ACNUR pede mais ajuda para refugiados sírios com câncer
ACNUR pede mais ajuda para refugiados sírios com câncer
LONDRES, Reino Unido, 26 de maio (ACNUR) – O perito médico da Agência da ONU para Refugiados advertiu, em um estudo recém-publicado por uma conceituada revista médica britânica, que o número de refugiados com câncer é pungente nos sistemas de saúde da Jordânia e da Síria.
Paul Spiegel, na edição do último domingo da The Lancet Oncology, acrescentou que essa situação estava forçando os escritórios do ACNUR e seus parceiros a tomarem a angustiante decisão de quem receberá ou não os cuidados. Ele pediu por medidas urgentes para combater o câncer em situações de crise humanitária.
"Podemos tratar de todos com sarampo, mas não podemos tratar todos com câncer", disse Spiegel, um médico que documentou centenas de refugiados com câncer na Jordânia e na Síria, e que precisou negar tratamento para vários doentes devido aos recursos limitados.
"Nós temos que afastar os pacientes com câncer com prognósticos pobres porque cuidar deles é muito caro. Depois de perder tudo em casa, pacientes com câncer ainda enfrentam grande sofrimento no exterior – muitas vezes com um enorme custo financeiro e emocional para as famílias", observou ele.
O estudo da The Lancet Oncology – que considera os refugiados na Jordânia e na Síria de 2009 a 2012 – relata que o número de casos de refugiados com câncer na região tinha aumentado porque havia mais refugiados no geral e porque mais pessoas estavam fugindo de países de renda média como a Síria.
O câncer também se configura como um problema entre os refugiados de países de renda baixa, onde o foco tem sido, tradicionalmente, em doenças infecciosas e desnutrição.
A forma mais comum de câncer entre os refugiados é o câncer de mama, que reponde por quase um quarto de todos os requerimentos na Jordânia para o Comitê de Cuidados Excepcional do ACNUR (ECC, sigla em inglês), que decide sobre o financiamento de tratamentos caros.
Na Jordânia, por exemplo, o ECC só pôde aprovar 246 dos 511 (ou 48%) dos requerimentos de refugiados para tratamento de câncer entre 2010 e 2012. A principal razão para as recusas foi o mau prognóstico, ou seja, o paciente tinha poucas chances de se recuperar. Então, o Comitê decidiu que a quantia limitada de dinheiro seria mais bem gasta com outros pacientes.
Em casos raros o ECC nega pacientes com bons prognósticos, muitas vezes devido ao alto custo do tratamento. Adam Musa Khalifa, um medico do ACNUR que está no ECC na Síria, contou a história de uma mãe iraquiana de dois filhos com um tipo muito raro de câncer de mama. Ela tinha que terminar o tratamento no Iraque por conta da insegurança e também a terapia era muito cara para continuar na Síria. O custo do tratamento é tão alto que pode chegar à US$21.000 em alguns casos.
"Nós enfrentamos a terrível decisão sobre quem ajudar", disse Dr. Khalifa, um co-autor do artigo. "Alguns pacientes têm bons prognósticos, mas o custo do tratamento deles é muito elevado. Essas decisões afetam todos nós psicologicamente".
Os sistemas de saúde governamental na Síria e na Jordânia estavam sobrecarregados e as instalações privadas eram insuficientes. As organizações internacionais têm ajudado a expandir as instalações e pagar pelos funcionários e pelos medicamentos, mas isso não tem sido o suficiente, alerta o artigo da The Lancet Oncology.
Os refugiados com câncer com frequência têm seus tratamentos interrompidos devido à insegurança no país de origem. Na Síria, por exemplo, muitos hospitais foram destruídos ou fechados e os médicos tiveram que fugiram.
"O relatório da The Lancet não deixa dúvida que o câncer é um problema importante de saúde entre os refugiados", disse Dr. Spiegel. "Temos que encontrar melhores formas, em conjunto com os países que recebem os refugiados, a fim de financiar a prevenção e o tratamento".
Novas abordagens poderiam incluir campanhas de informação móvel e on-line focando na saúde prevenção e novos modelos de financiamento como um financiamento coletivo e, potencialmente, um seguro saúde. Qualquer medida necessitará incluir um sistema de saúde nos países de asilo como um todo, para evitar a desigualdade entre as comunidades de acolhimento e os refugiados.