Iraquianos enfrentam condições extremas após fechamento de campos de refugiados
Iraquianos enfrentam condições extremas após fechamento de campos de refugiados
Quando Dahi, um fazendeiro de 68 anos, retornou para seu vilarejo após passar mais de três anos em um campo no sul de Mosul para iraquianos que fugiram de militantes do ISIS, seu retorno foi tudo menos agradável.
No final do ano, as autoridades anunciaram o fechamento do campo Salamiyah, dando a família de Dahi e outros refugiados apenas alguns dias para fazer suas malas e voltar para o vilarejo de Risala, próximo à fronteira noroeste com a Síria. Quando chegaram, se depararam com suas casas e outros espaços do vilarejo destruídos, inclusive a pequena escola local.
“Nós encontramos tudo em ruínas. Estava tudo abandonado, intocado há três ou quatro anos”, afirmou Dahi. “As casas aqui são feitas de barro, se você deixa uma casa de barro sem manutenção por muito tempo, ela colapsa. Nós encontramos inúmeras casas assim”.
“Nós precisamos de ajuda”
O primeiro desafio que os moradores encontraram foi em relação ao seu próprio sustento, uma vez que eles não conseguiam plantar nada pela falta de ferramentas e materiais de agricultura. Eles também estavam desempregados e não havia nenhuma outra fonte alternativa de renda. Até mesmo conseguir água era um problema, uma vez que eles dependiam das entregas caras feitas por caminhões. Essas, por sua vez, eram muitas vezes impossibilitadas pela má condição da única estrada que levava para aldeia – um caminho de terra que se tornou um lamaçal após as tempestades de inverno.
A precariedade da situação foi tragicamente revelada quando a filha de três meses de um vizinho de Dahi ficou febril. A cidade mais próxima com hospital ficava a 12 quilômetros de distância do vilarejo, mas as tentativas de chegar ao lugar falharam após o veículo ficar atolado na lama.
“A recém-nascida do meu vizinho, Abdulhadi, ficou doente porque não conseguiu ter acesso a um hospital devido as más condições da estrada. Ela morreu por causa disso”, explicou Dahi.
Mais de 6 milhões de iraquianos foram forçados a fugir de suas casas após militantes do ISIS tomarem controle de grande parte do território em 2014. Cerca de 4,8 milhões de pessoas já voltaram para casa, mas mais de 1,2 milhão continua deslocada internamente.
Entre aqueles que ainda são deslocados internos no Iraque, estima-se que 250.000 estão vivendo em campos, onde as condições são básicas, mas os serviços essenciais como abrigo, escola e plano de saúde são providenciados pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, e seus parceiros.
Em outubro de 2020, o governo do Iraque anunciou de repente o encerramento de 13 campos, afetando mais de 34.000 residentes. Mais campos foram fechados nos meses seguintes. Embora o retorno voluntário à sua terra de origem seja a saída preferida de muitos, grande parte dos afetados pela decisão de fechar os campos agora precisam lidar com propriedades e infraestrutura destruídas, insegurança e falta de empregos.
O ACNUR expressou suas preocupações ao governo, destacando que alguns dos fechamentos foram realizados sem aviso prévio e consulta aos residentes dos campos.
Após uma avaliação recente, o ACNUR está trabalhando para pavimentar a estrada que liga o vilarejo de Risala à cidade mais próxima e reabilitará a escola local e o alojamento dos professores.
Porém, o futuro permanece incerto para Dahi e as outras 300 famílias que moram em Risala, sobretudo com as secas, que agora ameaçam a capacidade de se alimentar nos próximos meses.
“Nossas condições de vida são muito difíceis. Nossa fonte de renda é a agricultura e, este ano, devido à seca, não temos plantações”, afirmou Dahi. “Nós precisamos de ajuda. Ninguém pode viver sozinho nessa situação”.
Outros iraquianos afetados pelo fechamento dos campos também enfrentam desafios parecidos. No vilarejo de Tabouqa, no sudeste de Mosul, 37 famílias chegaram em casa no final do ano passado após o fechamento do campo Hamam al Alil, apenas para encontrarem um amontoado de edifícios em ruínas e uma aldeia desprovida até dos serviços mais básicos.
Abdelwahed, um residente de 48 anos, descreveu a situação enfrentada por ele e seus familiares como desesperadora.
“Meus filhos ainda são jovens e deveriam estar na escola, mas eles não estão porque não existem escolas no vilarejo”, afirma. “Se alguém precisa ver um médico, precisa dirigir por horas em rodovias enlameadas para chegar ao hospital. No campo, nós costumávamos receber querosene, tinha uma escola e um serviço de saúde”.
“Nós não sabemos como recomeçar”
A situação deixou Abdelwahed e outros moradores ansiando por uma alternativa que antes parecia impensável.
“Estamos todos no mesmo barco e ele está afundando. Ninguém quer ficar em nossa aldeia destruída”, disse. “Eu gostaria que pudéssemos voltar para a miséria do campo. Pelo menos, era melhor do que morar aqui”, disse.
“Nós não sabemos como recomeçar”, continua Abdelwahed. “Nós gastamos o dinheiro que tínhamos. Nós precisamos de apoio financeiro para comprar ferramentas de agricultura e máquinas para que a gente possa contar com nós mesmos e reconstruir nossas vidas, fazendas e vilarejos”.
Todos os dias, conflitos e perseguições seguem forçando milhares de pessoas ao redor do mundo a deixarem suas casas.
Faça uma DOAÇÃO AGORA para apoiar os esforços da Agência da ONU para Refugiados. Você pode salvar vidas!