Sírios enfrentam desespero e perigos na tentativa de chegar à Grécia
Sírios enfrentam desespero e perigos na tentativa de chegar à Grécia
ATENAS, Grécia, 03 de Fevereiro de 2015 (ACNUR) - Oito homens sírios e palestinos estão sentados em um porão em Atenas e partilham histórias sobre suas fugas da guerra na Síria e as tentativas de alcançar a segurança na Europa. Cada refugiado possui uma história diferente para contar, mas todos compartilham de uma ameaça comum de desesperos e riscos frente à travessia para Grécia.
Ahmed* conta aos outros que ele tentou chegar à Grécia a noite pela Turquia em um barco que transportava 34 outros refugiados sírios, incluindo quatro pequenas crianças e dois deficientes. De repente, em meio à escuridão, um navio da guarda costeira grega apareceu e homens mascarados embarcaram em seu barco, removeram o motor e o jogaram no mar.
Quando Ahmed e alguns outros sírios tentaram subir no barco da guarda costeira, eles espancados. "Dissemos a eles que éramos sírios, que se eles nos enviarem de volta, morreremos lá. Eles responderam 'Morram, mas não venham aqui'", lembra ele. Ninguém na sala pareceu horrorizado ou mesmo surpreso. E os outros riram de Ahmed ao contar como sua cabeça estava tão inchada da surra que mais tarde ele foi hospitalizado.
Isso foi depois que o barco de Ahmed ter sido rebocado para águas turcas, onde foram deixados à deriva até serem encontrados pela guarda costeira turca. Era a terceira tentativa de Ahmed para chegar à Grécia pela Turquia. Em maio, ele atravessou o rio Evros com dois amigos e chegou a cidade de Orestiada antes de ser preso enquanto comprava bilhetes de trem para Atenas. Os três foram detidos brevemente e enviados de volta através do rio para a Turquia.
Sua segunda tentativa, alguns dias depois, foi abandonada porque o rio estava muito alto e perigoso para atravessar. Em junho, ele fez uma quarta tentativa em um barco com destino à ilha grega de Samos. Desta vez, a guarda costeira grega apanhou-os e levou-os para Samos, conseguindo tratamento hospitalar para dois sírios doentes a bordo.
Mas para aqueles que fazem a travessia à Grécia depois de fugir de perseguições e violência em lugares como a Síria, Afeganistão, Somália e Iraque, a vida é dura. Os oito homens que vivem no pequeno quarto no subsolo de Atenas chega a pagar 400 euros por mês entre eles e dormem em colchonetes. Ninguém tem emprego fixo e eles não sabem como vão pagar o aluguel do próximo mês.
Nenhum deles tem a intenção de permanecer na Grécia. Muitos planejam ir para países como Alemanha e Suécia. Mas o caminho a diante traz muitos obstáculos.
Radwan*, 23 anos de Damasco, quer ir para a Suécia ou Noruega. Em junho passado, Radwan conta que ele e outros dois foram presos e detidos perto da fronteira com a Sérvia depois de atravessar o norte da Grécia para a antiga República da Macedónia. Agora, de volta em Atenas, ele diz que pretende tentar sair novamente - para qualquer lugar, menos a Grécia.
Apesar de seu sofrimento, os homens reconhecem as dificuldades que enfrentam, e muitos gregos também. "As pessoas são muito agradáveis e é uma bela cidade, mas a situação é muito ruim", diz o mais velho dos oito, Farid*, que está na casa dos quarenta. Ele tem cinco filhos na Síria para sustentar e eles agora vivem com outros membros da família, enquanto ele tenta encontrar uma maneira de trazer alguma estabilidade para suas vidas.
Advogado de profissão, Farid* conta que sua vida na cidade de Homs, Síria ocidental, antes da guerra era muito boa. Mas dois ou três anos atrás, ele diz: "Perdemos tudo. Nós perdemos nossos empregos, não tivemos nenhuma renda ou recursos." Ele vendeu a casa da família e o carro, para pagar uma parte do dinheiro para um traficante na Turquia, para levá-lo até a Grécia. Agora ele está tentando encontrar uma forma de ir para a Suécia.
Em alguns aspectos, os oito homens em Atenas são sortudos. Num outro grupo, jovens sírios bebem chá na cidade turca de Izmir e esperam para fazer a travessia para à Europa, contam estórias de tentativas fracassadas.
Sem final à vista para a crise síria, e com poucas formas legais disponíveis de se entrar na Europa, mais e mais pessoas vão continuar realizando a perigosa viagem através do mar da Turquia para à Grécia ou da África do Norte até o sul da Europa em busca de estabilidade, segurança, reunião da família e uma oportunidade para apoiar os membros da família na volta para casa.
*Nomes alterados por motivos de proteção.