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Sírios enfrentam a miséria após uma década de sofrimento

Comunicados à imprensa

Sírios enfrentam a miséria após uma década de sofrimento

18 Março 2021
Abeer, 30, com seus filhos do lado de fora de sua casa em Dayr Hafir, Síria © ACNUR / Bassam Diab

Em uma sala mal iluminada no minúsculo apartamento em Alepo, onde sua família mora, Amal, de nove anos, está sentada em um colchão com um cobertor sobre um ferimento que mudou sua vida para sempre. Há oito anos, quando tinha apenas 18 meses, ela perdeu a perna direita quando uma bomba atingiu sua casa na cidade de Hama e explodiu o quarto onde dormia.


Após fugir do conflito, a família se mudou inúmeras vezes em busca de segurança até finalmente se estabelecer em Alepo, a segunda maior cidade da Síria e um antigo centro industrial. Hoje, a cidade carrega em si as cicatrizes da crise de dez anos no país.

“Nós mudávamos de uma casa para outra, de uma área para outra”, explicou a mãe de Amal, Samar, de 37 anos. “A parte mais difícil era ser deslocado repetidas vezes, porque cada vez que Amal se mudava, sua ferida reabria e sangrava. Demorou sete meses para curar”.

Após alguns meses de tratamento e com a ajuda de uma prótese, Amal agora está apta para caminhar à escola e sonha um dia em se tornar uma advogada. “Não gosto de ficar parada”, afirmou. “Eu vou para a escola sozinha, eu prefiro. Não é difícil, eu fiz muitos amigos na escola desde o primeiro dia”.

Com prédios danificados e pilhas de entulho como plano de fundo no bairro precário onde moram, a vida aparenta voltar aos poucos ao normal, junto com os antigos moradores que fugiram durante os piores anos de combate na região.

Mas, apesar dos comerciantes recuperarem suas oficinas danificadas e o tráfego voltar a dominar a hora de rush, a superfície de Alepo ainda exibe os impactos devastadores da última década de turbulência. Para muitos residentes, como a família de Amal, as dificuldades são piores do que nunca: os anos de deslocamento esgotaram todas as suas economias, impossibilitando-os de pagarem o aluguel ou despesas médicas. Agora, eles dependem inteiramente da ajuda de agências humanitárias e esmolas.

“Por mais que eu tente te explicar como a situação é difícil, ela é muito pior”, afirmou Samar. “Antes da crise, tínhamos nossa própria casa, meu marido tinha um emprego... Agora, antes de comprarmos qualquer coisa, pensamos centenas de vezes antes de tomar qualquer decisão – seja para comida, roupas ou qualquer outra coisa. Eu nunca imaginei que me encontraria nessa situação”.

Na última década, milhões de sírios como Amal e sua família foram forçados a deixar suas casas frente à maior crise de deslocamento do mundo. Cerca de 5,5 milhões de sírios estão vivendo como refugiados em países vizinhos e 6,7 milhões continuam deslocados dentro do país. Dentre esses, cerca de 2,5 milhões são crianças.

A Síria também enfrenta uma das maiores recessões socioeconômicas desde o começo da crise. Apenas no último ano, a moeda síria perdeu três quartos de seu valor ao passo que o preço de alimentos e outros itens essenciais cresceram exponencialmente. Desde seu início, a pandemia de COVID-19 piorou uma situação que já estava muito desgastada.

Como consequência, os sírios agora enfrentam uma redução dramática no poder de compra e aumento dos endividamentos, deixando milhões incapazes de comprar alimentos e suprir necessidades básicas. Hoje, mais de 13 milhões de sírios necessitam de assistência humanitária e de proteção e quase 90% vive na pobreza.

No entanto, apesar dos enormes desafios, os sírios continuam encontrando maneiras notáveis de perseverar e tentar reconstruir suas vidas. Milhares de pessoas anteriormente deslocadas estão escolhendo voltar para suas casas e vilarejos, apesar da destruição generalizada de casas, escolas locais, hospitais e outras infraestruturas.

“Eu enfrentei inúmeros desafios tentando voltar para casa”

Nascido em Dayr Hafir, uma cidade 50 km ao leste de Alepo, Abeer, de 30 anos, e seus cinco filhos já se deslocaram inúmeras vezes. Durante o deslocamento, seu marido foi morto enquanto ia comprar alimentos em um mercado local. Após a segurança em sua cidade melhorar, apenas um ano depois, Abeer decidiu retornar.

“Eu enfrentei inúmeros desafios tentando voltar para casa”, afirmou. “Eu não podia pagar para alguém nos trazer para casa, então caminhamos do anoitecer até o amanhecer, com os pés descalços e sem água. Na calada da noite, eu acabei perdendo meus filhos – mas consegui encontrá-los novamente”.

Quando chegaram em casa, se depararam com tudo danificado e saqueado. Sem emprego ou economias, Abeer teve que começar do zero. Durante meses eles dormiram no chão do apartamento, comendo apenas purslane (uma erva rica em nutrientes) que ela conseguia cultivar perto de casa. Todos os dias, Abeer era obrigada a deixar seus filhos pequenos sozinhos enquanto saía em busca de trabalho.

“Quando voltamos pela primeira vez, eu enfrentei circunstâncias muito difíceis”, explicou. “Nós passamos por períodos em que não tínhamos nem mesmo óleo de cozinha, nem nada. Comecei a trabalhar na terra e tive que deixar meus filhos sozinhos em casa – e, se eu não fizesse isso, não teria dinheiro para comprar nada”.

Com aproximadamente 12,4 milhões de sírios atualmente vivendo em situação de insegurança alimentar, muitas famílias são forçadas a recorrer a estratégias difíceis de sobrevivência, incluindo tirar as crianças da escola para trabalharem ou até mesmo casamentos forçados. Apenas no ano passado, estima-se que 2,5 milhões de crianças na Síria estavam fora da escola e 1,6, milhões corriam o risco de abandoná-la.

Com suas dívidas aumentando, a sorte de Abeer mudou quando ela ouviu falar de um centro comunitário nas proximidades. O local era apoiado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, que oferecia pequenos subsídios para pequenas empresas.

Depois de se candidatar para receber o auxílio, Abeer conseguiu abrir um minimercado e agora sustenta seus filhos.

“No dia em que eu recebi [o auxílio], meu cérebro não conseguiu compreender mais nada. Pensei que estava em um sonho”, disse. “Minha vida foi do 8 para o 80. O mais importante é que não preciso mais deixar meus filhos sozinhos”.

“Rezo para que meus filhos tenham uma vida bonita – melhor que a minha”

Abeer também está recebendo apoio de um psicólogo do centro comunitário para ajudá-la a superar a morte de seu marido e os contínuos desafios que enfrenta. Por toda a Síria, os anos de deslocamento, a exposição à violência, a perda de entes queridos, o desemprego e a miséria continuam impactando a saúde mental dos sírios.

Ao longo dos últimos 10 anos, o ACNUR esteve em campo na Síria entregando assistência para as famílias que perderam tudo, incluindo itens básicos como colchões e cobertores, kits de emergência, concertos de casa quando necessário, assistência psicossocial e outros serviços de proteção, além de plano de saúde e intervenção na educação – como a compra de equipamentos e reparo de escolas.

Enquanto famílias sírias como a de Abeer e Amal continuam mostrando extrema resiliência após uma década de sofrimento, o ano passado levou muitas a um ponto de ruptura. O apoio contínuo da comunidade internacional e humanitária é necessário para ajudar os sírios a lidarem com o agravamento das condições socioeconômicas.

“Rezo para que meus filhos tenham uma vida bonita – melhor que a minha”, disse Abeer. “Quero que meus filhos cresçam e tenham sucesso, para que não precisem contar com ninguém. Não quero que eles sejam humilhados como eu fui."


As histórias de Amal e Abeer ilustram uma pequena fração dos impactados devastadores dos 10 anos de crise na Síria. 

Mais do nunca, famílias sírias precisam do seu apoio. Doe agora mesmo para que elas possam reconstruir suas vidas e seus sonhos.

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