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“Tudo tem solução, não podemos desistir. Temos que continuar virando as páginas”

Comunicados à imprensa

“Tudo tem solução, não podemos desistir. Temos que continuar virando as páginas”

27 Setembro 2019
Vanis é natural da cidade venezuelana de Carupano. Atualmente, ela vive em Brasília com a filha Luanna, de apenas um mês © ACNUR/Alan Azevedo

Os fins de semana de Vanis eram repletos de sol, mar e comida. Sua família costumava se reunir em uma das praias de sua cidade natal, Carupano, para aproveitar os dias de descanso. Sancochos, uma típica sopa venezuelana feita com carne, era a estrela do cardápio na hora do almoço.


Mas as coisas mudaram com a crise que atingiu a Venezuela a partir de 2014, e uma nuvem de incerteza começou a pairar sobre a tranquilidade dos domingos de sol. A empresa onde Vanis trabalhava há 15 anos na área de recursos humanos começou a reduzir o número de funcionários, alegando não ter dinheiro para pagar o salário de todos. Foi então que ela ficou desempregada.

O cenário de instabilidade no país se agravava e sustentar-se ficou cada vez difícil. “Tudo era muito caro. O que eu ganhava não cobria as despesas básicas como aluguel, alimentação e coisas que precisamos para viver. Não consegui manter minha filha na escola”. A hiperinflação que assola a Venezuela faz com que muitas famílias não consigam o mínimo para viver com dignidade.

Por seis meses, Vanis e o filho Alejandro, 20, tentaram a vida em Las Minas, região da Venezuela onde há intensa atividade de garimpo. Mas uma adversidade do destino impediu que a vida ali desse certo. Ela e o filho contraíram malária. “É uma zona muito montanhosa, há muitos insetos”, recorda.

Recuperados, eles ficaram ainda mais alguns meses na cidade venezuelana de Santa Helena, mas em meio à violência, insegurança, falta de alimentos e serviços essenciais, Vanis e Alejandro não viram outra saída a não ser deixar o país. “Voltar para casa não era uma opção. Não tínhamos como sobreviver lá”, reforça.

Até o momento mais de 4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela. Assim como Vanis e Alejandro, os motivos para fugirem são, principalmente, a insegurança, escassez de comida, ausência de serviços de saúde e medicamentos e até mesmo a perda de suas casas. O ACNUR atua na emergência da Venezuela, oferecendo serviços de registro e informação, abrigo e proteção para famílias venezuelanas em situação de vulnerabilidade em toda a região da América Latina. No Brasil, o ACNUR está presente na região norte, oferecendo abrigos, alimentação, água potável, atendimento psicossocial e espaços seguros para crianças.

Os 18km do trajeto de Santa Helena até Pacaraima foram percorridos a pé. “Tinha muita gente em Pacaraima. Muitos venezuelanos se encostavam em qualquer coisa e dormiam na rua. Foi um momento muito difícil. Não estávamos acostumados a ver tanta gente nessa situação.”

De carona, Vanis e Alejandro foram para Boa Vista, onde ficaram por cinco meses. Lá, dividiram uma casa com outros 20 venezuelanos. “Dormíamos em redes e em colchões no chão. Todos os dias íamos para a rua procurar comida, pois nenhum de nós tinha emprego. Os primeiros dias foram muito difíceis, pois não conhecíamos ninguém e não estávamos acostumados a essa situação”.

Pelas ruas, Vanis carregava consigo um pedaço de papelão onde pedia por uma oportunidade que lhe permitisse sustentar a si e seu filho. Pouco tempo depois, começou a trabalhar na casa de uma família brasileira, onde preparava o almoço e ajudava nos afazeres domésticos.

Na mesma época, ela ficou sabendo do Programa de Interiorização e da possibilidade de mudar-se para outra cidade brasileira, onde teria mais segurança e oportunidades. O intuito da estratégia de interiorização é reduzir o impacto da chegada de venezuelanos em Roraima, permitindo que tenham novas oportunidades de integração e ingresso no mercado de trabalho, recomeçando suas vidas e ao mesmo tempo contribuindo para o desenvolvimento das novas comunidades de acolhida. Além do ACNUR, outras agências da ONU estão diretamente envolvidas com a estratégia.

Inicialmente, Vanis pensou em ir para São Paulo, com o objetivo de ajudar o filho Alejandro a realizar o sonho de ser músico. Mas então o destino deu mais uma guinada em suas vidas: Vanis descobriu que estava grávida.

“É muito difícil não poder ajudar meus filhos da forma como eu queria.

“Foi uma surpresa. Minha filha não foi planejada. Ela foi uma benção de Deus. Eu tinha a intenção de seguir em frente, mas as pessoas não dão oportunidades para grávidas. As coisas se complicaram mais. Meu filho tinha que ir atrás de emprego, quando na verdade eu deveria estar ajudando-o. É muito difícil não poder ajudar meus filhos da forma como eu queria.”

 

Vanis e Alejandro acabaram mudando-se para a capital do país. A pequena Luanna é brasiliense e tem apenas um mês de idade. “Fomos bem recebidos aqui. Muitas pessoas nos apoiam. Todos os domingos me reúno com outros venezuelanos em uma igreja. Estamos muito unidos.”

Em breve, Vanis espera poder trazer para Brasília a filha Oriana, de 18 anos, que ficou na Venezuela. “É muito triste estar longe da família nos momentos difíceis. Como grande parte dos venezuelanos, minha família também está longe de mim. Eu era muito próxima da minha filha, e foi muito difícil deixá-la.”

Apesar da saudade que sente da vida que deixou para trás, Vanis mantém o pensamento positivo e acredita que dias melhores, e mais ensolarados, virão. “Estamos no meio de um processo. Superamos uma situação e aparece algo diferente, mas seguimos. Tudo tem solução, não podemos desistir. Temos que continuar virando as páginas.”

Seja um doador do ACNUR e ajude mães como Vanis a dar aos seus filhos a oportunidade de um futuro melhor!

Por Gabriella Reis, de Brasília