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Necessidades de refugiados etíopes no Sudão aumentam

Comunicados à imprensa

Necessidades de refugiados etíopes no Sudão aumentam

18 Dezembro 2020
A refugiada etíope Tsige espera no centro de recepção na fronteira de Hamdayet para ser transferida para o campo de Um Rakuba, no Sudão © ACNUR/Will Swanson

Antes de seu marido ser pego por homens armados em novembro, Tsige e sua família viviam uma vida tranquila e idílica como fazendeiros na região do Tigré, na Etiópia.


Porém, tudo mudou no começo de novembro, quando o conflito eclodiu na região e homens armados levaram seu marido.

Ele foi liberado após ter sido preso por sete dias, mas a experiência deixou um sentimento desconfortável na família. Com medo, eles se perguntam constantemente o que devem fazer.

Naquela noite, Tsige pegou sua filha e dormiram fora de casa, enquanto seu marido passava a noite em um lugar desconhecida. No dia seguinte, foi tomado uma decisão difícil:

Ela sabia que não era mais seguro viver na fazenda.

“Eu falei para a minha família que deveríamos ir embora. Disse para meu marido pegar nosso filho, que eu seguiria com nossa filha”, explicou Tsige. “Vamos nos encontrar lá, mas precisamos correr”.

“Estávamos dormindo no chão e não tínhamos nem trocas de roupas”

A família fugiu para o Sudão, sem a certeza de um reencontro.

Diferente de outras famílias, que foram separadas durante a fuga, eles se encontraram novamente em Hamdayet. Apesar de Tsige e sua família estarem seguros, eles seguem lutando para lidar com a situação.

“Estávamos dormindo no chão e não tínhamos nem trocas de roupas”, complementou.

Até o dia de hoje, cerca de 50.000 etiópios fugiram para o Sudão, à medida em que o conflito na região do Tigré continua crescendo. O ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, junto com as autoridades sudaneses, deslocaram cerca de 14.000 refugiados das cidades fronteiriças de Hamdayet e Abderafi para o campo Um Rakuba, situado 70 km da fronteira com a Etiópia. A maioria dos refugiados no campo e aqueles que estão entrando no Sudão - muitos deles mulheres e crianças - estão desesperados por comida, abrigo, água potável, saneamento e cuidados de saúde.

“As necessidades são esmagadoras. O centro de transição de Hamdayet foi originalmente construído para abrigar centenas e, agora, é a casa de milhares de pessoas”, afirmou Andrew Mbogori, Coordenador Principal de Emergências do ACNUR no Sudão. “Ele está localizado em uma área tão remota e tem sido um desafio atualizar as instalações para os padrões mínimos”.

Mbogori também complementa que há também uma preocupação com surtos de doenças transmitidas pela água e a disseminação do COVID-19.

Assim como Tsige, Nigsty também aproveitava sua vida como dona de casa ao lado de seu marido, que trabalhava em uma fazenda como motorista de caminhão. Porém, o conflito os forçou a deixar tudo para trás.

Na época da jornada, Nigsty estava grávida em um estágio avançado e a caminhada de três dias a desgastou muito, aumentando sua preocupação com a situação de seu filho.

“Eu estava com tanto medo – meu estômago doía e a situação era extremamente difícil. Eu não esperava dar à luz em segurança”, completou Nigsty, que teve seu parto apenas alguns dias após chegar ao campo.

Apesar de grata por estar segurança no Sudão, ela está preocupada com seus outros familiares, que desconhecem seu paradeiro e não sabem que ela deu à luz.

“Como eles saberiam? Eu nem sei onde eles estão. Não temos telefone ou internet e tudo está fechado”, afirmou chorando. “Estamos preocupados com eles, não sabemos se estão vivos ou não”.

Na Etiópia, a equipe do ACNUR e os parceiros na cidade de Shire já distribuíram água, biscoitos energéticos, comidas, colchões, roupas de cama, sacos de dormir e cobertores para aproximadamente 5 mil etíopes deslocados.

“Nós perdemos nossos planos para o futuro. Tudo pelo que trabalhamos agora se foi”

Enquanto isso, no Sudão, vários refugiados dizem que preferem ficar perto da fronteira e esperar por outros familiares que ficaram na Etiópia. Outros, mantêm a esperança de que vão retornar para a casa em breve. Entre eles, agricultores como Tsige, que deixaram suas fazendas para trás durante a época da colheita.

“Esse é a época do ano de colher. Havia milho nos campos e nossos colegas de trabalho ficaram lá”, diz Tsige.

Ela está tentando manter a esperança, mas teme pelo futuro e por sua criança.

“Nós perdemos nossos planos para o futuro. Tudo pelo que trabalhamos agora se foi”, diz chorando. Ela também relembra que, desde o início do conflito, eles não tinham onde dormir. “Tínhamos muita esperança - eu educaria minha criança para que ela pudesse ter uma vida melhor, estava esperando meu filho se formar na faculdade. Agora, nossas vidas foram perturbadas”.

 

Reportagem adicional de Catherine Wachiaya, em Nairóbi, Quênia.