Insegurança agrava a situação dos deslocados internos em Bangui
Insegurança agrava a situação dos deslocados internos em Bangui
BANGUI, República Centro-Africana, 4 de junho (ACNUR) - Rebecca* está nervosa. Ela cerra os punhos e seus olhos observam, mantendo-os fixos em alguém ou alguma coisa. Ela se senta em uma cadeira e, com uma voz trêmula, conta sobre o recente estupro em M'Poko, um lugar que abriga milhares de pessoas deslocadas pela violência em Bangui.
Ela é uma das muitas preocupantes testemunhas do alarmante aumento da insegurança no maior abrigo para deslocados internos na República Centro-Africana (RCA). Em resposta, os deslocados internos criaram um mecanismo para alertar sobre a violência no local e o ACNUR está trabalhando, em conjunto com seus parceiros, para proteger as pessoas em M'Poko e aumentar a segurança, mas essa situação continua sendo motivo de grande preocupação.
Para Rebecca, de 22 anos, a agressão continua viva na mente dela. "Eu fiquei apavorada quando vi oito homens chegando, cerca de 10 horas da noite", ela disse ao ACNUR. "Meus gritos não foram o suficiente para impedi-los de invadir minha cabana, me agarrar e me machucar. Parecia que horas haviam se passado até que os vizinhos chegassem e os perseguissem". Ela foi levada para uma clínica em M'Poko, ficando lá por dias até retornar para sua cabana, local onde tudo aconteceu.
Para piorar as coisas, o terrível ataque veio quando ela ainda estava de luto pelo assassinato de seu marido, um oficial do exército. Ele foi traído por um amigo e morto por membros do grupo armado Seleka em dezembro passado, logo no início de uma nova onda de violência intercomunal.
"Isso nunca teria acontecido se meu marido não tivesse morrido nas mãos do Seleka", disse Rebecca sobre o estupro dela. Depois da sua morte, ela encontrou sua casa saqueada – "Não deixaram nada. Nem camas, nem roupas e nem utensílios de cozinha”. Então, ela decidiu ir para M'Poko com seus três filhos.
Como muitas outras mulheres e meninas, ela pensou que estaria segura em M'Poko, localizado perto do aeroporto de Bangui e que agora é o lar para mais de 52.000 deslocados internos, sendo a maioria cristãos. Essas pessoas não estão prontas para retornar aos seus bairros, pois ainda permanecem voláteis.
No entanto, a segurança em M'Poko foi se deteriorando e dificultando os esforços para o fornecimento de proteção e entrega de assistência. Os parceiros do ACNUR têm monitorado o aumento do número de casos de roubo, estupro, assassinato e sequestro, envolvendo resgate ou tortura no local, perpetrados pelos grupos armados.
Os deslocados internos têm tomado medidas na tentativa de resolver o problema, incluindo o lançamento de um mecanismo de alerta. Eles utilizam uma linha direta para relatar os incidentes de segurança e para obter informações acerca serviços, médicos, jurídicos entre outros, disponíveis. Ademais, a comunidade está recebendo treinamento sobre proteção e monitoramento, e os parceiros do ACNUR estão em contato com a equipe de segurança para melhorá-la em M'Poko.
O perigoso ataque físico, como o de Rebecca, não é a única ameaça à segurança dos deslocados. Na maior parte dos 43 locais para deslocados em Bangui, que abrigam mais de 130.000 pessoas, o início da temporada das chuvas traz riscos para a saúde por conta do pobre sistema de drenagem, que pode contribuir para a disseminação de doenças. A pobreza exacerbada do solo agrava os problemas de drenagem, deixando poças de água parada onde mosquitos se reproduzem.
O ACNUR está trabalhando para resolver este problema, facilitando o retorno desses deslocados para casa. Os parceiros facilitam encontros entre os líderes da população deslocada e as autoridades distritais em Bangui.
Para Rebecca, no entanto, o retorno não é uma opção, pois ela teme por sua vida ao retornar para casa, no distrito de Miskine. Em casos como o dela, o ACNUR está trabalhando com seus parceiros para assistir aos deslocados satisfazendo suas necessidades básicas nos campos. A agência também está trabalhando com as autoridades nacional e municipal para criarem locais, em Bangui, onde as pessoas vivam, pelo menos, em condições de segurança e dignidade durante a temporada das chuvas.
Enquanto isso, em Bangui e nas cidades vizinhas de Bimbo e Begoua, uma avaliação está sendo feita para determinar o quão danosa estão às condições das casas. A missão de avaliação será seguida pela distribuição de kits de abrigo para reparos domésticos.
Rebecca, ao mesmo tempo, ingenuamente espera que algum dia seus agressores sejam levados à justiça. “Meu sonho é de ter um futuro melhor, que meus filhos possam continuar seus estudos em meio à paz e à segurança", disse ela, refletindo as esperanças de muitos.
*Nome alterado por razões de proteção.
Por Aikaterini Kitidi em Bangui, República Centro-Africana