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Sudanês oferece abrigo a refugiados na Líbia

Comunicados à imprensa

Sudanês oferece abrigo a refugiados na Líbia

9 Abril 2020
Osman (centro) com Rahma (esquerda) e Hayat (direita). Ele segura Almaz, filha de Hayat © ACNUR / Mohamed Alalem

Em 2003, Osman fugiu da guerra civil em Darfur, Sudão, depois de testemunhar o assassinato do seu pai e o saqueamento da propriedade de sua família. Na época, ele tinha apenas 19 anos. Com medo de perder a vida, Osman atravessou a fronteira rumo à Líbia por conta própria, deixando todos que conhecia para trás.

No começo, ele lutou para encontrar trabalho na capital Trípoli, onde não conhecia ninguém, mas finalmente encontrou um trabalho informal no setor da construção. Agora com 35 anos, Osman se lembra do desespero que sentiu como um refugiado recém-chegado na Líbia, e prometeu ajudar outras pessoas que também se esforçam para reconstruir suas vidas no país.

Desde 2016, ele abre sua casa para famílias, mães solteiras, menores desacompanhados e pessoas com sérias condições médicas. Nesses quase quatro anos, Osman já hospedou mais de 200 refugiados em sua casa de três quartos escassamente mobiliada no centro de Trípoli.

"Eu sei o valor de encontrar uma mão amiga"

"Ajudar outras pessoas necessitadas me dá um propósito na vida", explicou Osman. "Eu já fui um estranho nesta cidade sem ninguém a quem recorrer, e sei o valor de encontrar uma mão amiga."

Seus esforços fizeram parte de um programa de cuidadores administrado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados. O projeto faz uma ponte entre indivíduos em situação de vulnerabilidade e voluntários mais estabelecidos até que possam se sustentar.

O programa tornou-se ainda mais vital à medida que a situação se torna mais desafiadora para refugiados e solicitantes de refúgio na Líbia. O conflito e a instabilidade crescentes desde a revolta de 2011 que tirou Muammar Gaddafi do poder, deixaram esta população e outras pessoas vulneráveis ​​à exploração e abuso nas mãos de grupos armados e redes criminosas.

Voluntários como Osman, que apesar dos riscos optaram por permanecer no país devastado pela guerra, podem oferecer um local seguro, amizade e apoio aos companheiros refugiados.

Os convidados mais recentes que ficaram com Osman no bairro densamente povoado onde ele mora eram duas jovens eritreias e seus filhos, Hayat e o filho Zuhair, de quatro anos, e Rahma e sua filha Almaz.

Devido ao número limitado de cuidadores e à urgência de encontrar um abrigo para as duas mulheres vulneráveis, Osman foi selecionado como o candidato mais adequado. Como acontece com todos os participantes da iniciativa, os parceiros do ACNUR analisam os possíveis anfitriões e fazem visitas regulares de monitoramento. O objetivo é garantir que as condições de vida sejam adequadas e que os hóspedes se sintam confortáveis ​​e seguros.

Hayat, 22 anos, cresceu na Etiópia. Ela deixou a Eritreia quando tinha apenas quatro anos de idade. Depois de se casar, ela e o marido decidiram deixar o país em busca de um futuro melhor.

Eles chegaram à Líbia na esperança de cruzar o mar rumo à Europa para começar uma nova vida. Mas foram mantidos em cativeiro por contrabandistas, que exigiram US$ 10.000 por sua libertação: uma quantia que eles não tinham como pagar.

Enquanto estava em cativeiro, Hayat - que estava grávida - e seu marido eram espancados regularmente. Um dia, enquanto tentava defender sua esposa, o marido de Hayat foi assassinado na sua frente.

"Minha vida se transformou em escuridão"

Após esse terrível incidente, os traficantes deixaram Hayat partir. Sozinha e desorientada, ela caminhou por horas tentando chegar à cidade mais próxima, mas foi presa em um posto de segurança por não ter documentos e por ter entrado no país de maneira irregular.

Ela acabou em um centro de detenção administrado pelas autoridades líbias por meses, até que funcionários do ACNUR visitaram o centro, a registraram e advogaram por sua libertação.

"Desde que deixamos a Etiópia, minha vida se transformou em escuridão", disse Hayat. "Perder meu marido foi a coisa mais difícil pela qual passei. Hoje, porém, meu filho me dá forças e espero continuar, embora haja pouco que eu possa oferecer a ele neste país. Eu não posso nem levá-lo para a escola."

Atualmente, Hayat é uma dos mais de 40.000 refugiados e solicitantes de refúgio que vivem nas áreas urbanas da Líbia. Ela é grata por ter conhecido Osman, que ela considera um irmão mais velho.

Juntamente com Rahma e sua filha, os cinco conversaram sobre suas experiências e o que deixaram para trás, mas também sobre suas esperanças para o futuro. Seus momentos favoritos eram passados ​​em volta da mesa de jantar, contando histórias e piadas enquanto compartilhavam uma refeição.

"Hayat tem sido muito corajosa"

Graças à generosidade de Osman e de outras pessoas como ele, o programa dos cuidadores atualmente oferece abrigo e apoio a dezenas de refugiados e solicitantes de refúgio. O ACNUR espera expandir o número de anfitriões para acomodar casos mais vulneráveis.

Osman recentemente deixou o programa de cuidadores para trabalhar no ACNUR como mobilizador comunitário. Agora ele fornece à comunidade informações e conselhos sobre a assistência disponível e sinaliza ao ACNUR e seus parceiros casos específicos que requerem apoio extra.

Dadas suas próprias experiências, Osman entende as dificuldades que pessoas como Hayat enfrentam tentando sobreviver na Líbia e está feliz por ter feito o possível para ajudá-la.

"Na Líbia, é extremamente difícil para uma mãe solteira encontrar trabalho e cuidar de seu filho ao mesmo tempo", disse Osman. "Hayat tem sido muito corajosa."