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Heróis locais de Burkina Faso são homenageados por dar abrigo aos deslocados

Comunicados à imprensa

Heróis locais de Burkina Faso são homenageados por dar abrigo aos deslocados

22 Outubro 2021
O líder comunitário Diambendi Madiega, conhecido pelos habitantes locais como 'Chefe Elefante', em sua casa em Kaya, Burkina Faso. © ACNUR / Nana Kofi Acquah

No início de 2019, um ou dois recém-chegados por dia começaram a aparecer na estrada empoeirada que leva a Bollé - uma comunidade nos arredores de Kaya, capital da região Centro-Norte de Burkina Faso. Eles buscavam desesperadamente ajuda depois de fugir de ataques de grupos armados e forças nacionais mais ao norte, perto da fronteira do país com o Mali.

No ano passado, à medida que os ataques ao norte aumentaram e a insegurança se espalhou, o que começou como algo pontual tornou-se um fluxo constante. Sem saber o que fazer com as dezenas de pessoas desprotegidas que chegavam todos os dias, a comunidade procurou Diambendi Madiega para obter respostas.

“Naquela época as pessoas começaram a chegar em grande número em pouco tempo”, explicou Madiega. “Se você pegasse a estrada que leva ao norte, nunca deixaria de conhecer pessoas que chegavam aqui. Cheguei a ficar sobrecarregado.”

Considerado há muito como um ponto de estabilidade na região volátil do Sahel, Burkina Faso está atualmente lutando contra a crise de deslocamento que mais cresce no mundo. Em resposta a ataques frequentes e mortais contra civis e forças de segurança, mais de 1,4 milhão de burquinenses foram forçados a deixar suas casas nos últimos dois anos, incluindo pelo menos 350.000 desde o início de 2021.

Madiega, de 67 anos, é rapidamente reconhecível pela bengala em que se inclina para andar após um acidente de motocicleta, e pelo chapéu com estampas brilhantes que o destaca como líder da comunidade. Entre os habitantes locais, ele é carinhosamente referido como “Naaba Wogbo”, ou o Chefe Elefante.

Com tantas pessoas chegando com nada além de alguns pertences pessoais, Madiega sentiu a responsabilidade de ajudar. Ele comprou mantimentos para acabar com a fome e abriu seu grande quintal para famílias deslocadas, que construíram abrigos temporários para se proteger dos obstáculos. Quando o pátio encheu, ele direcionou centenas de outras pessoas para outro local próximo.

Em pouco tempo, ele estava hospedando e alimentando cerca de 2.500 pessoas, que continuaram chegando. Sem ter mais terras para oferecer, Madiega começou a convencer outras 300 pessoas da comunidade a acolher famílias.

“Pedi um terreno para instalar duas ou três tendas e eles concordaram”, explicou. “Eles estão cientes de que se a situação atual continua sem solução, no futuro também poderão se encontrar na mesma situação. Não há distinção entre nós.”

Enquanto Madiega organiza os recursos de sua própria comunidade, um cenário quase idêntico acontecia a 170 quilômetros a nordeste, em Dori, perto da área de fronteira do país com Mali e Níger. Nos últimos anos, a região se tornou um foco de ataques e intimidação por grupos armados.

Como a população da cidade cresceu um quinto em apenas dois anos com a chegada de 35 mil deslocados, dezenas se reuniam todos os dias em frente à casa de Roukiatou Maiga.

Maiga, 55, descendente de uma das famílias reais da região, desafiou as convenções e os desejos de sua família para se casar com o homem que amava. “Meus pais queriam que eu me casasse com alguém da minha etnia, mas eu disse não, é ele quem eu quero'”, explicou Maiga. “Não foi fácil... meus pais demoraram a aceitar.”

A experiência a ensinou a ver além da etnia de uma pessoa. “Quero mostrar que todas as etnias podem conviver em paz. É por isso que comecei a ajudar os deslocados.”

As pessoas se aglomeram em seu pátio ensolarado em busca de comida, abrigo temporário e conselhos práticos sobre como se registrar para obter assistência de agências da ONU e outros parceiros.

Maiga está particularmente atenta às necessidades das mulheres e crianças que constituem mais da metade da população deslocada de Burkina Faso. Muitos deles testemunharam violência, incluindo assassinato de familiares e vizinhos.

“Se uma mulher pode seguir em frente, sua comunidade também pode...”

Além de estabelecer uma cooperativa agrícola para garantir o sustento das mulheres deslocadas e locais, ela também reserva um tempo para se sentar com os recém-chegados e ouvir suas histórias, estendendo a mão para confortá-los enquanto conversam.

“Muitos aqui tiveram experiências extremamente difíceis e muitos têm problemas psicológicos”, disse Maiga. “Para mim, se uma mulher pode seguir em frente, o mesmo acontece com sua comunidade e todo o país.”

Fatoumata Diallo chegou a Dori há um ano e ficou com Maiga até receber seu próprio abrigo do ACNUR, Agência da ONU para Refugiados. “Ela nos acolheu, nos ouviu, nos ajudou”, disse Diallo. “Agora ela é como uma mãe para nós.”

Por sua dedicação inabalável em ajudar os deslocados internos em Burkina Faso, Maiga e Madiega foram escolhidos como co-vencedores regionais para a África do Prêmio Nansen do ACNUR em 2021.

Nomeado em homenagem ao explorador norueguês e humanitário Fridtjof Nansen, o primeiro Alto Comissário para Refugiados e vencedor do Prêmio Nobel, o prestigioso prêmio anual visa homenagear aqueles que fizeram de tudo para ajudar pessoas deslocadas à força ou apátridas.

“Mostra que somos todos iguais; somos todos burquinenses”

Ao saber que iria receber o prêmio, Madiega expressou alegria pessoal, mas também profundo orgulho pela maneira como seus vizinhos se uniram para ajudar seus compatriotas. “Estou muito feliz pelo que esta comunidade tem feito. Mostra que somos todos iguais; somos todos burquinenses.”

Maiga descreveu como seu trabalho com pessoas deslocadas deu um novo significado à sua vida, mas expressou esperança de que sua ajuda um dia não fosse mais necessária.

“Já experimentei tanto ajudar as pessoas que isso se tornou minha vida, minha paixão”, disse ela. “Meu desejo para os deslocados é que eles possam voltar, que Deus os conduza de volta para suas aldeias com boa saúde e que a paz prevaleça em Burkina Faso.”