ACNUR atinge recorde na reinstalação de refugiados iraquianos

AL HASSAKEH, Síria, 18 de junho (ACNUR) – O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, anunciou na sexta-feira que o ACNUR encaminhou para reassentamento 100 mil refugiados iraquianos localizados em países do Oriente Médio, desde 2007.

Enquanto valoriza este novo marco, Guterres disse que mais precisa ser feito. "Cem mil submissões de refugiados iraquianos é uma tremenda realização. Muitos têm vivido no limbo durante anos. Este será cada vez mais o caso se os Estados não continuarem acolhendo refugiados iraquianos para o reassentamento", disse Guterres.

Ele também instou aos países de abrigo "a facilitar o embarque rápido dos refugiados que eles aceitaram como reassentados"

Dos 100.000 pedidos de refugiados iraquianos, o número de partidas até maio de 2010 foi de cerca de 50%, ou 52.173 indivíduos. Em 2007, cerca de 3.500 iraquianos partiram para terceiros países na região. Os controles de segurança demorados e o tempo gasto para o estabelecimento de procedimentos pelos Estados levaram a atrasos consideráveis na partida de refugiados para suas novas casas.

Guterres fez o importante anúncio durante uma visita oficial à Síria, onde se encontrou com refugiados e conversou com funcionários do governo. Mais tarde, sentado no meio dos refugiados, ele também falou ao vivo por uma hora, desde Al Hassakeh, com Washington, DC, e com cidades no norte do Equador e na República Democrática do Congo, através de um link feed.

Aproximadamente 45% dos refugiados iraquianos (43.223 indivíduos) se apresentaram para o reassentamento na Síria.

O relatório do ACNUR Tendências Globais 2009, divulgado no dia 15 de junho, ressalta que os iraquianos constituem um dos maiores grupos de refugiados no mundo, com cerca de 1,8 milhões procurando refúgio no exterior, principalmente na Síria, Jordânia, Líbano, Egito e Turquia. As estimativas do governo sírio indicam que há um milhão de refugiados no país, a maioria vinda do Iraque.

A repatriação voluntária durante o ano de 2009 atingiu seu ponto mais baixo em 20 anos, com cerca de 251.500 retornos, dos quais apenas 38.000 eram iraquianos.

"A resistência crescente de conflitos resulta em uma proporção maior de refugiados os quais são incapazes de regressar às suas casas", disse Guterres, observando que os grandes conflitos no Afeganistão, Sudão e República Democrática do Congo não mostram sinais melhora, enquanto “conflitos que esperávamos estar a caminho de serem resolvidos estão estagnando.”

O Alto Comissário, que está na Síria para participar de atividades Dia Mundial do Refugiado, passou a maior parte do dia se encontrando com refugiados na província de Al Hassakeh e ouvindo suas histórias de sofrimento e as suas frustrações.

"Tudo que eu quero é me sentir seguro, e que o nosso país se estabilize para que possamos pôr fim a anos de exílio e voltar para casa", disse Issa, 55, um refugiado de Mosul, enquanto as lágrimas desciam por seu rosto. "Mas as condições não melhoram, não podemos voltar para casa", acrescentou sua esposa Zahra.

"Eu prometo a vocês que quando as condições no Iraque se estabilizarem e a situação de segurança melhorar, o ACNUR irá ajudá-los a retornar para suas casas", disse o Alto Comissário à família.

Sentado no chão com os membros de uma família de iraquianos que buscaram refúgio na Síria em 2006, Guterres se juntou mais tarde à Secretária de Estado dos Estados Unidos Hillary Clinton e à Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR Angelina Jolie no evento do vídeo global ao vivo.

Ele também visitou o acampamento Al-Hol, onde cerca de 500 refugiados palestinos têm vivido desde que fugiram da violência e da perseguição no Iraque. Guterres assistiu à participação de crianças refugiadas em uma dança tradicional palestina no calor sufocante do deserto. "Chega de exílio, chega de mortes", disse uma criança, recitando um poema.

Durante o almoço com o Alto Comissário, refugiados queixaram-se das condições extremamente duras no deserto. Al Hassakeh sofreu uma seca durante os últimos quatro anos. Além da escassez de água, os refugiados disseram que não conseguiam dormir à noite por medo de serem mordidos por escorpiões e cobras venenosas letais.

Guterres visitou refugiados iraquianos que vivem em Damasco no Dia Mundial do Refugiado e se reuniu com o presidente sírio, Bashar Assad, e participou de um dia aberto para os refugiados em Damasco.

Por Wafa Amr Dakhlallah, Farah e Dalia Ach-al em Al Hassakeh, Síria