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Nova escola enche estudantes afegãs de esperança

Comunicados à imprensa

Nova escola enche estudantes afegãs de esperança

8 Novembro 2019
Aos 12 anos, Mursal é a única garota da sexta série © ACNUR/Claire Thomas

Aos 12 anos, Mursal é a única garota da sexta série.


Ao longo dos anos, todas as outras meninas - e vários meninos – desistiram dos estudos para ajudar nas responsabilidades domésticas, começar a trabalhar ou se casar.

Embora Mursal tenha conseguido permanecer na escola, o caminho não foi fácil.

Até recentemente suas aulas eram ministradas em tendas que constantemente precisavam ser remendadas devido aos danos causados ​​pela chuva, neve e vento. As tendas estavam lotadas e constantemente danificadas. Em certo período durante o inverno, as aulas tiveram que ser suspensas por três dias, pois a chuva e a neve se infiltravam nas tendas e transformavam a poeira em lama escorregadia.

Mursal e seus colegas agora estão sentados em uma tapeçaria simples, embaixo de uma amoreira, enquanto o professor passa por suas mesas checando a tabuada.

“Adoro ciências e inglês”, afirma Mursal, enquanto o vento sopra nos rostos dos 520 estudantes reunidos no campo que abriga essa escola improvisada.

“Eles dizem: ‘Que escola? Por que devemos enviá-los para um lugar a céu aberto? Para que fiquem doentes?’"

O fato de Mursal ter chegado tão longe em sua educação, apesar de ter sido forçada a estudar em tendas e campos abertos, é uma façanha. Embora Qarabagh esteja a uma curta distância de carro da capital Cabul, ela enfrenta sérios desafios de segurança.

De fato, as dificuldades enfrentadas por Mursal e outros estudantes da escola - incluindo 200 outras meninas - são representativas de várias outras questões que afetam o sistema educacional do Afeganistão.

No ano passado, o UNICEF relatou que dos 3,7 milhões de crianças afegãs em idade escolar fora da escola, pelo menos 2,7 milhões eram meninas. Globalmente, no nível secundário, existem sete meninas refugiadas para cada 10 meninos refugiados matriculados.

Mursal sabe que teve sorte. Várias colegas de classe deixaram de frequentar a escola para se casar, enquanto outras tiveram que começar a ajudar nas tarefas domésticas. Em outras partes do país, as meninas são frequentemente as primeiras a serem retirados da escola quando a situação de segurança se deteriora.

 

Essa combinação de expectativas culturais e falta de segurança teve um efeito devastador na educação do país. Uma pesquisa de 2016 realizada pela União Europeia e pelo Escritório Central de Estatísticas do Afeganistão constatou que apenas 21,7% das meninas estão matriculadas em educação formal ou informal.

É por isso que o apoio da família de Mursal é tão importante. Não são apenas os pais que incentivam a garota a seguir estudando. Seu irmão, Fahimullah, que teve que abandonar os estudos para trabalhar, é um dos seus maiores heróis.

Ele se orgulha do fato de que sua irmã mais nova tenha a chance de seguir seus sonhos, algo que ele não foi capaz de fazer. Ele estava no 11º ano quando seus pais lhe disseram algo que milhares de jovens afegãos ouvem todos os dias: ‘você deve ajudar nas despesas domésticas da família’.

O que Fahimullah e outros membros da comunidade Aka Khail querem é que as crianças da vila finalmente estudem em salas de aula quentes e seguras, com mesas e cadeiras adequadas.

Investir na educação dos refugiados, dos deslocados internos e daqueles que retornam às suas terras de origem, é a maneira mais poderosa de alcançar a autonomia. É também central para a prosperidade futura de seus países ou dos lugares que os acolheram.

Atualmente, o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, está trabalhando para construir uma escola que aumentaria a capacidade de receber estudantes de 520 para cerca de 1.000 meninos e meninas da região.

"Eles podem se tornar médicos, advogados ou até mesmo engenheiros que irão resolver os problemas deste país."

Malyar, 23, é um dos três professores da escola.

Por diversas vezes, ele e os outros professores conversaram com os pais da região sobre a importância de mandar seus filhos para a escola, mas sempre receberam a mesma resposta.

“Eles dizem: ‘Que escola? Por que devemos enviá-los para um lugar a céu aberto? Para que fiquem doentes na lama, na chuva e no calor?’"

Malyar recebe um salário de apenas 6.000 afeganis, cerca de US$ 77, para ensinar. Mesmo assim, ele diz estar disposto a ajudar sua comunidade que há muito tempo é ignorada pelo governo de Cabul.

"Se nós, como adultos, trabalharmos por essas crianças, elas poderão se tornar médicos, advogados ou até mesmo engenheiros que irão resolver os problemas deste país”, diz.

O prédio da escola deve ser inaugurado daqui três meses.

“Este é o nosso Afeganistão. Precisamos que uma escola adequada seja construída e, para isso, sacrificaríamos tudo”, diz Fahimullah, observando orgulhosamente sua irmãzinha repetir equações matemáticas em pashto.

O Fórum Global para Refugiados – um encontro em Genebra em dezembro - reunirá o setor privado, organizações humanitárias e de desenvolvimento, bem como governos. Seu objetivo é fortalecer uma resposta coletiva à situação dos refugiados. Entre os objetivos está a criação de maneiras inovadoras e sustentáveis de apoiar a educação de refugiados em locais como o Afeganistão.