Atletas da Equipe Paralímpica de Refugiados estreiam no taekwondo e na canoagem em Tóquio
Atletas da Equipe Paralímpica de Refugiados estreiam no taekwondo e na canoagem em Tóquio
A infância de Parfait, que integra a Equipe Paralímpica de Refugiados – resultado da parceria do Comitê Paraolímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) –, foi particularmente difícil. Aos seis anos de idade, no mesmo dia em que foi baleado no braço, ele perdeu a mãe, morta em um ataque à cidade onde morava perto de Bujumbura, capital do Burundi. Após anos de recuperação, o jovem teve que aprender a se virar usando apenas o braço direito.
Em 2015, quando a violência pós-eleitoral estourou no Burundi, Parfait foi forçado a deixar tudo para trás e fugir. Ele encontrou a proteção que necessitava em Ruanda, onde teve o prazer de ser acolhido por uma vibrante comunidade esportiva. Dentro de um ano, fundou um clube de taekwondo e centenas de pessoas refugiadas do Burundi se inscreveram para as aulas. Atualmente, o treinador faixa preta dá aulas a 150 refugiados, incluindo meninas e crianças de apenas seis anos.
Além de Parfait, outro atleta paralímpico que estreia nos Jogos nesta quinta-feira é o sírio Anas Al Khalifa, que compete pela canoagem. A história dele com esporte, assim como a do burindiano, é repleta de superação e resiliência.
A vida de Anas, assim como a de outras milhões de pessoas sírias, mudou a partir de 2011, quando os conflitos e a violência atingiram o país. Nesse período, quando era apenas um adolescente, ele foi obrigado a deixar o país e se estabelecer em um campo de refugiados. Em 2014, ele finalmente conseguiu chegar à Turquia e depois à Grécia e, em agosto de 2015, chegou à Alemanha, onde mora e treina atualmente.
Em terras alemãs, seu sonho era continuar os estudos para ser mecânico e ganhar dinheiro suficiente para ajudar a família. No ano seguinte de sua chegada ao país, ele conseguiu um emprego ajudando a instalar painéis solares em telhados. Mas, em um dia chuvoso de dezembro de 2018, ele estava trabalhando em um prédio de dois andares quando escorregou e caiu no chão. Al Khalifa caiu de costas e sofreu uma lesão na medula espinhal, deixando-o com movimentos e sensações limitados em seus membros inferiores.
“As coisas estavam muito sombrias para mim naquela época. Tudo passa pela sua cabeça, quando acorda e sabe que não poderá mais andar. Mesmo as piores coisas possíveis. Tudo virou de cabeça para baixo”, relembra Anas.
Em um dos hospitais em que ficou internado, Anas recebeu muito apoio da equipe médica, incluindo de sua fisioterapeuta, que tinha uma amiga que competia em para-canoagem. Juntas, elas incentivaram o atleta a conhecer o esporte. “Minha fisioterapeuta realmente me incentivou muito e me mostrou que o esporte era muito importante para o meu processo de reabilitação. Foi uma maneira de me tirar da escuridão que eu estava sentindo”, diz o atleta.
Em 2020, poucos meses antes do início da pandemia da Covid-19, Anas começou a treinar canoagem pela primeira vez em uma piscina coberta. Ele não tinha autoconfiança e realmente não achava que aquilo o levaria a algum lugar. Mas como a cada dia que ele remava seu desempenho melhorava, sentiu o desejo de continuar com afinco.
“Quando treino, percebo que o esporte é uma espécie de demonstração de como somos capazes de realizar tantas coisas e esquecer a deficiência. Faz com que eu me sinta como se não tivesse mais nenhuma deficiência”.
Agora, almejando subir ao pódio olímpico, Anas quer levar uma mensagem de resiliência a todas as pessoas em situação de deslocamento forçado no mundo e orgulhar os pais e o irmão, que foi morto em dezembro de 2020, após ter sido atingido pelo conflito na Síria que persiste há mais de 10 anos.
Confira os detalhes da agenda de competição do atleta, de acordo com o horário de Brasília:
Canoagem | Anas Al Khalifa: 02/09 (5ª feira), a partir das 9h30
Taekwondo | Parfait Hakizimana: 02/09 (5ª feira), a partir das 10h