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Empoderando Refugiadas: oportunidades para um recomeço

Comunicados à imprensa

Empoderando Refugiadas: oportunidades para um recomeço

5 Novembro 2019
O projeto tem três pilares: o empoderamento feminino, a formação profissional e a autossustentabilidade © Nara Michelly

“Existem mulheres fortes e mulheres que ainda não descobriram sua força.” As palavras pintadas na porta de entrada da Casa da Mulher Brasileira em Boa Vista, Roraima, dão o tom do projeto Empoderando Refugiadas. Com o intuito de preparar mulheres para inserção no mercado de trabalho brasileiro, a iniciativa é realizada pelo Instituto Lojas Renner, com metodologia do Instituto Aliança, e chancelada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Rede Brasil do Pacto Global.

Vinte mulheres refugiadas fazem parte da primeira turma de Roraima que está sendo capacitada pelo Instituto Lojas Renner e o Instituto Aliança, na modalidade de Atendimento e Vendas para o Varejo. Além de oferecer treinamento técnico voltado para esta área, o curso aborda questões relativas à cultura brasileira e também foca na saúde emocional destas mulheres, respeitando o momento de vida de cada uma. O projeto tem três pilares: o empoderamento feminino, a formação profissional e a autossustentabilidade.

“O programa vem sendo ampliado para diferentes regiões do Brasil. Ficamos felizes em chegar a Roraima. Vamos contemplar um universo ainda maior de mulheres em situação de refúgio, contribuindo para que se desenvolvam e tenham oportunidades em nossa sociedade”, afirma o diretor executivo do Instituto Lojas Renner, Eduardo Ferlauto.

Para a mulher refugiada, o sonho de ter um emprego vai muito além das questões econômicas. O trabalho simboliza um renascimento dela e de sua família no novo país. “Empoderamento significa ter condições de tomar as suas próprias decisões. Nós estamos aqui para garantir que nenhuma mulher seja deixada para atrás”, reforça Flávia Moura Muniz, gerente da ONU Mulheres em Boa Vista.

As aulas acontecem diariamente, no decorrer de um mês, com um total de 80 horas de formação. Todas as atividades são realizadas no espaço cedido pela Casa da Mulher Brasileira, que foi inaugurada em Boa Vista em 2018. A iniciativa inclui também o Projeto “Brincantar”, desenvolvido pelo Instituto Aliança em parceria com a agência KNH Brasil - Regional Sudeste e Centro-Oeste e estado da Bahia. A iniciativa trabalha a inserção sociocultural das crianças, filhos das participantes, por meio da criação de um espaço lúdico-pedagógico, que usa as brincadeiras como introdução à cultura brasileira e à língua portuguesa.

O Empoderando Refugiadas foi levado à Boa Vista por meio do LEAP (Liderança, Empoderamento, Acesso e Proteção), projeto voltado a mulheres refugiadas, solicitantes de refúgio e migrantes, e implementado pelo ACNUR, ONU Mulheres e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). O LEAP, que é financiado pelo governo de Luxemburgo, possibilita o desenvolvimento de iniciativas que ajudam a promover o empoderamento e integração de venezuelanas no Brasil.

 

Criando laços e empatia

No primeiro encontro, as educadoras do Instituto Aliança organizaram rodas de conversa e outras  atividades coletivas. As participantes tiveram a oportunidade de se conhecerem e se familiarizarem umas com as outras. No início, ouviam-se risos tímidos e pausas prolongadas. Após poucos minutos, o gelo foi quebrado e as histórias começaram a fluir.

“Conhecia algumas das mulheres do abrigo onde moro”, conta a Jhoselin, de 21 anos, que veio há três meses da Venezuela. “Não é fácil morar em um abrigo. Tem muitas pessoas com pensamentos e atitudes diferentes de você. Mas quando cheguei nesse espaço e comecei a ouvir as histórias de cada mulher, sobre seus passados e tudo o que já viveram, fiquei muito emocionada. Vê-las sorrindo, ainda fortes, me faz orgulhosa de ser mulher.”

Segundo Marília Cintra Correa, Assistente Senior de Soluções Duradouras do ACNUR em Boa Vista, reconhecer estas diferenças é um passo fundamental para integração e para que estas pessoas se empoderem.

“O movimento de deslocamento forçado gera experiências, traumas e dificuldades diferentes de acordo com o gênero das pessoas, com a faixa etária, e outras características específicas de grupos diversos como pessoas LGBT, pessoas com deficiências, comunidades indígenas, e outros,” explica Marília.

 

Formação e preparação profissional

O Instituto Aliança reforça em sua metodologia, especialmente na que foi adaptada para o Programa Empoderando Refugiadas, a necessidade de criar um espaço coletivo, seguro e feminino para abordar muitos aspectos, além de gênero. O curso inclui uma preparação para a inserção laboral, com indicações sobre entrevistas de trabalho e comportamento profissional no contexto cultural brasileiro.

“O mercado de trabalho tem um guarda-chuva de exigências amplo e tentamos abordar um pouco de todas estas áreas. Para quem veio de outro país existe ainda a barreira do idioma, e de alguns costumes e códigos distintos”, ressalta Márcio Lupi, coordenador do Instituto Aliança.

O Instituto Lojas Renner promove a capacitação de mulheres refugiadas desde 2016. Já formou mais de 300 mulheres em cinco cidades do país. As alunas formadas passam por entrevistas de trabalho e são avaliadas para a possibilidade de contratação em lojas do território brasileiro. As participantes da turma de Boa Vista que forem selecionadas para trabalhar em outras cidades ou estados contarão com um incentivo do ACNUR para interiorização.

A participante Veronica*, de 25 anos, veio da Venezuela há dois anos e está otimista com a capacitação que receberá no projeto. Ela diz perceber que as normas brasileiras são diferentes de seu país de origem. Como mulher trans, ela avalia que o Brasil está mais aberto à discussão da inserção de transsexuais no mercado de trabalho, se comparado à Venezuela. "Não posso dizer que aqui não tem preconceito, mas tenho visto mulheres trans em trabalhos formais, em lojas, e também estudando na universidade.”

Jhoselin*, que estudava direito na universidade antes de sair da Venezuela, teve que desistir depois do primeiro semestre por razões econômicas. “Faltava dinheiro para comprar comida e para os gastos pessoais. Eu quero um emprego principalmente para poder continuar os meus estudos”, disse.

* Os sobrenomes das participantes são preservados para segurança e privacidade das mesmas