Escassez de alimentos causa evasão nos campos do Sudão do Sul
Escassez de alimentos causa evasão nos campos do Sudão do Sul
CAMPO DE REFUGIADOS DE GENDRASSA, Sudão do Sul, 11 de junho (ACNUR) - Com treze anos de idade, Mohamed Jaffir é uma das centenas de crianças sul-sudanesas forçadas a colher as folhas amargas e os galhos de lalop para complementar as necessidades alimentares de sua família no campo de refugiados de Gendrassa.
A área ao redor do campo, no condado de Maban, Sudão do Sul, é desértica, mas é provida de lalop; crianças sobem no alto da árvore e jogam os galhos mais jovens para as crianças menores que estão no chão, arrancando as folhas mais tenras. Milhares abandonaram a escola em busca de alimento nos quatro campos de refugiados do condado.
A poucos metros de distância de Mohamed, sua mãe está na fila para receber uma ração, de cinco dias, de sorgo, lentilha e óleo. A experiência no campo fez com que os refugiados manifestassem que essa quantidade não duraria muito tempo. Folhas silvestres, raízes e bagas são uma forma de complementar as quantidades reduzidas de rações, especialmente durante longos períodos entre as distribuições de alimentos.
A evasão escolar se tornou um grande problema, pois as crianças sacrificam sua educação e gastam seu tempo colhendo as folhas e bagas de lalop, descascando brotos frescos das árvores de baobás e cavando raízes na terra que se abrandaram desde que as chuvas começaram. Embora os líderes da comunidade tenham sido abordados pelo ACNUR com relação à frequência regular na escola, a resposta tem sido insignificante.
Mohamed diz que usa as tardes para colher as folhas. Sua mãe depende dele para cuidar de seus cinco irmãos mais novos - cujas idades variam de dois a doze anos de idade - e ajudar a colocar comida na mesa. Magro e forte, ele mostra uma porção de galhos em sua mão. "Esses são os que os camelos não morderam", ele disse enquanto jogava os galhos para baixo. "Minha mãe os cozinhará com o sorgo que receberemos hoje".
A árvore de lalop é predominante na região e suas folhas são comestíveis, mas amargas. Algumas crianças bem jovens têm dores de estômago após comê-las.
Osman Difala, um senhor que vive no campo de Gendrassa, é bem conhecido por sua defesa com relação à importância da educação para as crianças refugiadas e lamenta a atual situação. "Isso é algo que nós não gostamos de ver, mas sem comida, as crianças não podem continuar indo à escola", ele disse.
Qualquer queda das árvores de lalop, que medem entre 15 e 23 metros de altura, pode ser desastrosa para uma criança. Difala está angustiado, pois crianças estão morrendo em quedas das altas árvores. Duas crianças, por volta de oito anos de idade, caíram e morreram nos campos de Gendrassa e de Kaya.
Outros sofrem ferimentos, pois sobem bem no alto dos troncos retorcidos para conseguir as folhas que estão aptas a serem colhidas. Difala acrescenta que alguns pais também mandam as crianças de volta para as casas que fugiram do Nilo Azul, estado fértil sul-sudanês, para ajudar a cultivar lotes familiares a fim de garantir uma rede de segurança alimentar, em outro lugar, contra a escassez de comida.
Jockshan Foryoh, um oficial de educação do ACNUR, disse que o registro escolar é a maior vítima da escassez de comida nos quatro campos de refugiados de Maban, que abrigam perto de 125.000 pessoas.
"Desde fevereiro deste ano, o número de matriculados caiu para cerca de 20.000 quando comparado aos 30.000 estudantes inscritos ano passado", ele disse. Por mais de um ano, Foryoh conduziu intervenções do ACNUR na área da educação, incluindo o melhoramento das salas de aula, que antes eram em tendas e agora são em estruturas semipermanentes; o fornecimento de artigos de papelaria e livros didáticos; o registro e o treinamento de professores; o fornecimento de cursos de inglês; e a emissão de uniformes para quase todos os alunos das escolas de refugiados.
"A escassez de alimentos está impedindo as crianças de frequentarem a escola regularmente. Isso faz com que fracassem os nossos esforços para promover o desenvolvimento da criança, construir suas habilidades, capacidades e força desde a infância, passando pela adolescência e chegando ao início da vida adulta", disse Foryoh. "Se nós não formos capazes de manter as crianças na escola, 2014 será um ano perdido".
Por Pumla Rulashe no Campo de Refugiados de Gendrassa, Sudão do Sul