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Sociedade civil apoia o acolhimento e integração de pessoas refugiadas do Afeganistão no Brasil

Comunicados à imprensa

Sociedade civil apoia o acolhimento e integração de pessoas refugiadas do Afeganistão no Brasil

11 Novembro 2022
Sayed (ao centro) posa com a família para foto, evidenciando as gerações de uma mesma família em busca de proteção no Brasil. (© ACNUR/Vanessa Beltrame)
Brasília, 11 de novembro de 2022 – Quando a crise humanitária no Afeganistão se deteriorou, em 2021, Sayed, 49 anos, reuniu as economias de uma vida toda trabalhando como chef de cozinha e decidiu buscar um lugar seguro para viver com a esposa Fatima, 45 anos, quatro filhos e o genro. No Brasil desde fevereiro deste ano, a família foi beneficiada com o visto humanitário emitido pelo governo brasileiro para pessoas de nacionalidade afegã, apátridas e de outras nacionalidades que tenham sido afetadas pela crise humanitária naquele país.

A família vive no entorno do Distrito Federal e, com apoio do Instituto Filhos do Brasil, braço social da Igreja Comunidade das Nações, teve acesso a aulas de português, a apoio financeiro e ao mercado de trabalho formal. Sayed está empregado como auxiliar de serviços gerais em um restaurante, e o genro, Ehsan, 27 anos, trabalha como alfaiate para uma marca de roupas. A filha mais velha, Zubaida, 22 anos, noiva de Ehsan, que é costureira, está em busca de colocação no mercado da moda, enquanto os três filhos mais novos  frequentam o Ensino Médio.

A caçula da família é a que mais domina o novo idioma. Ela conta que os colegas de escola têm curiosidade sobre a cultura do Afeganistão, assim como a religião e, também, a situação de segurança. Fazer novas amizades e conhecer pessoas é o que a menina mais gosta no Brasil. “As pessoas brasileiras são muito legais conosco”, diz ela.

Em São Paulo, outra iniciativa de apoio às famílias e pessoas do Afeganistão foi promovida pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo, organização parceira da Agência da ONU para Refugiados que tem atuado na linha de frente da recepção dos afegãos e também na acolhida e integração.

“A Caritas São Paulo é uma instituição que nos apoia muito, provendo o que mais precisamos nesse momento tão difícil que é a chegada: moradia, alimentação auxílio financeiro, orientação jurídicos e encaminhamento para questões de saúde. É um trabalho fundamental para que nos sintamos em casa e possamos viver uma vida independente”, afirma Qader, afegão de 29 anos que trabalhava no Conselho Consultivo Jurídico da capital Cabul. Ele chegou há três meses no Brasil com sua mãe e três irmãs.

Encontros comunitários

Na última semana de outubro, a Caritas São Paulo promoveu um encontro com cerca de 50 afegãos de diferentes etnias, recém-chegados ou que já viviam no Brasil, com o objetivo de compartilhar informações essenciais no Brasil, como o funcionamento do Sistema Público de Saúde, os meios de transporte público, modelos de contrato de trabalho e outras referências de serviços públicos e do terceiro setor de apoio aos refugiados.

“Essa formação que estamos tendo é muito importante porque a realidade que vivenciamos no Brasil é muito diferente da que temos no Afeganistão em termos de acesso aos serviços de apoio. Eu tive que aprender muita coisa perguntando mesmo, até para quem eu não conhecia, mas ter essas informações para quem chega facilita muito a compreensão de como as coisas funcionam por aqui”, disse Bari, psicólogo afegão de 27 anos que há três anos vive no Brasil.

Também em outubro, a família de Sayed participou de um encontro com outras pessoas afegãs que vivem no Distrito Federal e entorno, ocasião em que puderam compartilhar experiências sobre o processo de integração, trocar informações e conversar sobre os desafios encontrados.

Juízas afegãs que foram acolhidas em Brasília pela Associação dos Magistrados Brasileiros em 2021, cofundadoras do Instituto SHE (Sustainable Humanitarian Empowerment), também participaram do encontro. Elas viram na ocasião uma oportunidade para a colaborar com os compatriotas e reforçar sua própria integridade cultural à medida que constroem uma nova jornada no país.

“O encontro foi muito importante e enriquecedor para todas nós. Promover a integração social com outros afegãos que chegaram em condições de vulnerabilidade nos fez entender ainda mais a nossa responsabilidade social como juízas e cofundadoras do SHE. De alguma forma, restabeleceu nosso senso de pertencimento, mesmo em uma sociedade diferente da que viemos”, manifestou o grupo de juízas.

Para o pastor José Avando, do Instituto Filhos do Brasil, a integração entre as juízas afegãs e as famílias que estão sendo acolhidas pelo projeto é importante para estreitar laços de entendimento e amizade entre a própria comunidade afegã. “Entendemos que estamos no caminho certo no sentido de apoiar os afegãos que estão conosco e os migrantes de uma forma geral”, afirmou.

Em outubro e novembro, o ACNUR, em parceria com a Organização da ONU para as Migrações (OIM) e os Ministérios das Relações Exteriores, Justiça e Segurança Pública e Cidadania, promoveu um ciclo de capacitações para as organizações da sociedade civil que prestam assistência a beneficiários de vistos humanitários. Mais de 60 participantes de 35 organizações participaram de sessões presenciais e virtuais.

“Várias dessas organizações iniciaram recentemente o contato com as temáticas de proteção a pessoas refugiadas. Por isso, além do suporte técnico, esperamos que este se torne um espaço para criação de redes de apoio e de coordenação entre elas. Tivemos um feedback positivo dos participantes e esperamos continuar com as capacitações no próximo ano”, afirmou a Oficial Assistente de Reassentamento do ACNUR Brasil, Andrea Zamur.

O ACNUR, as diferentes instâncias do poder público (prefeituras, estado e município) e organizações parceiras têm atuado na acolhida e proteção da população afegã no Brasil. De setembro do ano passado até o momento, mais de 2,7 mil atendimentos foram realizados – beneficiando cerca de mil pessoas afegãs.

O ACNUR tem custeado a abertura de vagas emergenciais de abrigamento, apoiado a contratação de mediadores culturais e promovido a formação de agentes comunitários e cursos de português. É possível apoiar os esforços em apoio às pessoas refugiadas do Afeganistão por meio de doações.

A família de Sayed participou de um encontro com outras pessoas afegãs que vivem no Distrito Federal. © ACNUR/Vanessa Beltrame