percebem as Nações Unidas como neutra e imparcial, especialmente em países onde há missão da ONU. Muitos também percebem a ONU como uma organização ocidental e, portanto, vêem seus funcionários, dependências e bens como alvos legítimos... Mas eu também acredito que a segurança e o bem estar de nossa equipe se transformaram em uma prioridade, e isso foi bem vindo por todos.

Você está ansioso para se aposentar? Quais são seus planos?

Estou bastante ansioso para me aposentar. Todos os meus trabalhos no ACNUR, até agora, foram em locais de risco que não permitiam a presença da família. Fiquei longe de casa por quase 14 anos, embora visitasse a minha família de vez em quando. Mas eles me apoiaram enormemente e estou ansioso para fazer parte do dia-a-dia deles novamente.

Depois do Nepal, voltarei para a Dinamarca. Minha esposa e eu sempre fomos muito ativos durante nossos tempos livres – temos um veleiro. Também sou um pescador entusiasmo, adoro ler e comecei a tocar saxofone durante meus momentos de lazer no Nepal. Além disso, estou sou avô orgulhoso e ser avô inicia um capítulo novo em nossas vidas.

Do que você sentirá mais falta?

Dos colegas de trabalho e amigos. Eu tive o privilégio de trabalhar com as pessoas mais maravilhosas que se possa imaginar e algumas se transformaram em meus melhores amigos. Também sentirei falta de todo esse ambiente internacional, de visitar novos lugares... Mas podemos sempre viajar como turistas. O mundo ficou pequeno nos dias de hoje.