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Refugiados angolanos mostram sua arte no evento Revelando São Paulo

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Refugiados angolanos mostram sua arte no evento Revelando São Paulo

Refugiados angolanos mostram sua arte no evento Revelando São PauloUm processo histórico de miscigenação derivado de fluxos migratórios criou uma diversidade cultural no Brasil que facilita a integração de estrangeiros no país.
14 Setembro 2010

SÃO PAULO, Brasil, 14 de julho (ACNUR) – Um processo histórico de miscigenação derivado de fluxos migratórios criou uma diversidade cultural no Brasil que facilita a integração de estrangeiros no país. Um bom exemplo desta integração são os refugiados angolanos Bantu Tabasisa e Tandu, que participam desde a semana passada no evento “Revelando São Paulo”, mostrando sua arte de inspiração africana para um público estimado em um milhão de pessoas.

Tandu chegou em 2001, por não concordar com o alistamento militar obrigatório em Angola, e Bantu deixou sua terra natal há 17 anos, por causa do conflito interno que afetava seu país. Ambos foram convidados a participar do “Revelando São Paulo”, que busca reunir e celebrar a diversidade cultural e artística do mais importante estado brasileiro. O evento é um grande encontro da cultura paulista, reunindo manifestações artísticas de 200 municípios do estado.

Tandu é pintor autodidata e se dedica à arte desde 1992, dominando especificamente as técnicas de areia sobre tela, raspagem e obras talhadas por espátulas. “Minha inspiração são as mulheres africanas e a árvore Balbá, que é típica do continente. Lá tem muito sol, e essas árvores nos oferecem sombra e alívio.”

Bantu é o coordenador do Grupo Cultural Tribo Bakongo Kingoma da África, que representa a África por meio de artes plásticas, percussão, dança, canto, peças teatrais e culinária. Como pintor, Bantu prefere a técnica de óleo sobre tela e se especializou em retratos, encontrando inspiração nas tribos africanas de diferentes países. “O bom do meu trabalho é poder divulgar a cultura de todo o continente, e não só de Angola. Os brasileiros afro-descendentes desconhecem a história e o vínculo que têm com a África. Por meio da arte e de palestras, ajudo a combater a ignorância e a indiferença que muitos afro-descendentes têm com relação à nossa cultura.”

Ao participar do “Revelando São Paulo”, os refugiados demonstram que já são parte da sociedade brasileira.  “Fico feliz por estar reunido com tantos artistas brasileiros, compartilhando nossa arte e nossas aspirações. No mesmo local onde eles expõem sua cultura, eu exponho a do meu país”, afirma Tandu.

Para o diretor artístico do “Revelando São Paulo”, Toninho Macedo, a participação dos refugiados angolanos tem um valor especial, pois a Organização Social Abaçaí, organizadora do evento, tem um vínculo histórico com a integração de refugiados em São Paulo. “No final dos anos 70, a Abaçaí recebia refugiados do Chile, da Argentina e do Uruguai para mitigar a dor da solidão por meio da música e da dança”, afirma. Para ele, a participação de Tandu e Bantu no evento é uma prova de que São Paulo é uma cidade de oportunidades, capaz de acolher e integrar aqueles que nela chegam para começar uma nova vida. “Muito do que está sendo exibido aqui no festival é uma herança da cultura africana”, comenta o diretor.

Bantu e Tandu expõem seus trabalhos em um stand organizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, que é parceria da agência no projeto de assistência e proteção a refugiados na cidade. Embora já trabalhassem com arte na Angola, recomeçar em outro país não foi fácil. Eles tiveram dificuldades financeiras para se manter em São Paulo e para exercer suas atividades artísticas. Ambos foram apoiados pela Cáritas e pelo ACNUR e, graças ao seu esforço individual, conseguiram vencer as dificuldades.

“Viver de arte no Brasil é difícil, você tem que fazer um nome, mas devagar vou levando a vida. Assim que cheguei, retomei meu trabalho como artista plástico. Com a ajuda da Cáritas e do ACNUR, comprarei o material básico para voltar a pintar. Também entrei em contato com artistas brasileiros que me apoiaram muito”, diz Tandu.

O ACNUR foi criado em 1950 para proteger e assistir às vítimas de perseguição, intolerância e violência. Atualmente, mais de 35 milhões de pessoas estão sob seu mandato, entre solicitantes de refúgio, refugiados, apátridas, deslocados internos e repatriados. Por meio do projeto implementado com a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, atende atualmente cerca de 1,8 mil pessoas.

De acordo com as estatísticas do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) referentes a julho deste ano, o país abriga cerca de 4.300 refugiados de 78 nacionalidades diferentes. A maioria é proveniente da África (65%), seguida pela região das Américas (22,16%), da Ásia (10,41%) e da Europa (2,27%). As nacionalidades com maior representatividade entre os refugiados reconhecidos são os angolanos (39,21%), colombianos (13,68%), congoleses (9,98%), liberianos (6,01%) e iraquianos (4,66%).

Saiba mais sobre o “Revelando São Paulo” em http://www.abacai.org.br  

Janaína Galvão, em São Paulo