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Maestro João Carlos Martins emociona refugiados e migrantes durante apresentação em Roraima

Comunicados à imprensa

Maestro João Carlos Martins emociona refugiados e migrantes durante apresentação em Roraima

26 Fevereiro 2020
Maestro João Carlo Martins se apresenta no maior abrigo para refugiados e migrantes na América Latina ©ACNUR / Allana Ferreira

Conhecido mundialmente no circuito de música erudita, o maestro e pianista brasileiro João Carlos Martins usou mais uma vez a música para romper barreiras e unir nações. Em uma recente visita a Roraima, ele levou música e inspiração às famílias que vivem no abrigo temporário para refugiados e migrantes venezuelanos Rondon 3, o maior abrigo para esta população na América Latina.

O maestro estava em Boa Vista, capital de Roraima, para capacitar músicos locais por meio do projeto “Orquestrando o Brasil”. E aproveitou para conhecer o Rondon 3, um dos  13 abrigos que funcionam no âmbito da Operação Acolhida – resposta humanitária emergencial liderada pelo governo brasileiro e apoiada pelas Nações Unidas, ONGs e o setor privado.

Em um palco montado no pátio do abrigo, o maestro – reconhecido como um dos maiores intérpretes do músico barroco Johann Sebastian Bach – fez uma pequena e emocionante apresentação para a população acolhida no abrigo, tocando em um piano elétrico alugado especialmente para a ocasião.

Sensível e atento às especificidades do público, João Carlos Martins se dirigiu à plateia  em espanhol, compartilhando um pouco da sua história de superação – ele enfrentou problemas de saúde que comprometeram sua coordenação motora e quase o afastaram definitivamente dos palcos, mas voltou a tocar e a reger com o uso de luvas biônicas.

Para as famílias venezuelanas, ele contou que mesmo com muitos não acreditando que ele poderia voltar a tocar e reger, ele não desistiu e está de volta aos palcos e salas de concerto. Desta forma, convidou cada refugiado a também não desistir de seus sonhos.

O músico e pai Guillermo Martine segurando o seu “cuatro”, sua esposa Katty Pereira e seus três filhos, sendo o mais novo Anrel segurando seus “macarates” ©ACNUR / Allana Ferreira

Na plateia, estava a família de Guillermo Martine, 53 anos, que veio para o Brasil em setembro de 2019, e desde então vive no abrigo com sua esposa Katty Pereira, 45 anos e seus três filhos. Guillermo, que também é músico, tinha um grupo de Llanera, ritmo tradicional na Venezuela. Solista do grupo, ele teve que sair de seu país ao ser diagnosticado com câncer. Sem acesso a tratamento ou medicamentos, Guillermo e sua deixaram tudo para trás e buscaram ajuda no Brasil. E Guillermo fez questão de trazer seus instrumentos musicais até o Brasil: um “cuatro” (peculiar violão venezuelano de quatro cordas) e seu “maracate” (chocalho de percussão venezuelano).

“Sinto muita falta de ter um grupo musical”, explicava Guillermo, pouco antes da apresentação do maestro. A música não saiu de seu coração, e ensinou o filho mais novo, Anrel Guillermo, de 9 anos, a tocar o maracate. “Pelo menos assim ele me acompanha, e como ele gosta de música, de alguma forma eu continuo a tocar”, dizia o pai, com saudosismo.

Mas o desejo do músico venezuelano foi atendido quando ele menos esperava. Em uma articulação entre Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), organização parceira do ACNUR que administra o abrigo, e o comando da Operação Acolhida, a família de Guillermo foi convidada a dividir o palco com o grande maestro brasileiro.

 

Durante a apresentação de Guillermo, Katty e o pequeno Arnel, o maestro os acompanhou improvisando pequenos acordes durante a cantoria – o que comoveu todo o abrigo. “Estamos lisonjeados de receber um músico deste nível aqui no abrigo. Para nós, isso foi uma benção, e a história do maestro é como se fosse um milagre que nos inspira a continuar”, disse emocionada a venezuelana Katty.

“A música tem o poder de mover pessoas, romper barreiras e unir nações. Por meio da música as palavras solidariedade, amor e paz tomam forma na humanidade”, fala com paixão o experiente maestro. João Carlos Martins tocou músicas clássicas conhecidas, e contou também com a participação do violinista venezuelano Rafael Dommar, que o acompanhou tocando Ave Maria para o público.

O abrigo Rondon 3 acolhe atualmente cerca de 1.100 pessoas, entre adultos, idosos, jovens e crianças. Dentro dos abrigos os refugiados e migrantes recebem alimentação, kits de higiene, além de recursos básicos como banheiros, abrigos por família, assistência na área de saúde, educação, capacitação profissional, projetos culturais e informções diversas para demais necessidades.

O abrigo Rondon 3 acolhe atualmente cerca de 1.100 pessoas, entre adultos, idosos, jovens e crianças. Os abrigos para refugiados e migrantes da Operação Acolhida são administrados pelo ACNUR com o apoio das organizações parceiras AVSI e FFHI ©ACNUR / Allana Ferreira

No sábado a noite, dia 15, ele fez uma apresentação gratuita para toda a cidade de Boa Vista na Praça Fábio Marques Paracat, organizada pela prefeitura. Em entrevistas o pianista e maestro ressaltou o potencial do estado de Roraima em crescer musicalmente com a troca de experiências entre músicos roraimenses e venezuelanos. “Roraima tem um grande potencial de virar um epicentro musical usando os talentos locais e os que estão chegando da Venezuela”, enfatizou o maestro.

Iniciativas como essas mostram como a cultura e a música podem influenciar positivamente mesmo em um contexto de crise humanitária. “A presença do maestro no abrigou demonstrou como essas  atividades são significativas para os que estão em condição de refúgio, trazendo um senso de humanidade comum”, ressalta Esther Benizri, chefe do sub escritório do ACNUR para Boa Vista. Ele lembra que, durante a apresentação, os refugiados cantaram juntos, tornando este momento único. “Com a magia operada pelo maestro João Carlos Martins, por um momento o abrigo para refugiados se tornou um lugar de uma beleza única”.

Somos iguais – O maestro João Carlos Martins tem um envolvimento anterior com a causa do refúgio. Em 2016, ele participou do projeto “Somos Iguais”, um coral de jovens e crianças refugiadas criado para auxiliar a integração delas e de seus familiares na sociedade brasileira. O coral já realizou várias apresentações sob a batuta do maestro, que sempre se dedicou com grande afinco à preparação e apresentação dos jovens cantores.