Curso de segurança simula multidões furiosas, balas e campos minados
Curso de segurança simula multidões furiosas, balas e campos minados
TÓQUIO, Japão, 14 de Julho (ACNUR) - Os tiros que vocês verão são reais. As balas são mortais e as suas ações durante o tiroteio podem fazer a diferença entre a vida e a morte. Essas são as mensagens que 32 agentes humanitários ouvem quando se preparam para partir e testemunhar uma demonstração de tiros ao vivo em um ateliê organisado pelo eCentre do ACNUR, em Tóquio.
Esse não é um ambiente escolar típico. Em uma semana acelerada de treinamento há poucas aulas e ainda menos pausas para descanso. Os dias começam às seis e meia da manhã com comunicações de rádio e termina pela noite com um exercício de GPS. Exercícios de campo organisados numa base militar Tailandesa expõem os participantes a tensos pontos de inspecção, multidões hostis, campos minados e efeitos de balas reais.
“Estamos tentando simular a vida real num ambiente amistoso para dar aos agentes humanitários uma oportunidade de praticar e aprender por eles mesmos quais são os procedimentos corretos”, diz Hani Abu Talebn, instrutor humanitário do Centro Regional para Treinamento de Emergência em resposta humanitária internacional ou eCentre.
Instituído pelo ACNUR em 2000 com ajuda do governo japonês, o eCentre tem como objetivo o treinamento de trabalhadores humanitários na região Ásia-Pacífico para responder a emergências. Isso inclui exercícios de campo realistas que preparem os funcionários para trabalhar em ambientes inseguros. Como Abu Taleb diz “não importa o quanto você lê sobre isso, a experiência real é uma outra história”.
Ninguém sabe melhor isso do que Sabirullah Memlawal, o administrador chefe do Centro Internacional de Voluntários do Japão (JVC), uma ONG que trabalha no Afeganistão. Memlawal participou do ateliê em gestão de emergências em outubro passado e algumas semanas depois teve seu conhecimento testado quando foi capturado numa emboscada armada numa estrada perto de Jalalabad, na parte leste do Afeganistão.
“Quando o nosso veículo estava atravessando um comboio de tanques de combustível, o Talibã abriu fogo usando lançador-propelente de granadas e outras armas pesadas”, diz Memlawal.
Felizmente ele e os outros que estavam junto mantiveram a calma e responderam rapidamente. Nós usamos os conselhos de segurança ensinados no ateliê”, ele continua, “eu disse que todos deveriam deitar no chão e não se mexer. Quando o tiroteio acabou nós fomos para uma área segura. Então contactei meu escritório”. A resposta rápida de Memlawal permitiu que todos de seu time voltassem seguros para casa.
Desde sua fundação em 2000, o eCentre treinou mais de 2.700 funcionários de ONGs, funcionários públicos, trabalhadores da ONU e outros trabalhadores de emergência da região Ásia-Pacífico, bem como de outras regiões. Em junho deste ano, o ACNUR e o Ministério das Relações Exteriores do Japão celebraram o décimo aniversário do eCentre promovendo conjuntamente um simpósio em Tóquio para fortalecer a prevenção regional na matéria.
Altos funcionários participaram do evento, como Sadako Ogata, presidente da Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA) e antiga Alta Commissária das Nações Unidas para os Refugiados. “Durante os últimos dez anos, o eCentre tem contribuído para fortalecer a capacidade de organisações internacionais, agências governamentais e ONGs, na região Ásia-Pacífico, afim de preparar e responder a emergências humanitárias”, ela disse.
O ministro das relações exteriores do Japão, Katsuya Okada, em um discurso preparado e lido em sua ausência, acrescentou : “Não é exagero dizer que os eforços do eCentre têm aumentado as capacidades do Japão para a ação humanitária”.
Qual conselho Memlawal tem a dar para outros agentes humanitários que se deparam com incidentes como ao qual sobreviveu ? “Na minha opinião, agentes humanitários devem primeiramente tentar evitar tais situções demonstrando neutralidade”, ele disse. “Mas se alguma coisa acontecer, eles devem saber as técnicas de segurança específicas. Todos que trabalham nesse tipo de ambiente devem receber treinamento básico”.
O eCentre ACNUR é apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores do Japão, pela Agência Japonesa de Cooperação Internacional e pela Agência Australiana para o Desenvolvimento Internacional (AusAID).
Michael Dell'Amico de Tóquio, Japão.