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Com deslocamento em nível recorde, ACNUR apela por mais financiamento humanitário

Comunicados à imprensa

Com deslocamento em nível recorde, ACNUR apela por mais financiamento humanitário

Com deslocamento em nível recorde, ACNUR apela por mais financiamento humanitárioAntónio Guterres, alertou que o sistema humanitário global tornou-se perigosamente sobrecarregado com as novas crises.
2 Outubro 2014

GENEBRA, 02 de outubro de 2014 (ACNUR) - O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, António Guterres, alertou que o sistema humanitário global tornou-se perigosamente sobrecarregado com as novas crises no Oriente Médio, África e conflitos não resolvidos no Afeganistão, República Democrática do Congo, Somália e outros locais.

Em uma avaliação franca e transparente, Guterres disse em Genebra, durante reunião anual em do Comité Executivo (ExCom) do ACNUR, que o crescimento do financiamento humanitário global não está acompanhando o ritmo com as crescentes necessidades, embora tenha atingido um nível de recorde de US$ 22 bilhões em 2013. Esta situação, segundo Guterres, demanda uma nova maneira de pensar o financiamento humanitário e de desenvolvimento.

"Além da atual crise na Síria, novos conflitos na República Centro Africana, no Sudão do Sul, na Ucrânia e, mais recentemente, no Iraque têm causado um sofrimento terrível e deslocamento em massa", disse ele. "A comunidade internacional humanitária se esforça para responder a essas necessidades. Mas a cada nova crise nos aproximamos do limite do quanto podemos fazer, e claramente não somos capazes de fazer o suficiente."

O ano de 2014 tem visto um crescimento contínuo e dramático no deslocamento em massa, causado por guerras e conflitos. Em junho, o ACNUR anunciou que os números de deslocamentos forçados em todo o mundo havia atingido 51,2 milhões de pessoas - um nível somente visto na era pós-Segunda Guerra Mundial.

Nos últimos 12 meses, o ACNUR e seus parceiros têm lidado com cinco crises humanitárias alarmantes, conhecidas no sistema das Nações Unidas como nível 3 de emergências. Isso tem exigido - entre outras coisas – o deslocamento de 670 funcionários de equipes de emergência, o recrutamento urgente de outras centenas de pessoas para assistência, e grande mudança de pessoal entre as operações existentes e novas.

Guterres prestou homenagem às nações em desenvolvimento e aos países que fazem fronteira com zonas de guerra por continuarem a acolher e proteger quase nove em cada 10 dos refugiados do mundo. Ele também agradeceu os doadores privados e governamentais pelo apoio do ACNUR e da sua causa - da ordem de US$ 2,9 bilhões em 2013. O ACNUR, disse ele, estava trabalhando para reforçar a sua colaboração com outras agências da ONU e ONGs parceiras, bem com atores da agenda do desenvolvimento.

"A situação na Síria, em particular, salienta a urgência de se adaptar a nossa forma de trabalho em conjunto. As necessidades maciças excederam os recursos, competências e capacidades dos atores humanitários", disse ele. "Espero que as lições que estamos aprendendo no Oriente Médio hoje possam ser utilizadas para outras crises e permitir uma mais rápida ligação entre as ações de assistência e desenvolvimento em qualquer resposta ao deslocamento forçado."

Guterres também falou sobre os avanços e desafios futuros do ACNUR, já que em 2014 se celebra o 60 º aniversário da Convenção de 1954 relativa ao Estatuto dos Apátridas. Em novembro, o ACNUR planeja lançar uma campanha global para erradicar a apatridia em 10 anos.

Com dezenas de milhares de pessoas fugido de conflitos por meio de embarcações precárias no Mediterrâneo, Golfo de Bengala e Golfo de Aden, melhorar a proteção no mar tornou-se uma prioridade urgente. Guterres disse que muito mais precisa ser feito para ajudar a metade dos refugiados do mundo que estão abaixo de 18 anos de idade.

Ele também disse que o ACNUR está reforçando as medidas de combate à violência sexual e de gênero, e buscando mais apoio dos países para encontrar abrigos mais duradouros para os refugiados, a fim de que eles possam seguir em frente com suas vidas.

Guterres ressaltou também a difícil situação vivida atualmente pela África. "Com mais de 3 milhões de refugiados, 12,5 milhões de deslocados internos e cerca de 700 mil apátridas, o continente africano representa o maior desafio para o ACNUR em termos de resposta operacional e necessidades financeiras".

Segundo o chefe do ACNUR, os novos conflitos registrados na República Centro Africana, Nigéria, Líbia e Sudão do Sul deslocaram mais de 2,5 milhões de pessoas durante os seis primeiros meses de 2014. "A combinação de novas e grandes emergências com conflitos e deslocamentos prolongados coloca uma enorme pressão sobre governos e comunidades", disse Guterres. "Como a capacidade de resposta internacional está sobrecarregada pelo aumento sem precedentes de deslocamento forçado global, e como a atenção da mídia está focada em outro lugar, a África sofre desproporcionalmente mais do que em outras regiões."

Guterres lembrou que encontrar soluções duradouras para os refugiados é o objetivo final do ACNUR. Enquanto as soluções estão em falta em todo o mundo, a África está fazendo alguns progressos encorajadores ao encerrar situações de refúgio de longa data, como as dos angolanos e dos ruandeses.

"Os últimos anos foram marcados por conflitos em uma infinidade de lugares, e essas crises estão se tornando mais imprevisíveis e cada vez mais interligadas", disse Guterres, acrescentando que o deslocamento foi também mais impulsionado por fatores como o crescimento populacional, a urbanização, a pobreza e as mudanças climáticas.

"É muito provável que tudo isso só vai levar a mais um enorme aumento das necessidades humanitárias dos próximos anos", disse ele. "Isso coloca claramente em dúvida a adequação e a sustentabilidade dos recursos disponíveis para resposta humanitária. Já hoje, com o aumento exponencial das necessidades que temos visto apenas nos últimos três anos, o sistema de financiamento humanitário está quase falido."

Guterres apelou aos membros da ONU que trabalhem mais estreitamente para superar as diferenças e contradições que estão por trás de muitos dos conflitos do mundo.

Ele terminou seu discurso com uma nota pessoal: "Continuo profundamente chocado com a indiferença daqueles que têm responsabilidade política com milhões de pessoas que estão sendo expulsas de suas casas. Estas lideranças aceitam o deslocamento forçado e seu impacto sobre os indivíduos, países e comunidades, como dano colateral normal das guerras que elas lideram. Agem com convicção que os trabalhadores humanitários virão para resolver o problema. Mas deixe-me ser muito claro: nós, trabalhadores humanitários, não podemos mais limpar esta bagunça. Alguém tem que impedir que isso aconteça, antes de qualquer coisa".

Leia a íntegra (em inglês) do discurso de António Guterres em http://www.unhcr.org/542a6e6e9.html