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Solicitantes de refúgio sofrem sem atendimento médico na Grécia

Comunicados à imprensa

Solicitantes de refúgio sofrem sem atendimento médico na Grécia

28 Fevereiro 2020
Sardar, um médico que fugiu do Afeganistão depois de receber ameaças de morte, observa um raio-X de um solicitante de refúgio com câncer no centro de recepção e identificação de Moria, em Lesvos © ACNUR / Achilleas Zavallis

No ano passado, as condições no maior centro de acolhimento para solicitantes de refúgio nas ilhas gregas eram sombrias. As pessoas careciam do básico em termos de higiene, banheiros, segurança e serviços médicos, e o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, pediu urgentemente por melhorias.

Desde então, as coisas em Moria se tornaram ainda mais difíceis.

Sardar, um solicitante de refúgio do Afeganistão, sente os problemas na pele. Durante anos, ele trabalhou como médico em um hospital no norte do Afeganistão e morou em uma casa grande. Mas então ele foi forçado a fugir.

Desde as últimas semanas, sua casa tem sido uma pequena tenda nos limites do centro. Ele mora lá com a esposa, os quatro filhos e o sogro, que ficou cego em um ataque de mísseis anos atrás e precisa de cuidados.

"A vida é muito difícil aqui... As condições neste campo não são aceitáveis", disse Sardar.

Os refugiados falam sobre a realidade terrível que enfrentam no campo de Morvos, em Lesvos (Rima Cherri, produtora / Bela Szandelszky, editora de câmera)

Uma das principais razões para a escassez de recursos é a falta de agilidade na transferência de solicitantes de refúgio para acomodações apropriadas no continente. Enquanto novas pessoas continuam chegando, pouquíssimas conseguem sair, e os números continuam crescendo.

Moria é o maior dos cinco centros nas ilhas gregas do Mar Egeu e tornou-se um símbolo da resposta da Europa à chegada de solicitantes de refúgio e migrantes vindos em barcos da Turquia. O centro foi construído para abrigar cerca de 2.200 pessoas. No entanto, nos últimos meses a população da região aumentou para mais de 18.000 pessoas. A maioria dos recém-chegados, como Sardar, está alojada em abrigos improvisados ​​em um olival próximo.

Agora, a maioria das pessoas precisam andar mais e ficar na fila por horas para conseguir comida, água e tomar banho. Sacos de lixo estão espalhados por todo o centro e cortes de eletricidade são frequentes. No assentamento informal, cada banheiro é compartilhado por mais de 100 pessoas. Muitos adultos recorrem ao uso de fraldas à noite para evitar ter que deixar suas barracas e ir ao banheiro no escuro.

 

O ACNUR está novamente pedindo à Grécia que intensifique os esforços para combater a superlotação e melhorar as condições no local. Em apelo ao governo grego, foi feito um pedido para que medidas emergenciais sejam adotadas para acelerar seus planos de transferir um número maior de solicitantes de refúgio para acomodações apropriadas no continente.

“O ACNUR está pronto para ajudar com transferências para o continente e para encontrar maneiras rápidas de aumentar a capacidade de recepção, com assistência financeira para possibilitar que os solicitantes aluguem um apartamento, além de criar novos locais de acomodação”, afirmou o Representante do ACNUR na Grécia, Philippe Leclerc.

Sob o programa ESTIA (apoio emergencial à integração e acomodação, em tradução livre), financiado pela Comissão Europeia, o ACNUR e o governo grego estão apoiando alguns dos solicitantes de refúgio mais vulneráveis com 25.700 vagas em apartamentos em toda a Grécia, em parceria com prefeitos e ONGs. Mais de 90.000 solicitantes de refúgio e refugiados recebem assistência financeira mensalmente através do mesmo programa.

Sardar está muito frustrado com esta situação. Como médico, ele se sente capaz de ajudar, mas suas qualificações são reconhecidas apenas em seu país de origem.

Assim, ele passa a maioria dos dias em filas para coletar comida e água. Certo dia, ele foi com seus filhos a um ponto de coleta de água, mas as torneiras secaram e eles não foram capazes de encher suas garrafas de plástico.

Caminhando de volta por uma trilha lamacenta, ele encontrou outro afegão, Abdul, 67 anos, sentado em um banquinho do lado de fora de sua barraca. No Afeganistão, Abdul havia sido diagnosticado com câncer de pulmão. Abdul disse que foi tratado com nada além de paracetamol desde que chegou ao campo.

Sardar só pôde examinar seus raios-X, segurando-os contra a luz do sol e depois encolher os ombros, impotente.

 

Os médicos de Moria e do hospital local estão sobrecarregados. ONGs e médicos voluntários trabalham dia e noite. Mesmo assim, muitas vezes eles só conseguem atender os casos mais urgentes e até condições crônicas graves são deixadas sem tratamento.

Apesar das condições, as pessoas fazem todo o possível para tornar a vida mais confortável para suas famílias. O lixo enche os becos, mas as barracas são mantidas limpas e arrumadas. As famílias fazem pão todos os dias em fornos que cavaram na terra. As crianças não recebem educação formal, mas muitas brincam, com bolinhas de gude ou de futebol.

Ao mesmo tempo, muitas famílias enfrentam problemas que não podem resolver por conta própria.

Um pai sírio conta sobre a sua filha de quatro anos que perdeu a audição há dois anos quando uma bala atingiu a casa da família no leste da Síria. Eles chegaram a Moria em outubro de 2019, mas foram informados de que precisam procurar um especialista em Atenas para um diagnóstico completo e possível tratamento. Por enquanto, eles não têm outra opção senão esperar.

"As crianças da idade dela estão aprendendo as primeiras letras e falando corretamente e isso parte meu coração", disse. "Ela não consegue ouvir para aprender."

As autoridades tentaram melhorar a situação das pessoas consideradas mais vulneráveis, como menores desacompanhados e mães solteiras. Mesmo assim, o aumento nos números significa que as pessoas forçadas a esperar pela ajuda de que precisam agora precisam esperar ainda mais.

O ACNUR está pedindo aos Estados membros da União Europeia que demonstrem sua solidariedade e ajudem a aliviar a pressão com a realocação de solicitantes de refúgio.