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Um ano depois, refugiados palestinos reconstroem suas vidas no Brasil

Comunicados à imprensa

Um ano depois, refugiados palestinos reconstroem suas vidas no Brasil

Um ano depois, refugiados palestinos reconstroem suas vidas no BrasilBrasília, 24 de setembro de 2008 – Um ano após desembarcarem no Brasil vindos de um campo no deserto da Jordânia, 108 refugiados de origem palestina que viviam no Iraque estão reconstruindo suas vidas em diferentes cidades brasileiras.
23 Setembro 2008

Brasília, 24 de setembro de 2008 – Um ano após desembarcarem no Brasil vindos de um campo no deserto da Jordânia, 108 refugiados de origem palestina que viviam no Iraque estão reconstruindo suas vidas em diferentes cidades brasileiras.

Muitos já se comunicam em português – principalmente crianças e jovens. Vários estão trabalhando e estudando. Outros ainda enfrentam dificuldades no processo de integração. E todos celebram a hospitalidade da população local e a liberdade conquistada em um novo país.

“Os brasileiros são solidários e receptivos. Mesmo com problemas de comunicação, as dificuldades de integração são quase nulas”, conta o pintor e marcineiro Yossef Al Manasir, 62 anos, que vive no Rio Grande do Sul e trabalha como autônomo. “Minhas crianças gostam da escola e  terão um bom futuro no Brasil”, avalia Rana Issam Aljabaw, mãe de três filhos. “Já tenho muitos amigos. As pessoas ajudam muito”, conta Ali Abu Taha, 19 anos, que está jogando em um time de futebol profissional de Brasília.

Os refugiados tiveram que deixar o Iraque após a queda do regime de Saddan Hussein, pois eram persguidos por milícias sectárias. Em 2003, chegaram à fronteira jordaniana e foram alojados em um campo de refugiados no deserto, a 70 quilômetros do Iraque. No campo de Ruweished, sobreviveram em condições precárias e só saíram de lá quatro anos depois, para serem reassentados no Brasil, onde chegaram entre setembro e outubro de 2007.

Hoje, são atendidos pelo Programa de Reassentamento Solidário implementado pelo governo federal em parceria com o ACNUR e organizações da sociedade civil.  O grupo está espalhado por quatro estados brasileiros e já soma 112 pessoas, pois quatro bebês nasceram desde a chegada no Brasil.

Apesar das dificuldades próprias do processo de integração em uma nova cultura, os refugiados palestinos valorizam a convivência cotidiana entre diferentes grupos religioso, étnicos e sociais.

“Aqui não existem diferenças entre religiões e há mais humanidade. Tenho parentes em outros países onde não há esse respeito, pois muitas pessoas puxam os véus das mulheres mulçumanas na rua”, conta a iraquiana Huda Altamimi, 29 anos, que está no interior de São Paulo com o marido e dois filhos palestinos. Vivendo na mesma cidade com seu pai, o jovem Ahmad, 24 anos, ressalta a inexistência de preconceitos. “Trabalhamos num restaurante arábe, mas por razões religiosas não podemos tocar ou servir bebidas alcoólicas. Os colegas respeitam isso e fazem essa parte do serviço para nós”, explica ele.

Durante dois anos, os refugiados palestinos beneficiados pelo Programa de Reassentamento Solidário contam com auxílio-subsitência, casa alugada e mobiliada, orientação psicossocial, assistência médica e odontológica, tradutores, aulas de português e cursos profissionalizantes. Como refugiados reconhecidos pela lei brasileira, todos têm direito a documento de identidade, carteira de trabalho, passaporte, e também aos serviços públicos (saúde, educação, habitação etc). Têm acesso a microcrédito para pequenos negócios e assistência para reunião familiar com parentes que estão fora do Brasil.

“O programa brasileiro de reassentamento é o mais avançado da América Latina, e os refugiados palestinos vítimas do conflito iraquiano estão entre as populações mais vulneráveis do ponto de vista humanitário. Com o reassentamento destes refugiados, o Brasil reafirma seu comprometimento com os direitos humanos e a defesa dos refugiados”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, Javier Lopez-Cifuentes. Para ele, o Brasil “oferece as condições para que os refugiados superem as dificuldades do processo de integração e reconstruam uma nova vida em paz”.

“Quero agredecer ao Brasil por ter aberto suas portas para nós”, afirma Yossef, que pinta quadros com países da sua terra natal para minimizar as saudades que sente da Palestina. “Vou continuar morando no Brasil, e trazer minha noiva para aqui”, planeja o jovem Ahmad. “Não queremos continuar refugiados para toda a vida. Queremos nos tornar brasileiros”, afirma Huda, falando pelo marido e os filhos.

Para a Cáritas Brasileira, que atende os refugiados palestinos no interior de São Paulo, a acolhida dos brasileiros é um dos pontos mais positivos do processo de integração. “Eles não querem sair daqui, muitos vêm o Brasil como o país que lhes deu esperança e oportunidades para recomeçar suas vidas”, acredita Antenor Rovida, secretário-regional da entidade. Para Karin Wapechowski, diretora da ASAV (associação responsável pelo atendimento dos refugiados no Rio Grande do Sul), “a sociedade brasileira - setor privado,  comunidade local e as instuições públicas - está  fazendo importante contribuições para que possamos alcançar a integração dos refugiados”.

Por Luiz Fernando Godinho e Valéria Graziano