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Com “Rosa da Palestina”, refugiado é comerciante em Mogi das Cruzes

Comunicados à imprensa

Com “Rosa da Palestina”, refugiado é comerciante em Mogi das Cruzes

Com “Rosa da Palestina”, refugiado é comerciante em Mogi das CruzesEm 2003, preocupado com a evolução da guerra no Iraque e a perseguição contra comunidades palestinas no país, Bahá Ghazi tomou a decisão de deixar o país.
29 Novembro 2010

MOGI DAS CRUZES, Brasil, 26 de novembro (ACNUR) - Em 2003, preocupado com a evolução da guerra no Iraque e a perseguição contra comunidades palestinas no país, Bahá Ghazi tomou a decisão de deixar seu país e buscar proteção em outro país. Acabou aceito pela Jordânia, sendo alojado no campo de Ruweished, próximo à fronteira com o Iraque.

Seu pai também foi forçado a fugir, indo para outro campo entre a fronteira da Jordânia com o Iraque. Como resultado de uma operação coordenada pelas Nações Unidas, que unificou os refugiados palestinos destes dois campos, Bahá e parte da sua família se reencontraram em Ruweished, onde viveram por quatro anos.

“Quando estava no campo, sempre pedia ao ACNUR para sair de lá e ir para outro país. Queria me sentir vivo”, afirma Bahá, que chegou ao Brasil no final de 2007, como parte do grupo de 108 refugiados palestinos atendidos pelo Programa de Reassentamento Solidário.

“Morar em um campo é uma experiência horrível. Vivemos por vários anos em tendas improvisadas, em um lugar fechado controlado pela polícia, com frio, calor e poeira. Coisas simples, como ir ao banheiro ou tomar banho, eram tarefas bem complicadas. Aquilo não era vida”, recorda o iraquiano de origem palestina.

Mas quando deixou a Jordânia, Bahá estava consciente que enfrentaria dificuldades para recomeçar sua vida no Brasil, pois sabia dos problemas sociais e econômicos do país.  “Pela televisão, tinha visto muitas reportagens sobre o Brasil. Por um lado, sabia que era um país desenvolvido que tinha superado suas crises. Mas também sabia que aqui não havia experiência com refugiados palestinos e que seria difícil conseguir um bom emprego”, diz.

Filho de pais palestinos, Bahá era proprietário e chef de uma fábrica de doces árabes em Bagdá.  Desde criança ajudava o irmão mais velho, que também atuava no mesmo ramo. Por isso, sempre teve a idéia de abrir seu próprio negócio no Brasil. Mas ele enfrentaria vários desafios até inaugurar sua atual loja de artigos de decoração em Mogi das Cruzes, cidade do interior de São Paulo onde vive.

Assim como os demais refugiados palestinos atendidos pelo Programa de Reassentamento Solidário do governo brasileiro, Bahá foi alojado em uma casa equipada com móveis e aparelhos eletrodomésticos assim que chegou ao país, passando a receber uma bolsa financeira de subsistência mensal e a freqüentar aulas gratuitas de português – entre outros serviços oferecidos pelo pacote de assistência estabelecido pelo ACNUR.

Três meses após se estabelecer em Mogi das Cruzes, Bahá tentou abrir uma loja de doces árabes na cidade vizinha de Santo Amaro. Mas a iniciativa não prosperou, e ele retornou a Mogi, onde abriu uma loja de artigos populares no centro da cidade. Com uma margem de lucro muito pequena, também não conseguiu sustentar este novo empreendimento.

Abatido, ficou parado em casa sem trabalhar por mais de um ano. Mas por ser um lutador nato que reconhece a importância do trabalho como uma ferramenta de integração econômica e cultural, decidiu enfrentar a situação e abriu, há 18 meses, uma nova loja: desta vez, de objetos de decoração. O nome do empreendimento não deixa dúvidas quanto às raízes do proprietário: “Rosa da Palestina”.

“Trabalhar é sempre bom. Se não tivesse a loja, falaria muito menos português. Para atender os clientes, preciso praticar o idioma e aprender os nomes dos objetos que vendo. O trabalho também me ajudou a fazer contatos e novas amizades. Além disso, a atividade comercial ensina muito sobre o funcionamento de uma sociedade”, avalia o comerciante, que contou com empréstimos de pequeno valor obtidos por meio de instituições de micro-crédito do país e do próprio Programa de Reassentamento Solidário.

Apesar da relativa facilidade que encontrou para abrir o negócio, mantê-lo está sendo uma experiência desafiadora. “Sofro bastante para conquistar a clientela. O poder aquisitivo dos moradores não é alto, e a maioria das pessoas que entra na loja só olha e não compra nada. Isso é frustrante”, analisa Bahá. Mesmo assim, ele tem conseguido realizar algumas vendas e manter o negócio em funcionamento. Seu processo de integração local é acompanhado pela equipe do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) de Guarulhos, organização parceira do Programa de Reassentamento Solidário.

Mesmo inseguro em relação ao futuro do seu empreendimento comercial, Bahá ressalta o otimismo dos brasileiros, “que dizem sempre que a vida vai melhorar”. Para ele, o cotidiano de um comerciante é difícil. “Não tenho férias há três anos. Mas tive sorte de conseguir uma loja, coisa que é impossível para muitos brasileiros. Se eu não tivesse essa loja, eu teria o que? Você precisa tentar e ter coragem na vida”, ensina o refugiado.

Janaina Galvão, em Mogi das Cruzes (SP)