Refugiados fazem máscaras faciais para ajudar na crise da COVID-19
Refugiados fazem máscaras faciais para ajudar na crise da COVID-19
Com o avanço da pandemia de COVID-19, medidas básicas de proteção se tornam regra para tentar diminuir a curva de contaminação da doença. Uma delas é o uso de máscaras de proteção quando há necessidade de sair em público ou ao interagir com outras pessoas além daquelas que vivem juntas, rotina muito comum na vida de quem está acolhido em algum abrigo da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Brasil e no mundo.
Em uma ação inédita, a Fraternidade - Federação Humanitária Internacional (FFHI), organização parceira do ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), organizou um time de 14 voluntários tem como objetivo costurar mais de cinco mil máscaras em dez dias, sendo que 220 já estão prontas. As máscaras seguem as orientações da Organização Mundial da Saúde e serão destinadas aos próprios abrigados.
José Alexandre, de 20 anos, é um dos voluntários. Ele fez curso de costura e maquiagem na Venezuela. Membro da comunidade LGBT, José fica feliz em poder colaborar com a saúde de seus colegas de abrigo, usando seu talento e criatividade na produção das máscaras.
“Costurava minhas próprias roupas na Venezuela. Agora posso usar o meu talento para ajudar várias pessoas. Fico feliz em poder ajudar. Estamos ajudando o nosso próprio povo, que assim como eu, está aqui em busca de refúgio”, conta José.
O projeto recebe o apoio de doadores como o Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que realiza importantes contribuições feitas sem destinação específica, que permitem uma maior flexibilidade para o uso desses recursos, possibilitando que o ACNUR e seus parceiros desenvolvam diferentes projetos e ofereçam proteção aos mais vulneráveis em contexto emergencial.
Outros exemplos ao redor do mundo
Quase três semanas depois que o Quênia confirmou seu primeiro caso de COVID-19, o governo emitiu uma orientação exigindo que todos usassem máscaras faciais em locais públicos. No mesmo dia, máscaras de tecido reutilizáveis se tornaram o acessório mais cobiçado do país.
Maombi Samil, refugiado de 24 anos da República Democrática do Congo, administra uma empresa de design de moda e alfaiataria no campo de refugiados de Kakuma, no noroeste do Quênia. Naquele momento, ele percebeu uma oportunidade de reinventar suas habilidades.
“Eu queria usar meu talento e tecidos disponíveis na comunidade para mostrar que nós, refugiados, também podemos contribuir para o combate à pandemia”
“Havia uma escassez de máscaras e eu tinha encontrado modelos delas na internet”, disse Samil, conhecido profissionalmente como Designer Samir. “Eu queria usar meu talento e tecidos disponíveis na comunidade para mostrar que nós, refugiados, também podemos contribuir para o combate à pandemia, não apenas contar com assistência.”
Usando algodão estampado conhecido como tecido-de-Ancara, Samir e sua equipe de três pessoas começaram a trabalhar em máquinas de costura. Em uma semana, foram entregues 300 máscaras no escritório do ACNUR em Kakuma, que foram distribuídas aos funcionários que trabalham lá. Samir também forneceu máscaras a refugiados e moradores locais que não tinham dinheiro para comprá-las em sua loja.
“Vivemos em uma comunidade com muitos outros refugiados e será difícil distinguir quem tem o vírus e quem não tem”, disse Samir. “O distanciamento social não é possível nos campos. O melhor que podemos fazer é nos proteger ao máximo.”
Samir não está sozinho nessa. À medida que os países vão recomendando ou determinando que seus cidadãos usem proteção facial para conter a disseminação de coronavírus, alfaiates e artesãos refugiados do mundo todo estão se esforçando para ajudar.
Na cidade alemã de Seddiner See, perto de Potsdam, uma família de quatro refugiados sírios trabalha incansavelmente para fornecer máscaras para enfermeiras do hospital local, que enfrenta escassez desses suprimentos. Rashid Ibrahim, alfaiate por profissão, não hesitou quando seu amigo alemão Bodo Schade o pediu ajuda. Sua esposa, Fátima, e suas duas filhas estão trabalhando com ele para cortar, separar e contar as máscaras.
“Se nós podemos retribuir algo à Alemanha, estamos felizes com isso”
Quando a imprensa soube dos esforços da família, Rashid recebeu financiamento para continuar. Ele recusou, enfatizando que não queria nenhum pagamento.
“Fomos muito bem recebidos em Seddiner See”, explicou Fátima. “Encontramos abrigo, temos empregos, nossos filhos podem ir à escola. Se podemos devolver algo à Alemanha, estamos felizes com isso.”
Além das máscaras faciais, equipamentos de proteção individual (EPIs) estão em falta no mundo inteiro. Eles são necessários para proteger os profissionais de saúde na linha de frente contra o coronavírus.
Depois que Sasibai Kimis, fundadora da Earth Heir, uma empresa social da Malásia, soube que trabalhadores da linha de frente nos hospitais e clínicas do país estavam improvisando EPIs com sacolas plásticas, ela decidiu agir, mas de uma maneira que também beneficiasse os refugiados. A empresa trabalha habitualmente com artesãos que foram obrigados a saírem de seus países. Eles produzem joias bordadas e outros artesanatos para a MADE51, uma iniciativa do ACNUR para impulsionar produtos feitos por refugiados.
Em uma oficina cuidadosamente higienizada, refugiados do Afeganistão, de Mianmar e da Síria estão produzindo EPIs: batas, toucas e protetores de sapato.
“Nossos objetivos são apoiar e honrar nossos heróis da linha de frente e continuar a fornecer renda aos artesãos refugiados”, explicou Xiao Cheng Wong, diretora da Earth Heir. “Eles são um dos grupos mais vulneráveis durante esta pandemia e os mais atingidos durante uma crise econômica”.
Um dos refugiados, Sajad Moradi, do Afeganistão, disse que produz entre 15 e 20 séries de EPI por dia, ganhando o suficiente para suprir a renda que havia perdido como resultado da pandemia. “Sentimos muito orgulho de poder contribuir trazendo benefícios em agradecimento à Malásia”, disse.
A Earth Heir aceitou uma encomenda e um grupo de refugiados de Mianmar irá confeccionar 4.000 toucas para um hospital. Eles aprenderam a costurar através de um programa do ACNUR apoiado pela varejista de moda UNIQLO.
- Leia também: “A resposta do ACNUR está focada em salvar vidas de refugiados, migrantes e população local”
Em outras partes do mundo, onde os bloqueios impostos para conter a disseminação do coronavírus tiveram um impacto profundo nos meios de subsistência dos refugiados, transformar empreendimentos de alfaiataria em fabricação de máscaras proporcionou um alívio para essas pessoas.
Fatouma Mohamed, uma refugiada do Mali que mora nos arredores de Niamey, capital do Níger, costumava fabricar e vender artesanato tradicional em couro tuaregue. Mas depois que as autoridades impuseram um toque de recolher e isolaram a cidade do resto do país, os negócios pararam.
Fatouma viu uma oportunidade na decisão das autoridades de tornar obrigatório o uso de máscaras em Niamey. Agora ela as fabrica e revende para ambulantes que surgiram em quase todas as esquinas de Niamey desde que a pandemia foi declarada. “Eu vendo meus produtos por 300 francos CFA da África Ocidental (R$ 2,70) a unidade. Sei que esse é um negócio temporário, mas com o dinheiro que ganho, posso continuar sustentando meus três filhos.”
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O ACNUR segue atuando no Brasil e no mundo para proteger refugiados, pessoas deslocadas e comunidades que os acolhem do novo coronavírus.
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