Biblioteca comunitária abre novos horizontes para pessoas com deficiência e autismo em abrigos de Roraima
Biblioteca comunitária abre novos horizontes para pessoas com deficiência e autismo em abrigos de Roraima
“Eu amo ler, mas não pude trazer livros da Venezuela. O livro que mais gostei de ler até agora na biblioteca do abrigo foi ‘Pollyana’, que ensina sobre gentileza e esperança”, conta Esmeralda.
A biblioteca do abrigo Pricumã foi inaugurada recentemente, assim como outra semelhante no abrigo Espaço Emergencial 13 de Setembro. Agora, já são 3 bibliotecas do projeto Mi Casa, Tu Casa funcionando nos abrigos da Operação Acolhida em Boa Vista, além de uma em Pacaraima.
Esmeralda não é apenas uma leitora voraz. Desde a inauguração da biblioteca do abrigo Pricumã, ela se voluntariou para apoiar na organização do espaço comunitário. E tem sempre ao seu lado o irmão Jorge
Gabriel S, de 5 anos, que é uma pessoa autista que adora livros. Gabriel participa das atividades da biblioteca e aprende a decifrar suas primeiras palavras com livros voltados à alfabetização.
O projeto Mi Casa Tu Casa é uma parceria do Jornal JOCA, da ONG Hands On Human Rights, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e da Operação Acolhida, com apoio da organização parceira Fraternidade Sem Fronteiras (FSF).
“A biblioteca é um projeto maravilhoso, que estimula a educação e aprendizado coletivo. Meus filhos são minha vida e quero que todos cresçam sem estigmas. Quero que convivam na sociedade, entendendo diferenças e igualdades, mas crescendo juntos”, diz o pai de Jorge e Esmeralda, Angel S., que está com sua família no abrigo para refugiados e migrantes da Venezuela há cerca de seis meses.
A jovem Adriannys Rondon, de 21 anos, é uma pessoa com deficiência intelectual, apaixonada por pássaros e vai à biblioteca todos os dias ler um livro sobre tucanos. Ela também realizou o empréstimo de alguns gibis para ler com a mãe, Mileidys Rondon, na Unidade de Habitação para Refugiados do ACNUR onde estão alojadas no abrigo. “Após a biblioteca, Adriannys está mais calma e tem acesso a atividades de estímulo positivo. Para nós, é difícil comprar um livro”, explica a mãe.
“Em uma resposta humanitária é preciso levar em consideração fatores como idade, gênero e diversidade e também certas necessidades específicas, para garantir iniciativas inclusivas. O projeto Mi Casa, Tu Casa, no Abrigo Pricumã, atende a muitas pessoas com deficiência e leva em consideração suas necessidades e capacidades”, diz Julia Alapenha, Assistente Sênior de Proteção do ACNUR.
A princípio, a biblioteca tinha uma disposição diferente de livros, que foi alterada para poder atender a pessoas com mobilidade reduzida, a partir de estantes mais baixas. A comunidade também está se mobilizando com a formação de grupos de leitura para apoiar pessoas com pouca familiaridade na escrita.
“Crianças refugiadas chegam no Brasil com histórias angustiantes e grande trauma devido ao deslocamento forçado e ao desenraizamento. Nosso trabalho como trabalhadores humanitários é fornecer serviços essenciais para superar o trauma e apoiar seu caminho para a integração. Este pequeno, mas poderoso projeto, traz um novo horizonte e proporciona sonhos para escapar da dura realidade nos abrigos”, diz Oscar Sanchez Piñeiro, Chefe de Escritório do ACNUR em Roraima.
Arrecadação de livros por jovens brasileiros - As bibliotecas do projeto Mi Casa, Tu Casa foram criadas por meio de doações de livros e financiamento coletivo de crianças e adolescentes brasileiras com seus tutores, que vieram a Roraima junto de profissionais da área da educação para organizar e orientar pessoas da comunidade refugiada e migrante no uso das bibliotecas.
O Abrigo Pricumã recebeu mais de quatro mil exemplares de livros incluindo todas as faixas etárias, que vão desde livros lúdicos para crianças que ainda não aprenderam a ler aos clássicos da literatura para adultos. As quatro bibliotecas em Abrigos da Operação Acolhida e no projeto Canarinhos da Amazônia já somam mais de 12 mil livros doados para Roraima, que impactam positivamente a vida de quase 1200 crianças e adolescentes da Venezuela que vivem em abrigos temporários em Boa Vista, além de pais e mães da comunidade. “Foi incrível vir a Roraima e poder implementar a biblioteca ao lado das pessoas refugiadas. Vemos como as crianças ficam felizes e impressionadas com os livros e que elas também se sentem valorizadas e vistas. Eu me senti muito emocionada durante a missão. É difícil ver essa realidade, mas é bom saber que temos um impacto positivo para apoiar as crianças. Todos deveriam ajudar”, conta a jovem Beatriz Abram, de 14 anos, que se deslocou de São Paulo como voluntária do projeto Mi Casa, Tu Casa.
No total, o projeto arrecadou quase 40 mil livros e irá também instalar bibliotecas em São Paulo e outros espaços de desenvolvimento e convivência para pessoas da Venezuela que buscam proteção e asilo no Brasil.
Para promover a interação entre as crianças brasileiras e refugiadas e migrantes, o Mi Casa, Tu Casa proporciona a troca de cartas entre os jovens. "Queríamos que as trocas fossem um movimento de boas-vindas e de diálogo. Os preconceitos de adultos são muitas vezes criados por não conhecer ou acessar a realidade do outro", contra Stephanie Habrich, fundadora do Jornal JOCA.
"Além da implementação das bibliotecas em abrigos para refugiados, um dos pilares fundamentais do projeto Mi Casa, Tu Casa é sensibilizar a população brasileira sobre o tema refúgio, proporcionando uma melhor integração entre refugiados e brasileiros, combatendo diretamente a discriminação, que produz resultados devastadores", diz Edgard Raoul, coordenador da ONG Hands On Human Rights.