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Com celulares na mão, venezuelanas acessam direitos e encurtam distâncias no Brasil

Comunicados à imprensa

Com celulares na mão, venezuelanas acessam direitos e encurtam distâncias no Brasil

3 Fevereiro 2020
Do WhatsApp até descontos no supermercado, as venezuelanas Jessica e Jennifer usam seus smartphones para acessar direitos, serviços e se comunicar com as famílias, que vivem em outros países © ACNUR/Victoria Hugueney

Há dois anos, Jessica se viu diante de uma situação que mudou para sempre a sua vida. Na época, o filho Sebastian tinha apenas um mês de idade e não conseguia atendimento médico adequado para tratar as crises de epilepsia. Foi então que a mãe viu que permanecer na Venezuela não era mais uma opção.


Assim que chegaram no Brasil, Jessica e Sebastian viveram nas ruas Boa Vista, no estado brasileiro fronteiriço com a Venezuela. Pouco tempo depois, foram abrigados e posteriormente interiorizados para Brasília, capital do país.  

“Meu filho tem epilepsia, por isso decidi abandonar a Venezuela e chegar aqui, onde ele poderia ter mais cuidados médicos”

“Meu filho tem epilepsia, por isso decidi abandonar a Venezuela e chegar aqui, onde ele poderia ter mais cuidados médicos. Foi uma decisão minha de vir sozinha e enfrentar essa dificuldade pela segurança do meu filho”, contou Jessica, solicitante de refúgio Venezuelana, no abrigo onde vivem.  

Agora que sua primeira prioridade foi cumprida - de abrir os caminhos para o acompanhamento médico do filho, que conseguiu graças a sua busca por informações e apoio humanitário ao longo de sua jornada -, o que Jessica mais busca são informações sobre acesso a geração de renda. “O que quero é mais informação sobre emprego, principalmente porque tenho um filho pequeno que não tenho com quem deixar para sair em busca de algo”, completa.    

A comunicação foi um elemento central durante a jornada de Jessica até o Brasil e também no seu processo de integração local. Além de constantemente se comunicar com a família para falar sobre o crescimento do filho Sebastian, ela frequentemente procura informações sobre documentação e acesso a serviços.   

Ela consegue realizar essas tarefas graças ao acesso que tem à internet e aparelhos celulares, bem como ao apoio que recebeu das organizações que trabalham com a situação emergencial de deslocamento forçado de venezuelanos.    

A história de Jessica é apenas um dos muitos casos identificados pela análise regional das necessidades de informação e comunicação de refugiados e migrantes venezuelanos. O estudo, um esforço conjunto da Plataforma R4V(*), traz um retrato das cerca de 3 mil pessoas entrevistadas sobre suas necessidades de acesso à informação e comunicação. Essa amostragem garante indicadores importantes sobre os mais de 4,7 milhões de refugiados e migrantes atualmente em 15 países da América do Sul e Caribe. 

Para este grupo, o aparelho celular é o principal mecanismo de comunicação e acesso à informação durante sua jornada e quando se estabelecem em um novo país.    

Diferente da Venezuela, onde não possuía recursos para comprar um aparelho celular, a vida aqui no Brasil fez com que Jessica mudasse seus hábitos e ganhasse mais independência e autonomia usando um smartphone.   

Cerca de 65% dos 243 entrevistados venezuelanos no Brasil têm acesso a um aparelho móvel e 80% acessam a internet. “Com um telefone é muito mais fácil de se fazer as coisas no Brasil”, afirma Jennifer, venezuelana solicitante de residência temporária que divide casa com Jessica no abrigo em Brasília. Ela e a filha de 15 anos foram interiorizadas há poucos meses para Brasília.    

“Uso o celular não só para me comunicar com minha família, mas também para pegar ônibus, acessar descontos no supermercado e usar transporte por aplicativo – algo que é diferente da Venezuela, onde eu simplesmente levantaria meus braços e pararia algum taxi na rua”, adiciona.   

Confiança importa 

No Brasil, os meios que os venezuelanos mais usam para busca de informação são televisão, WhatsApp e Facebook. “Com internet, uso os aplicativos de rede sociais e do banco, por exemplo, e sinto que sempre temos orientação disponíveis de como usar os canais e de onde obter referências. Se sentimos falta de alguma coisa ou temos dúvidas, tiramos com a equipe do abrigo”, diz  Jennifer, que passou a possuir um celular desde que chegou ao Brasil. 

No entanto, esses três meios são igualmente apontados como os menos confiáveis para se informar. De acordo com o relatório da Plataforma R4V, amigos, familiares e agentes humanitários, estão entre as fontes mais confiáveis para refugiados e migrantes da Venezuela.    

Para Jennifer, Jessica e outros moradores do abrigo, uma das soluções que mais atendem suas necessidades foi a criação de um grupo de WhatsApp com a equipe do abrigo. “Sempre que temos uma questão, podemos conversar entre nós para resolver as dúvidas antes de consultar a assistência social”, afirma Jessica.  

De acordo com Samantha Tavares, coordenadora do projeto que acolhe venezuelanos no abrigo Aldeias Infantis SOS em Brasília, a estratégia de ter um grupo de WhatsApp para comunicação surgiu naturalmente a partir da demanda dos moradores e grande adesão do uso de smartphone como uma ferramenta não só de comunicação, mas de instrumento para acessar serviços e informações.   

“Podemos otimizar tempo e alcançar mais pessoas onde quer que elas estejam”

“Podemos otimizar tempo e alcançar mais pessoas onde quer que elas estejam – no trabalho, na rua ou mesmo aqui dentro de suas casas. Funciona porque, pelo menos aqui no abrigo, as pessoas têm acesso a um celular e disponibilizamos Wi-Fi”, relata Samantha.  

Jennifer e Jessica também são exemplo de um dado que revela que aproximadamente 70% das mulheres venezuelanas no Brasil se consideram bem informadas sobre direitos, serviços e assistência disponíveis, frente a 52% dos homens. De igual maneira, 52% das mulheres têm acesso a canais de queixas e denúncias, contra apenas 20% dos homens.   

“Estou sempre atenta por novidades, buscando e perguntando por informações novas, pois de repente algum procedimento pode mudar, ou alguma novidade pode surgir – e assim eu me informo e compartilho a informação com minha rede de contatos”, Jennifer ressalta. 

(*) A Plataforma Regional de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela (Plataforma R4V) é um conjunto de 137 agências do sistema das Nações Unidas e parceiros da sociedade civil para responder, de maneira coordenada, ao fluxo de venezuelanos na América Latina e Caribe. No Brasil, a Plataforma R4V é composta de 13 agências da ONU e 40 organizações sociais.

Clique aqui para ler o estudo completo (em espanhol).