Close sites icon close
Search form

Search for the country site.

Country profile

Country website

Colômbia: Comunidades afrodescendentes deslocadas no sul do país

Comunicados à imprensa

Colômbia: Comunidades afrodescendentes deslocadas no sul do país

Colômbia: Comunidades afrodescendentes deslocadas no sul do paísOs repetidos deslocamentos massivos estão a esgotar as capacidades físicas e emocionais das comunidades Afrocolombianas da bacia do rio Tapajós, no sul da Colômbia.
7 Setembro 2009

BOGOTÁ, Colômbia, 7 de Setembro (ACNUR) - Os repetidos deslocamentos massivos estão a esgotar as capacidades físicas e emocionais das comunidades Afrocolombianas da bacia do rio Tapajós, no sul da Colômbia, uma das áreas mais atingidas nos últimos anos pelo conflito que se vive no país.

Estas comunidades fazem parte do município de El Charco, do departamento de Nariño, e no final de Agosto iniciaram o seu quarto deslocamento em massa de 2009, sintomas de elevados níveis de tensão que se vivem desde há uns anos nesta área onde, em 2007, mais de 7 mil pessoas protagonizaram o segundo maior deslocamento na Colômbia em toda esta década.

Uma missão do ACNUR que visitou El Charco a semana passada constatou as difíceis condições em que se encontram mais de 700 pessoas deslocadas, apesar de estarem a receber ajudas de emergência, principalmente alimentos, por parte do Governo colombiano. Na aldeia de El Castigo, a uma hora de barco da cidade de El Charco e onde está concentrada a maioria dos deslocados, uma grande parte deles dormiam em tábuas de madeira cuja finalidade inicial era servir de mesas de refeição na escola desta comunidade.

No entanto, a principal preocupação associa-se com a frequência dos deslocamentos, o que gera uma elevada tensão entre os aldeões. Já este ano se tinham registado deslocamentos massivos em Março, Abril e Junho. O último tinha terminado apenas um mês antes da ocorrência dessa nova mobilização da população.

Fazia apenas um mês que havia terminado o anterior deslocamento. Quando voltei para a minha casa era quinta-feira 20 de Agosto. No sábado, logo após 3 dias, houve um outro tiroteio e tivemos que correr de novo", conta Julia *, uma mulher de pouco mais de 30 anos deslocada de El Castigo.
A maioria das 700 pessoas registadas no último descolamento em El Charco encontram-se numa zona chamada El Castigo, a um pouco mais de uma hora da cidade.

As comunidades mais afectadas pelos últimos deslocamentos são as da zona de Pulvuza, onde frequentemente ocorrem confrontos entre as forças militares colombianas e um grupo armado irregular. Embora muitas vezes a intensidade dos combates seja baixa, a tensão que geram é insuportável para os civis. Os mesmos deslocamentos que são feitos para protecção também geram tensão.

 Jairo, um jovem membro dos conselhos comunitários (autoridades nas comunidades afrocolombianas), tem menos de 25 anos e uma filha de apenas 3. "Estou muito frustrado", diz ele, com lágrimas que se reflectem no seu rosto. "Todo o tempo temos procurado ajudar para que as coisas se façam, para que estejamos melhor, mas isto é demais. Estão a fazer a minha vida em pedaços. Eu plantava bananas, plantava frutas da zona, mas já não semeio nada. Para que semear se não vou poder colher?

Para o ACNUR, o desafio consiste em apoiar as autoridades locais e nacionais para melhorar a prevenção de deslocamento como o cuidado para com as vítimas, neste contexto de ansiedade.

A agência da ONU para os refugiados apoiou a elaboração de um plano de contingência para lidar com os deslocamentos em massa, tem acompanhado o fortalecimento técnico dos conselhos da comunidade e está a estudar qual das muitas necessidades da área pode investir recursos através de projectos rápidos de protecção, destinados a produzir impactos imediatos sobre as necessidades pontuais.

Actualmente vivem em El Charco cerca de 100 famílias que não retornaram após o grande deslocamento de 2007, metade deles em dois abrigos que não reúnem condições de habitabilidade.

Uma equipa do ACNUR, em conjunto com o gabinete do Estado colombiano de identificação (Registro Nacional), participou precisamente na semana passada de uma campanha para entregar documentos de identidade às pessoas deslocadas, que os requerem para aceder a programas de ajuda do governo, e as comunidades em risco de deslocamento.

“No entanto, estamos conscientes de que é preciso mais", disse Roberto Mignone, representante da ACNUR para a Colômbia." Precisamos de estratégias mais amplas de prevenção e protecção, estratégias que ajudem as comunidades sentir-se acompanhadas. Nós vamos continuar a trabalhar, apesar das dificuldades, para conseguir-lo".

Por Gustavo Valdivieso
Em El Charco, Departamento de Nariño, Colômbia.

* Os nomes foram alterados por motivos de protecção.