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Jiu-jitsu une jovens brasileiros e venezuelanos em prática esportiva

Comunicados à imprensa

Jiu-jitsu une jovens brasileiros e venezuelanos em prática esportiva

30 Dezembro 2019
Alunos brasileiros e venezuelanos se reúnem após o treino do dia, realizado pelo projeto Anjos do Esporte, do professor Tigrão (ao centro) ©ACNUR / Allana Ferreira

Pontualmente às seis da tarde os alunos do professor Tigrão já estão posicionados para começar mais uma aula de jiu-jitsu na pequena cidade de Pacaraima, que faz fronteira com a Venezuela. Essa poderia ser mais uma academia de artes marciais, mas o projeto Jiu-Jitsu Anjos do Esporte vem acolhendo mais de 25 alunos refugiados e migrantes venezuelanos do total de 65 alunos.

O projeto existe há nove anos e por estar em uma cidade fronteiriça sempre contou com a presença de alunos venezuelanos. Com o agravamento da situação no país vizinho e a consequente intensificação do fluxo de pessoas em busca de proteção internacional no Brasil, Pacaraima acabou se tornando o destino ou mesmo a passagem de muitos venezuelanos. Até novembro de 2019, mais de 224 mil venezuelanos entraram no Brasil, sendo que 119 mil deles são solicitantes da condição de refugiado.

Diante desta circunstância, o professor Elke Junior, mais conhecido como Tigrão, enxergou no esporte uma forma de poder contribuir para o convívio social de algumas das milhares de crianças e jovens que atualmente residem em Pacaraima.

“O esporte não é só entretenimento ou atividade física. O esporte é educação de todas as faculdades do ser humano”, enfatiza Tigrão. Para o professor, apaixonado por seu ofício, “o jiu-jitsu trabalha a disciplina, respeito e companheirismo, e em um contexto onde duas nacionalidades se misturam, isso é essencial para se desenvolver uma convivência respeitosa e pacífica”.

O jovem venezuelano Jhosniel Campos, o professor e idealizador do projeto, Elke Junior, conhecido como Tigrão e a adolescente brasileira Adileide Lopes, de 12 anos após o treino o projeto Jiu-jitsu Anjos do Esporte em Pacaraima, RR ©ACNUR / Allana Ferreira

O projeto é oferecido gratuitamente para os alunos, que devem estar comprometidos com a frequência, pontualidade e bons resultados – tanto no jiu-jitsu quanto na escola. O próprio professor é quem busca recursos para manter a escolinha acessível aos alunos e alunas com menos recursos financeiros.

Para auxiliar o projeto, o ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) doou kimonos (traje das lutas marciais) e bebedouros com o apoio financeiro da União Europeia, que investe no fortalecimento da resposta aos venezuelanos na região norte do Brasil com projetos que promovem a proteção de populações em maior situação de vulnerabilidade e a convivência pacífica com a comunidade de acolhida.

A troca de experiências entre os alunos ajuda a romper barreiras que possam ter sido formadas pelo desconhecimento da situação do outro. O jovem venezuelano Jhosniel Campos, de 15 anos, veio para o Brasil há quase um ano com sua família de cinco pessoas. Fugindo da situação em que se encontrava na Venezuela, Jhosniel afirma que “estar aqui me ajuda a não ficar pensando muito no futuro, além de aprender um pouco mais de português durante as aulas”.

Jhosniel ainda tem que ir todos os dias de Pacaraima para a cidade vizinha na Venezuela, Santa Elena Uairén, para continuar seus estudos - um percurso de 17 km. “Ainda preciso fazer esse caminho, mas ano que vem já estarei estudando aqui em Pacaraima”, afirma o jovem.

Jhosniel conheceu a escola do professor Tigrão por acaso, quando caminhava com sua mãe pelas ruas de Pacaraima.  A adolescente brasileira Adileide Lopes, de 12 anos, participa do projeto há mais de dois anos e acompanhou a crescente chegada dos novos alunos venezuelanos. “No começo, ficamos meio receosos de como seria praticar junto com eles. Não entendíamos porque eles estavam vindo para o nosso país, nem como era a sua cultura. Mas em poucos meses nos tornamos amigos”, lembra a garota.

Jovens brasileiros e venezuelanos praticam juntos jiu-jitsu em projeto de professor brasileiro com apoio do ACNUR ©ACNUR / Allana Ferreira

O professor explica que as crianças refugiadas venezuelanas chegam muito tímidas por conta do idioma e da situação que elas se encontram. Iniciativas como essas ajudam a diminuir as desavenças e as diferenças já que por meio do esporte, todos conseguem se comunicar em uma mesma língua.

“Acreditamos que o esporte é um ótimo vetor para quebrar barreiras entre as duas populações e promover uma convivência pacífica” afirma o Chefe do escritório do ACNUR em Pacaraima, Rafael Levy. “Durante as aulas, não só as crianças, mas as famílias acabam se conhecendo e convivendo em um ambiente seguro. Essa troca que é facilitada pelo esporte se espalha para as outras esferas da vida e da comunidade”, complementa Rafael.

As autoridades brasileiras estimam que cerca de 224 mil venezuelanos vivem atualmente no país. Uma média de 500 venezuelanos continua a atravessar fronteira com o Brasil todos os dias, tendo em Pacaraima a principal fronteira de entrada da população que busca proteção e garantia de seus direitos.