Refugiada com deficiência conquista independência financeira no Brasil por meio do trabalho
Refugiada com deficiência conquista independência financeira no Brasil por meio do trabalho
Mas chegar a este estágio da integração local em um novo país não foi fácil. Antes do seu atual emprego, Gabriela realizava atendimento a clientes em uma empresa de tecnologia e computadores – vaga obtida por meio do programa PoupaTempo, do governo do Estado de São Paulo. Durante oito meses, dedicou seu tempo à nova empresa e às aulas de português oferecidas por instituições parceiras do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), como a Cáritas São Paulo e o Sesc-SP.
Em 2019, ela conseguiu o atual emprego durante uma das sessões do projeto Empoderando Refugiadas, uma parceria entre o ACNUR, a Rede Brasil do Pacto Global e a ONU Mulheres para facilitar que mulheres refugiadas tenham uma formação específica e continuada para o ingresso no mercado de trabalho brasileiro – incluindo mulheres com deficiência.
“Não é fácil. No começo nada é fácil. Mas aqui no Brasil, existe uma lei que protege as pessoas com deficiência e que obriga empresas a ter uma cota de contratações. Se procurar, consegue achar. Eu já passei por duas empresas e não tenho o que reclamar de nenhuma das duas. Se a pessoa quer, ela corre atrás e consegue”, afirma Gabriela.
Atualmente, estima-se que pessoas com deficiência correspondem a 15% da população mundial. No que diz respeito ao deslocamento forçado, essa proporção pode ser ainda maior, com 12 milhões de pessoas com alguma deficiência. Segundo dados coletados pelo ACNUR em abrigos localizados no norte do Brasil, existem 130 pessoas com deficiência registradas.
Gabriela é apenas um dos exemplos da importância de promover e gerar empregos para pessoas com deficiência. Foi com a inserção dela no mercado de trabalho brasileiro que a família finalmente pôde encontrar estabilidade e reconstruir a vida que deixaram na Venezuela.
“É fundamental trabalharmos para garantir oportunidades para pessoas com deficiência, já que frequentemente correm maior risco de violência, exploração e abuso, além de enfrentarem barreiras para ter acesso a serviços básicos e serem excluídas das oportunidades de educação e subsistência”, afirma Maria Beatriz Nogueira, chefe do escritório do ACNUR em São Paulo
Para Gabriela, hoje com 34 anos, um dos grandes problemas relacionados à empregabilidade de pessoas refugiadas no Brasil é a questão burocrática. Ela pontua ainda que nunca sofreu nenhum tipo de preconceito por ser pessoa com deficiência e refugiada, mas reforça o papel das empresas na integração de diversidade dentro das empresas.
“Muitas empresas não conhecem esses processos. Mas é sempre bom dar oportunidades. Tem muitas pessoas refugiadas que querem trabalhar, nós queremos somar. Além de termos uma remuneração e forma de viver e nos sustentar, nós também queremos somar e aprender”, acrescenta.
Ela mesma nunca tinha trabalhado com RH na Venezuela e, aqui no Brasil, tem conhecido vários processos relacionados a modalidades de contratação e leis brasileiras que não existem em seu país.
Antes de iniciar sua trajetória profissional no mercado de trabalho brasileiro, Gabriela, sua mãe e o marido desembarcaram em Pacaraima (RR), na fronteira brasileira com a Venezuela, esperançosos por segurança e melhores condições de vida. Mas a jornada do pequeno núcleo familiar não foi fácil.
Três meses após chegarem ao Brasil, Gabriela e a família foram beneficiados pelo programa de interiorização da Operação Acolhida em abril de 2018. Foram para Cuiabá (Mato Grosso) e, não tendo encontrado a oportunidade que almejaram para suas vidas, foram direcionados para São Paulo. O fato de Gabriela ser uma pessoa com deficiência dificultou a busca por uma moradia adequada e que coubesse no orçamento da família e foi no bairro do Butantã que encontraram a primeira moradia.
Hoje, a família já não mora mais na zona oeste paulistana. Alugaram uma nova casa em Caucaia do Alto, distrito do município de Cotia que integra a região metropolitana de São Paulo, onde Gabriela e o marido estão acompanhando passo a passo do crescimento de Frida, filha de um ano e seis meses do casal. Aliás, o nome da criança é uma homenagem à artista mexicana Frida Khalo.
Pessoas com deficiência e integração - Este é um tema que ganha vez mais espaço para discussão, principalmente quando se destacam grandes feitos de pessoas com deficiência, como aconteceu durante os Jogos Paralímpicos de Tóquio, que contaram com a participação da Equipe Paralímpica de Refugiados e também trouxeram histórias marcantes de superação, comprometimento e desejos de construírem um futuro mais seguro para suas famílias.
O ACNUR trabalha para garantir que mulheres, meninas, homens e meninos com deficiência tenham acesso a serviços vitais e tenham a oportunidade de mostrar suas habilidades e capacidades para beneficiar a si mesmos, suas famílias e comunidades de acolhida. Em 2021, a Agência publicou um relatório sobre como fortalecer a proteção de pessoas com deficiência em situação de deslocamento forçado, para encontrar as melhores soluções possíveis para esses casos.
Sobre o Empoderando Refugiadas
O Empoderando Refugiadas está em sua sexta edição e trabalha a empregabilidade de mulheres refugiadas e migrantes em Boa Vista (RR), além de promover o engajamento de empresas para a contratação dessas mulheres. O projeto é uma parceria entre o ACNUR, Rede Brasil do Pacto Global e ONU Mulheres.
“O projeto Empoderando Refugiadas propicia meios para que as mulheres refugiadas possam aprimorar e buscar novos conhecimentos, assegurando os saberes que já trazem consigo para que, no Brasil, possam reconstruir suas carreiras profissionais com dignidade, cientes de seus direitos”, destaca Camila Sombra, Associada de Meios de Vida do ACNUR.
O Empoderando Refugiadas conta com o apoio das empresas Unidas, Renner, MRV, Iguatemi, Sodexo e Facebook.
Faça uma DOAÇÃO AGORA e ajude refugiados como Gabriela a reconstruírem suas vidas e seus sonhos.