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Refugiados indígenas lutam contra o coronavírus na América Latina

Comunicados à imprensa

Refugiados indígenas lutam contra o coronavírus na América Latina

19 May 2020
Em meio à pandemia da COVID-19, refugiados e migrantes indígenas venezuelanos Warao foram transferidos para um espaço seguro em Manaus © ACNUR / Felipe Irnaldo

À medida em que a pandemia do novo coronavírus se espalha pela América Latina, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) alerta que muitas comunidades indígenas deslocadas agora estão perigosamente expostas e em risco.

Existem quase 5 mil venezuelanos indígenas deslocados no Brasil, principalmente da etnia Warao, mas também dos povos Eñapa, Kariña, Pemon e Ye'kwana. Com a COVID-19 atingindo intensamente essa região amazônica e o Brasil emergindo como epicentro da pandemia, o ACNUR se preocupa que muitos possam ter dificuldades em decorrência da falta de acesso à saúde e condições adequadas de saneamento.

Na Colômbia, vários grupos indígenas binacionais, incluindo Wayuu, Bari, Yukpa, Inga, Sikwani e Amorúa, vivem perto da fronteira com a Venezuela. Embora seus lares ancestrais abranjam ambos os países, muitos não foram capazes de regularizar sua permanência na Colômbia e não têm documentos. Alguns agora também enfrentam ameaças de grupos armados irregulares que controlam as áreas onde vivem.

O ACNUR está preocupado com o fato de quea vida desses indígenas venezuelanos esteja em alto risco em decorrência de questões de documentação, principalmente seu status irregular e condições de vida e habitação.

Muitos vivem em áreas isoladas ou remotas, onde não têm acesso a serviços de saúde, água potável e sabão. Outros vivem em moradias apertadas ou em assentamentos urbanos informais sem acesso a equipamentos de proteção. A maioria dos grupos indígenas fronteiriços está ameaçada de extinção física e cultural devido à falta de alimentos e desnutrição grave, que podem aumentar o risco de contágio. Essas áreas não possuem serviços de saúde adequados, o que agora pode agravar a situação atual.

As medidas nacionais de isolamento social também interromperam muitas de suas atividades de subsistência, como agricultura, venda de produtos e artesanato. Diante do aumento da pobreza e da miséria, alguns não têm outra opção senão vender mercadorias nas ruas para tentar sustentar suas famílias. Isso não apenas os expõe ao risco de infecção, mas também à estigmatização e discriminação, uma vez que são percebidos como incapazes de cumprir as medidas de isolamento e distanciamento físico.

Outras preocupações de proteção incluem um risco aumentado de recrutamento de crianças em certas áreas da Colômbia, onde o conflito armado não cessou. A educação também é um desafio, já que estudantes e professores indígenas em isolamento e situação de pobreza não têm meios de aprender à distância ou impulsionar educação virtual durante a pandemia.

Desde março, o ACNUR trabalha com governos nacionais para garantir que as medidas de prevenção e assistência à COVID-19 estejam presentes nas áreas remotas onde esses grupos encontraram segurança, além do trabalho com comunidades indígenas deslocadas no Brasil e na Colômbia sobre conscientização e prevenção da doença.

À medida que o número de casos suspeitos e confirmados aumenta e as primeiras mortes são relatadas entre as comunidades indígenas, o ACNUR ampliou seu apoio, apesar da grave falta de fundos.

Para tentar limitar a propagação e o impacto do vírus, o ACNUR está trabalhando com as autoridades nacionais para aumentar as capacidades dos sistemas de saúde. Novas estruturas, incluindo abrigos, instalações de atendimento e isolamento, bem como sistemas de alerta rápido também foram implementadas para responder à COVID-19 entre indígenas, venezuelanos deslocados e seus anfitriões.

No Brasil, o ACNUR está apoiando os esforços nacionais para garantir abrigo adequado aos refugiados indígenas Warao da Venezuela. Atualmente, cerca de mil indígenas se beneficiam dos serviços de abrigo, alimentação, assistência médica e educacional prestados pela Operação Acolhida, a resposta emergencial do governo ao fluxo venezuelano no Brasil. Além disso, cerca de 770 Warao foram realocados para abrigos municipais com melhores condições de higiene nas cidades de Manaus e Belém em resposta ao surto de coronavírus.

O ACNUR está facilitando a realocação, fornecendo suporte técnico e assistência material, incluindo redes mosqueteiras, kits de higiene, lâmpadas solares e transporte. O ACNUR também está continuando as sessões informativas sobre higiene e proteção, feitas nos idiomas Warao e Panare aos refugiados indígenas nessas cidades.

Na Colômbia, complementando os esforços nacionais, o ACNUR e os parceiros estão apoiando o Estado na distribuição de alimentos e fornecendo kits de higiene para os mais vulneráveis ​​entre as populações Yukpa e Wayuu, especialmente aqueles que vivem em assentamentos informais. Brigadas de saúde foram organizadas e linhas de proteção remota também foram ativadas pelo ACNUR e parceiros. As campanhas de promoção de informações e higiene personalizadas para as comunidades indígenas também continuam.

Apesar dos fortes esforços feitos pelos países anfitriões e pelas organizações humanitárias, é urgentemente necessário um maior apoio para continuar as intervenções que salvam vidas das comunidades indígenas, outros refugiados e comunidades que os acolhem.

Antes da conferência internacional de doadores para refugiados e migrantes venezuelanos na América Latina, organizada pela União Europeia e Espanha e marcada para a próxima terça-feira, o ACNUR está pedindo aos países que se comprometam a apoiar. Surpreendentemente, o Plano de Resposta Regional para refugiados e migrantes da Venezuela (RMRP) tem apenas 4% do seu financiamento garantido.

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