Mulheres refugiadas somam 48% dos atendimentos da Caritas São Paulo em 2020
Mulheres refugiadas somam 48% dos atendimentos da Caritas São Paulo em 2020
Pela primeira vez, o percentual de mulheres atendidas se equiparou ao de homens, com índices crescentes nos últimos três anos: em 2018, 33% das pessoas atendidas no primeiro semestre eram mulheres; em 2019, 43%. No primeiro semestre de 2020, as mulheres representaram 48% dos atendimentos.
Esses dados foram apresentados ontem (26/08), em uma live realizada pela CASP em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). Mesmo com as atividades presenciais reduzidas devido à pandemia do novo coronavírus, o trabalho na organização incorporou agendamentos e atendimentos virtuais, ampliando o alcance das pessoas assistidas.
“O perfil de deslocamento forçado fronteiriço, decorrente do contexto da Venezuela, mudou o perfil das pessoas em situação de refúgio no país e em São Paulo, dialogando com os fluxos globais”, afirma Maria Beatriz Nogueira, chefe do escritório do ACNUR em São Paulo. “Temos recebidos mais famílias estendidas, inclusive famílias monoparentais, lideradas por mulheres, diferentemente de quando as chegadas ao Brasil se davam principalmente pelos aeroportos”, completa.
As principais demandas das pessoas em situação de refúgio atendidas pela Caritas foram: pedidos urgentes de alimentos, itens de higiene e limpeza, apoio financeiro (em grande parte para pagamento de aluguel), apoio para reinserção no mercado de trabalho e orientações para regularização migratória.
A venezuelana Karen Moreira reflete bem esta realidade. Ela chegou ao Brasil há dois anos e, durante a pandemia, a situação econômica agravou sua situação de vulnerabilidade. Karen recebeu cesta básica, itens de higiene e máscaras de pano após agendamento online.
“Este momento está sendo muito difícil, mas o atendimento e a entrega de produtos feita pela Caritas e pelo ACNUR têm contribuído para que nossa vida fique um pouco mais tranquila. Pouco a pouco, vamos dando um jeito, sendo um passo por vez, porque a situação para todos nós não está fácil”, ressaltou.
A dificuldade enfrentada por Karen é a mesma de outras pessoas refugiadas de diferentes nacionalidades e experiências profissionais: encontrar fontes de geração de renda e trabalho.
“O desemprego atingiu em cheio a população refugiada e se tornou um gatilho para muitas crises, desde questões econômicas e financeiras até temas de saúde mental e garantia de direitos”, afirmou o padre Marcelo Marostica Quadro, diretor da CASP. “No prolongamento das crises que vivemos em nossos tempos, percebemos o agravamento da situação de vulnerabilidade dessa população”, disse.
As crianças e adolescentes venezuelanas atendidas pela Caritas representaram 31% dos novos atendimentos realizados no mesmo período, seja pelas chegadas espontâneas ou promovidas pelo programa de interiorização do Governo Federal.
O registro de pessoas em situação de vulnerabilidade também se ampliou: entre o perfil dos atendidos, houve 126 famílias monoparentais, sendo a maioria (119) chefiada por mulheres; 18 mulheres grávidas, sendo oito delas chefes de famílias monoparentais; 19 pessoas LGBTIQ+ e 25 idosos.
Os quatro programas que integram o Centro de Referência para Refugiados da CASP (Assistência, Integração, Proteção e Saúde Mental) há mais de 30 anos contam com o apoio do ACNUR e estabelecem confiança e a segurança das pessoas atendidas. Com a chegada da pandemia da COVID-19, o atendimento presencial, tido como opção preferencial pela organização, também passou a ser feito no modelo remoto, mantendo o padrão de escuta e aconselhamento em cinco idiomas: português, espanhol, inglês, francês e árabe.