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Refugiados embarcam em voo rumo a uma nova vida

Comunicados à imprensa

Refugiados embarcam em voo rumo a uma nova vida

17 Dezembro 2021
Abdsamad, um solicitante de asilo somali, está com sua família enquanto esperam no aeroporto de Trípoli para embarcar em um voo para Roma. © ACNUR / Mohamed Alalem

Uma atmosfera de empolgação e expectativa se espalha entre o grupo de mulheres, crianças e homens que fazem fila do lado de fora de um prédio na capital da Líbia, Trípoli. Lá dentro, funcionários da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), estão se preparando para fornecer aconselhamento, ajudar no processamento de documentos e distribuir itens de viagem para o grupo.

Pouco depois, sorrisos e lágrimas de alívio irrompem entre o grupo ao saber que estarão a bordo do primeiro voo de evacuação da Líbia para a Itália em dois anos. Nenhum voo do tipo foi realizado em 2020 por conta da COVID-19 e do fechamento das fronteiras. Durante grande parte de 2021, os voos humanitários foram bloqueados pelo Diretório Líbio de Combate à Migração Ilegal.

Os selecionados incluem alguns dos solicitantes da condição de refugiado mais vulneráveis ​​do país. Muitos são mulheres e crianças, sobreviventes de violência ou têm um problema de saúde grave. Todos enfrentaram circunstâncias terríveis em seu país de origem e, posteriormente, grandes perigos e dificuldades na Líbia.

“Ser mulher e estar sozinha é difícil”

Hayat, de 24 anos, chegou à Líbia em 2017 depois de fazer uma perigosa travessia pelo deserto. Seu marido foi morto a tiros por contrabandistas quando o casal não conseguiu pagar um pedido de resgate por sua libertação.

“Eles o mataram diante dos meus olhos e me espancaram”, contou. Hayat estava grávida de sete meses na época e disse que os anos seguintes foram uma grande luta para sustentar seu filho.

“Eu sofri para conseguir alimentá-lo e pagar o aluguel. Ser mulher e estar sozinha é difícil. Estar com uma criança, sem trabalho e sem ninguém te ajudando, você está realmente sozinha”, disse ela.

Ao chegar à Líbia, muitos migrantes, refugiados e solicitantes da condição de refugiado enfrentam perigos, incluindo exploração e abuso nas mãos de traficantes ou contrabandistas. “Estou tão feliz por poder voar”, Hayat exclama. “Graças a Deus, vou viajar. Eu preciso sair. Preciso de um lugar seguro onde possa criar meu filho”.

O grupo foi o primeiro de 500 pessoas admitidas na Itália no período de um ano. Os voos são organizados sob um novo mecanismo, que combina evacuações de emergência com os corredores humanitários que foram estabelecidos na Itália desde 2016. Embora financiados principalmente pelo Governo da Itália, os voos também são apoiados por uma coalizão de organizações religiosas, que inclui a Comunidade de Santo Egídio, a Federação das Igrejas Protestantes e a Mesa Valdense.

Zahra, uma sudanesa de 48 anos e mãe de três filhos, mal conseguiu juntar o dinheiro do táxi para comparecer ao compromisso, mas está feliz por ter feito a viagem. Ela mora na Líbia há mais de vinte anos. Todos os seus filhos nasceram no país, mas nenhum tem documentação oficial, exceto o certificado de asilo do ACNUR.

Seu filho mais velho, Mohamed, de 17 anos, está em uma cadeira de rodas. Ele foi atingido por uma bala na coluna durante um conflito em 2014. Ele estava brincando fora da casa onde a família morava na cidade de Benghazi, no leste do país, onde o marido de Zahra arranjava empregos temporários para sustentar a família. “Meu filho não consegue mais falar ou se mover, mas ainda estou confiante de que ele vai se recuperar. Tenho que cuidar dele o dia todo”, disse. 

Os médicos pouco puderam fazer para ajudar na época. O conflito não diminuiu e as instalações de saúde mal funcionavam devido à falta de equipamento médico e cortes contínuos de eletricidade. 

A família partiu para Trípoli em busca de maior segurança, mas o marido de Zahra morreu, deixando-a com três filhos e ninguém a quem recorrer. “Meu único desejo é conseguir tratamento para o meu filho”, disse Zahra.

Sentado na calçada do lado de fora do prédio, um jovem somali chamado Abdsamad e sua esposa estavam compartilhando a boa notícia por telefone com outros parentes. Abdsamad vivia como refugiado na Etiópia desde 2001 antes de se mudar para a Líbia há alguns anos.

“Tem sido muito difícil. Quando você não tem situação legal no país, você não pode nem alugar uma casa ou obter assistência médica. Estou grato agora que estou viajando. Estou pensando no futuro e no futuro dos meus filhos. Tenho esperanças de que será bom”.