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Refugiadas venezuelanas criam presépio natalino em abrigo

Comunicados à imprensa

Refugiadas venezuelanas criam presépio natalino em abrigo

26 Dezembro 2019
Marileth Aellano, Nieves Gutierrez e Gerinez Perez tiveram a ideia de usar material descartável para transforarem o que seria lixo em obra de arte ©ACNUR / Allana Ferreira

Pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas que foram transferidas para o abrigo Rondon 2, na capital roraimense de Boa Vista, tiveram uma surpresa natalina nas últimas semanas. Na entrada do espaço, um grande presépio feito a partir de objetos reciclados, que normalmente seriam destinados ao lixo, traz para o abrigo o espírito de Natal.

Os presépios de Natal em residências e espaços públicos são uma tradição tão indispensável na Venezuela que, mesmo em uma situação de busca de proteção internacional e diante da falta de recursos, três moradoras do abrigo decidiram fazer um com o único que tinham disponível: o lixo gerado pelos solicitantes de refúgio dentro do próprio abrigo.

Trabalhado durante um mês preparando o material, e em dois dias com outras pessoas abrigadas aramaram todo o presépio, Marileth Aellano, Nieves Gutierrez e Gerinez Perez coletaram, limparam e arranjaram materiais descartáveis para criar obra de arte recheada de memórias e esperanças. Trabalharam noite e dia no projeto até, finalmente, terminar o presépio poucos dias antes do Natal.

“O Natal é uma data muito especial na Venezuela, cheia de cores e alegria”, disse Nieves, de 45 anos, a coordenadora da ação. “Quando as outras pessoas do abrigo viram o que estávamos fazendo, cada dia havia mais envolvidos trazendo copos e marmitas lavados para a nossa maquete. O melhor foi ver as crianças alegres e ansiosas para ver o presépio finalizado”.

Nieves está no Brasil desde julho, com outros dez membros da sua família, incluindo seu filho e seus irmãos, sobrinhos e pais. Há dois meses, Nieves está morando no Rondon 2, que é popularmente conhecido como “Abrigo de Interiorização” por ser onde as pessoas que vão fazer parte do Programa de Interiorização da Operação Acolhida esperam o dia da viagem.

Operado pelo Governo Federal, com assistência da Agência da ONU para Refugiados(ACNUR), outras agências da ONU e sociedade civil, o programa de interiorização, ou realocação voluntária, já transferiu mais de 23 mil pessoas venezuelanas para 24 estados brasileiros e o Distrito Federal. O Rondon 2, com quase 700 moradores temporários que chegam e partem, é um dos 12 abrigos administrados pelo ACNUR por meio da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI) e outras instituições parceiras no estado de Roraima.

 

“O fato de ter esses elementos culturais dentro do abrigo, como o presépio, tornam essa estadia um pouco mais leve no processo até o dia da viagem”, explica Shayla Nascimento, assistente de campo da unidade de interiorização do ACNUR.

Quando perguntadas quais são seus sonhos para 2020, as três mulheres respondem quase em uma só voz: “poder morar em algum lugar do Brasil para ter mais estabilidade, e que meus filhos possam estudar. Isso tudo é pelos nossos filhos".

Parceria premiada

O ACNUR trabalha em parceria para responder às diversas demandas emergenciais. Desde junho de 2018, a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI) atua em parceria com o ACNUR , coordenando seis abrigos para venezuelanos em Roraima – o equivalente a mais de 5,6 mil pessoas.

A AVSI teve um papel determinante no apoio à iniciativa do presépio das venezuelanas para que este projeto se tornasse realidade. Além de gerir o abrigo, a associação colaborou doando os materiais necessárias, além de orientar e motivar as mulheres participantes.

Iniciativas como essa e outras de casamentos coletivos em abrigos, em parceria com a Justiça Itinerante, o Instituto Brasil do Bem e os cartórios do 1º e 2º ofícios de Boa Vista, garantiram, em outubro, o segundo lugar à AVSI no Prêmio ACNUR de Inovação para ONGs 2019, dentre 270 inscritos. O prêmio reconhece esforços e realizações de uma prestação inovadora de serviços a refugiados e outras pessoas sob o mandato do ACNUR.

“Ficamos muito lisonjeados com a segunda colocação. Para a AVSI, que está trabalhando há um ano e meio com refúgio, foi muita alegria. É um reconhecimento por todo nosso trabalho. Trabalhamos em uma resposta humanitária muito desafiadora e, com o prêmio, é um indício que estamos no caminho certo”, explica Heli Mansur, Gerente Especial da AVSI em Roraima.

Já em 2020, a AVSI passará a coordenar mais dois abrigos e planeja aumentar o corpo de funcionários em 66%, chegando a 150 - atualmente são 95 trabalhadores, sendo que 90 deles estão em abrigos.