Uganda abre fronteiras para milhares de pessoas que fogem da violência
Uganda abre fronteiras para milhares de pessoas que fogem da violência
Ela foi separada de sua família, está fraca e doente. Há quase um mês, Emmanuelle, 56 anos, está dormindo em uma barraca em um acampamento improvisado, no meio de uma floresta de solo árido. A temperatura noturna na região chega aos 10° C. Tudo o que ela possui para enfrentar o frio são as roupas que ela está vestindo.
Emmanuelle está entre as 45.000 pessoas que fugiram dos ataques no leste da República Democrática do Congo (RDC) que eclodiram em maio deste ano. Segundo representantes da comunidade, grupos armados começaram um tumulto violento na chefia de War-Palara, no território de Mahagi, incluindo assassinatos, violência sexual e roubos.
"No caminho, vi pessoas sendo mortas. Seus pertences e casas foram queimados e só restaram cinzas. Nada ficou como estava"
Quando a vila de Emmanuelle, Zulu, foi atacada por milícias armadas, casas foram incendiadas, seus vizinhos foram mortos e ela foi obrigada a fugir para salvar sua vida. "No caminho, vi pessoas sendo mortas. Seus pertences e casas foram queimados e só restaram cinzas. Nada ficou como estava", disse ela, com uma voz fraca.
Emmanuelle fazia parte de um grupo de pessoas que se aglomerou na fronteira entre Uganda e RDC buscando segurança. O grupo ficou preso em uma área remota e inacessível, uma vez que as fronteiras entre os dois países estavam fechadas em razão da pandemia de coronavírus, que também interrompeu a admissão de novos solicitantes de refúgio no país.
Leia também: ACNUR e OIM anunciam retomada das viagens de reassentamento para refugiados
Na quarta-feira, Uganda reabriu temporariamente dois pontos da fronteira, através de Guladjo e Monte Zeu, no distrito de Zombo, para oferecer um local seguro com acesso a ajuda e proteção. Cerca de 1.500 solicitantes de refúgio cruzaram a fronteira para Uganda. A fronteira permanecerá aberta até sexta-feira, quando a operação humanitária estiver concluída. Depois, fechará novamente até novo aviso.
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e parceiros, em coordenação com o governo local, têm trabalhado contra o tempo no distrito de Zombo para fortalecer a capacidade de receber essas pessoas, com medidas de isolamento na fronteira, buscando garantir níveis adequados de assistência emergencial.
Todos os recém-chegados passam por exames de saúde e segurança na fronteira. Pessoas mais vulneráveis como Emmanuelle são colocadas recebem assistência proritária.
A maioria dos solicitantes de refúgio que chegaram no primeiro dia de abertura de fronteira eram mulheres, crianças e idosos. Eles estavam com fome e cansados. Muitos também chegaram em um estado frágil por atravessar o caminho em situação precária - escondidos no mato nas últimas semanas, sem acesso suficiente a alimentos, água potável e abrigo.
O grupo ficará inicialmente em quarentena no Instituto Zewdu Farm, a 13 quilômetros da fronteira. O local pode acomodar cerca de 6.000 pessoas. O ACNUR e seus parceiros instalaram tendas, áreas de inspeção sanitária, banheiros, instalações para lavagem de mãos e tanques de água.
Após o período obrigatório de quarentena de 14 dias, seguindo as diretrizes e protocolos nacionais, os solicitantes de refúgio serão transportados para assentamentos de refugiados. Emmanuelle não sabe o que o futuro reserva para ela em Uganda, mas espera obter assistência médica e comida suficiente para se sentir alimentada. Não faz muito tempo, ela estava com sua família de oito filhos e 26 netos. Todos eles estavam trabalhando em suas terras e cultivando sua própria comida.
Há dois dias, ela se juntou a um grupo de solicitantes de refúgio e agora recebe refeições quentes, cobertores para se aquecer e uma tenda para dormir.
"As necessidades são enormes e crescentes"
Com 1,4 milhão de refugiados, Uganda é o país que mais acolhe refugiados na África. A chegada de novos solicitantes de refúgio está ocorrendo em um momento em que a resposta aos refugiados enfrenta vários desafios devido ao subfinanciamento, incluindo cortes severos na verba de alimentação.
Com 870 casos confirmados de COVID-19 em Uganda, dentre eles 52 refugiados, o ACNUR tem trabalhado com o governo e parceiros para construir e fortalecer instalações de isolamento e aumentar os suprimentos para lavagem das mãos e a disponibilidade de máscaras como parte do plano de resposta ao coronavírus.
Joel Boutroue, representante do ACNUR em Uganda, elogiou a decisão do país de abrir suas portas novamente para as pessoas que fogem para salvar suas vidas.
"Isso prova que, mesmo em meio a uma crise global como o COVID-19, existem maneiras de gerenciar as restrições nas fronteiras que respeitem os padrões internacionais de Direitos Humanos e proteção de refugiados", disse.
Muitas das instalações de transporte e recepção do ACNUR no país foram transformadas em centros institucionais de quarentena para a região, oferecendo apoio extra a centenas de ugandenses e refugiados diariamente. "As necessidades são enormes e crescentes", acrescentou Boutroue.
O ACNUR segue atuando no Brasil e no mundo para proteger refugiados, pessoas deslocadas e comunidades que os acolhem do novo coronavírus.
Faça uma DOAÇÃO AGORA para apoiar os nossos esforços. Você pode salvar vidas!