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Família afegã deslocada pela violência luta para sobreviver

Comunicados à imprensa

Família afegã deslocada pela violência luta para sobreviver

15 Julho 2021
Zarif, 6 anos, em frente à tenda improvisada de sua família no campo de deslocados de Nawabad Farabi-ha, nos arredores de Mazar-e Sharif, norte do Afeganistão © ACNUR / Edris Lutfi

Duas semanas depois de fugir de sua casa para escapar de confrontos entre o governo e forças de oposição, Maryam*, de 24 anos, se amontoa à sombra de um abrigo improvisado no campo de Nawabad Farabi-ha, nos arredores da cidade de Mazar-e Sharif, norte do Afeganistão, em busca de trégua do calor de 45ºC lá fora.

Ela veio do distrito de Sholgara, cerca de 55 quilômetros ao sul, com seus quatro filhos, pais e irmão, depois que as forças de oposição invadiram a área e travaram batalhas com forças do governo. Maryam disse que ouviu tiros perto de sua casa enquanto os dois lados lutavam pelo controle da área.

“Não tivemos tempo de pegar nada. Fugimos apenas com um cobertor”, disse ela, sentada em uma barraca feita com pedaços de tecido amarrados a varas. Embora tendas de plástico estejam disponíveis, o calor sufocante as torna inutilizáveis. Assim, os residentes do campo contam com materiais mais básicos para se proteger do sol forte e das frequentes tempestades de poeira.

Maryam e sua família estão entre cerca de 270 mil afegãos que foram recentemente deslocados dentro do país desde o início de 2021 devido ao aumento da violência. À medida que o conflito se intensifica no norte do Afeganistão e em outras partes do país, o ACNUR,  Agência da ONU para os Refugiados, fez um alerta recente sobre uma crise humanitária iminente, dizendo que o fracasso em se chegar a um acordo de paz acarretará mais deslocamento.

Em meio a um aumento geral nas vítimas civis, a proporção de mulheres e crianças afetadas pela violência cresceu drasticamente desde janeiro, aumentando o número de vítimas que o conflito de décadas do Afeganistão tem causado a pessoas como Maryam e sua família.

Maryam e sua mãe, Halimah, são viúvas de guerra e carregam o fardo adicional de tentar cuidar do irmão ferido de Maryam e do avô com doença crônica.

Os problemas de Maryam começaram há uma década, quando a então adolescente de 13 anos se casou com um homem que ela não conhecia. Inicialmente, a adolescente foi levada a acreditar que seu marido também residia na província de Balkh, no norte, mas depois que ela se casou, foi levada para a província de Helmand, no sul, para morar com seus sogros.

As filhas de Maryam voltam para o abrigo depois de coletar água no campo de Nawabad Farabi-ha © ACNUR

Ela tinha planos muito diferentes para sua vida e nutria a esperança de conseguir estudar e um dia começar a trabalhar. Mas em Helmand - outra província atormentada por décadas de combates entre o governo e forças da oposição - ela criou quatro filhos até que seu marido foi morto em fogo cruzado durante uma das muitas batalhas na área.

Após a morte de seu marido, Maryam se mudou com seus dois meninos e duas meninas para Cabul, antes de finalmente se reunir com sua família em Sholgara no início deste ano.

“No início, as coisas estavam bem. Havia uma calma relativa”, disse . Mas, após a última onda de violência, eles agora vivem no campo de Nawabad Farabi-ha com outras 100 famílias.

“Houve noites em que não tínhamos absolutamente nada para comer”

A cidade de Mazar-e Sharif pode ser um centro comercial movimentado, mas para os deslocados internos no campo há poucas oportunidades econômicas. Com os dois homens da família feridos ou doentes, o filho mais velho de Maryam é forçado a vagar pela cidade recolhendo lixo reciclável para tentar ganhar o suficiente para alimentar a família. “Houve noites em que não tínhamos absolutamente nada para comer”, explicou Maryam.

Tendo sido forçados a se mudar quatro vezes em poucos anos, seus filhos não podem ir à escola e estão vestidos com roupas gastas, cobertas de fuligem e poeira.

“Meus filhos não usam roupas novas desde que deixamos Helmand”, disse. “Que tipo de vida é essa? Veja o que o sol fez com o rosto do meu filho”, acrescentou, apontando para a pele avermelhada e com bolhas de seu filho mais novo, Zarif.

O próprio rosto de Maryam revela o dano que o deslocamento e os conflitos infligiram à sua saúde. Suas bochechas encovadas apontam para a desnutrição que se espalhou por várias partes do país.

O Banco Mundial estima que pelo menos 45% da população do país sofre de desnutrição, principalmente devido à pobreza. Uma seca nacional provavelmente ligada à mudança climática que afeta até 80% do país está aumentando ainda mais a pressão sobre uma população que depende em grande parte da agricultura e da pecuária, aumentando o temor de novos deslocamentos em massa.

O ACNUR e seus parceiros estão ajudando afegãos recém-deslocados com abrigo de emergência, comida, saúde, água e saneamento e assistência em dinheiro, mas a falta de financiamento significa que os recursos humanitários estão diminuindo drasticamente.

No campo, as famílias lutam para encontrar água potável. Muitos disseram que seus filhos adoeceram por beber a água salobra de um poço próximo, e a única maneira de torná-la potável é fervendo por pelo menos 20 minutos.

Mas é difícil encontrar lenha na área desértica onde o campo está localizado. Sem uma renda, os moradores não podem ir à cidade comprar lenha. Então seus filhos são forçados a caminhar no calor para encontrar fontes de água mais limpas, uma jornada que simplesmente aumenta sua sede.

Para Maryam, o impacto que o deslocamento está causando no bem-estar e no futuro de seus filhos é a coisa mais difícil de suportar. “Eu realmente só quero que meus filhos tenham uma vida boa e possam ir à escola e estudar.”

* Nomes alterados para fins de proteção.