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Tragédia pessoal impulsiona luta de assistente social contra violência de gangues

Comunicados à imprensa

Tragédia pessoal impulsiona luta de assistente social contra violência de gangues

12 Agosto 2020
Santiago Ávila, líder da Juventude contra Violência, usa jovens "embaixadores" para manter os jovens longe das gangues © ACNUR/Ruben Salgado Escudero

Para Santiago Ávila, a luta contra as poderosas gangues de rua que aterrorizam as comunidades de seu país, Honduras, é profundamente pessoal. Ele tinha 19 anos quando seu irmão Maurício, de 16 anos, foi sequestrado, torturado e assassinado por grupos criminosos violentos conhecidos como maras.


Mas a tragédia não terminou aí. A morte de Maurício desencadeou uma série de outras consequências traumáticas que se prolongaram por muitos anos, forçando a família a se mudar de casa em casa em busca de segurança e, eventualmente, obrigando Santiago e sua mãe a fugir do país para sobreviver.

"Em uma semana, tudo mudou", lembrou Santiago, agora com 32 anos de idade. "Minha família ainda não superou isso".

Mesmo assim, Santiago passou anos tentando transformar o sofrimento de sua família em algo positivo para sua comunidade. Como diretor da Jóvenes Contra la Violencia (Juventude Contra a Violência, em tradução livre), ele ajudou a transformar uma emergente organização comunitária sem fins lucrativos em uma das mais importantes forças que combatem gangues em Honduras.

Os maras, como são conhecidos em espanhol, fazem negócios que vão do tráfico de drogas à extorsão e roubo, cometendo regularmente assassinatos, agressões e estupros como uma forma de controlar comunidades inteiras. Eles procuram recrutar jovens vulneráveis, muitas vezes ameaçando matar suas famílias se resistirem.

“Minha família ainda não superou isso”

A Juventude Contra a Violência vira de cabeça para baixo as práticas das quadrilhas, trabalhando com jovens "embaixadores" que se envolvem com seus pares para fazer frente ao recrutamento, mostrando-lhes que futuros alternativos são possíveis.

O grupo - que começou há cerca de uma década e recebe apoio do ACNUR, Agência da ONU para Refugiados - conta atualmente com mais de 600 jovens embaixadores em Honduras, bem como com cerca de 200 embaixadores crianças, alguns com apenas seis anos de idade.

As gangues prosperam em bairros onde a pobreza é generalizada e a presença do Estado é fraca. Ao trabalhar em campo em algumas das comunidades mais marginalizadas do país para fortalecer os laços familiares e construir respeito pelos professores e escolas, o grupo tornou mais difícil para as quadrilhas recrutar jovens como soldados para administrar drogas e impor seu reinado de terror.

"A prevenção da violência começa em casa", disse Santiago. "Se crianças e adolescentes se sentirem amados e valorizados, é menos provável que sejam sugados para o turbilhão da criminalidade que inundou nosso país".

 

A violência em Honduras levou muitas pessoas a abandonar suas casas e comunidades. No final de 2019, a taxa de assassinatos no país era de 44 por 100.000 habitantes, segundo a Polícia Nacional. No mesmo período, pelo menos 148.000 hondurenhos haviam fugido do país e procurado asilo no exterior, o que tornou Honduras um dos dez principais países de origem de solicitantes de refúgio no mundo. Além disso, estima-se que cerca de 247.000 pessoas tenham sido deslocadas internamente em Honduras de 2004 a 2018.

A violência e seus efeitos são algo que Santiago conhece muito bem. As complicações em sua própria vida começaram depois que um parente se envolveu com uma gangue e acabou lhe devendo dinheiro. Em vingança, a gangue atingiu Maurício, irmão de Santiago, atirando nele mais de 30 vezes e forçando parte da família a se deslocar, primeiro dentro de Honduras e depois para o exterior.

Santiago voltou a Honduras depois de cerca de um ano e, contra as probabilidades, conseguiu permanecer distante daqueles que estavam atrás dele enquanto se dedicava a uma carreira no trabalho social.

“Em cada uma delas eu vejo o rosto de meu irmão”

"Eu gostaria que uma organização como a Juventude Contra a Violência tivesse existido antes que meu irmão fosse morto e antes que meu parente se envolvesse na venda de drogas", disse. "Pessoalmente, estou muito motivado a trabalhar com as crianças porque em cada uma delas eu vejo o rosto de meu irmão".

A organização também trabalha para reabilitar os jovens que em algum momento estiveram afiliados às gangues.

"Geralmente, existem apenas duas maneiras de sair de uma gangue", disse Santiago. "Entrando na igreja ou morrendo".

Mas nas comunidades onde a Juventude Contra a Violência é ativa, "há uma terceira alternativa: nossa organização", afirmou Santiago. "Os líderes das gangues conhecem nosso trabalho e sabem que quando os jovens estão conosco, não há como envolvê-los em mais nada".

Dentre aqueles cujas vidas foram mudadas pelo projeto está o artista Byron Espino, ex-membro de uma gangue que agora é voluntário da Juventude Contra a Violência. Ele dá aulas de arte como parte dos programas de educação continuada da organização. Byron lembra que as gangues entraram em cena para recrutá-lo depois que sua família desmoronou.

"Minha mãe morreu quando eu tinha sete anos e, logo depois disso, minha irmã morreu em um incêndio. Meu pai se tornou alcoólatra, e eu... fiquei sozinho. Foi quando entrei para a gangue", lembrou Byron, acrescentando que, como voluntário da Juventude Contra a Violência, seu objetivo é "mostrar às crianças o trapo sujo que minha vida costumava ser para que elas não se envolvam com as gangues".

Com contribuições de María Rubi, da Cidade do México.