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Médico foge de conflito na Etiópia e vira voluntário no Sudão

Comunicados à imprensa

Médico foge de conflito na Etiópia e vira voluntário no Sudão

1 Março 2021
Médico refugiado etíope, Tefera Tewodros está na clínica de saúde em Hamdayet, no leste do Sudão. © ACNUR/Giulia Raffaelli

O médico Tefera Tewodros esteve entre os primeiros refugiados a chegar em segurança no leste do Sudão após o início da crise no Tigré, em novembro. 

Desde então, ele vive e trabalha na clínica de saúde da cidade fronteiriça de Hamdayet, no estado de Kassala, onde a maioria dos 60 mil refugiados que fugiram do conflito na Etiópia buscaram segurança. 

Nascido na Eritréia, Tefera mudou-se após a independência para a Etiópia, onde se formou em medicina e se tornou cirurgião. Durante os últimos anos, ele trabalhou como cirurgião em Humera. Ele tinha uma vida confortável e nunca imaginou que teria que fugir apenas com as roupas. 

"Os primeiros dias como refugiado foram os piores da minha vida. Foi confuso e traumático. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu não conseguia pensar", lembra o médico que ficou fora de contato com seus entes queridos, pois todas as comunicações estavam fora de área. 

Mas em 16 de novembro, tudo mudou. Atordoado com o grande número de pessoas que corriam pela fronteira, muitos doentes ou feridos, ele percebeu que tinha que se levantar e ajudar. Ele foi oferecer seu apoio ao ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados e à Comissão Sudanesa para Refugiados (COR) no centro de trânsito Hamdayet. No dia seguinte, ele começou a ser voluntário na clínica de saúde, dirigida pela Sociedade Sudanesa do Crescente Vermelho. 

"Os primeiros dias como refugiado foram os piores da minha vida.” 

Independentemente das longas horas, da falta de pessoal e de suprimentos médicos, Terefa encontrou um propósito em seu trabalho. 

"Desde aquele primeiro dia, tenho trabalhado com um compromisso que nunca tive antes", acrescenta. 

Ele e seus colegas atendem diariamente centenas de pacientes no posto de saúde em Hamdayet, uma instalação de apenas duas salas - uma usada como escritório e ambulatório e outra servindo como laboratório de doenças infecciosas, farmácia e armazenamento. O estaço também funciona como um mini hospital com uma mesa de operação e ressuscitação, que costumava ser a cama do médico. 

"Agora durmo em um tapete atrás da clínica", diz ele. 

Embora ele às vezes se sinta incapaz de realizar todo o seu potencial, devido às circunstâncias difíceis, ele continua a ser voluntário no centro médico. 

"Pelo menos estou fazendo algo benéfico para o meu povo e tenho orgulho de apoiar também a comunidade local", explica ele. 

Atualmente ele está treinando oito voluntários para ajudar com as atividades diárias na clínica. 

"Leva tempo para treiná-los, pois agora eles são solicitados a trabalhar além de seu trabalho de rotina, em meio a muitos desafios", acrescenta ele. 

Mas ele acrescenta que há algumas pequenas vitórias, independentemente disso. 

"Um de nossos estagiários realmente nos deixou recentemente para começar um trabalho em uma clínica próxima", diz ele. 

"Agora durmo em um tapete atrás da clínica". 

Tefera apoia seu povo não apenas como um médico experiente, mas como alguém que está passando por uma situação semelhante e compreende o trauma de estar longe de suas raízes. 

"Os sentimentos não podem ser traduzidos tão facilmente quanto as palavras", diz, acrescentando que está convencido de que compartilhar a língua e a cultura de seus pacientes aumenta sua capacidade de ajudá-los. 

Além de seu trabalho na clínica, o médico passa seu pouco tempo livre conversando com seus amigos e familiares no exterior, na Europa, nos EUA e em outros países. Sua última esperança é voltar à vida que ele tinha antes de deixar a Etiópia. 

Até então, enquanto mais de 30.000 refugiados foram transferidos das áreas de fronteira para os assentamentos Um Rakuba e Tunaydbah, no Estado de Gedaref - para oferecer-lhes segurança e melhores condições de vida - ele está empenhado em permanecer em Hamdayet e continuar ajudando a comunidade de lá.