Declaração de Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados, depois de visita ao Chile
Declaração de Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados, depois de visita ao Chile
Minha visita ao Chile, a primeira de um Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, tem como pano de fundo o maior movimento populacional da história recente da América Latina. Depois da Colômbia e do Peru, o Chile tem sido o país mais afetado pelo êxodo em massa de refugiados e migrantes da Venezuela. Dos mais de 4 milhões de venezuelanos que deixaram seu país até agora, o Chile recebeu mais de 400 mil deles, ou 10%.
Fiquei muito impressionado com a solidariedade e a hospitalidade do povo do Chile e seu governo em receber os venezuelanos em momento de necessidade, assim como a Venezuela recebeu milhares de refugiados chilenos. A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), na época, acompanhou e prestou apoio aos refugiados chilenos. Hoje, o faz com os refugiados e migrantes venezuelanos, a grande maioria em países da América Latina e do Caribe.
Durante minhas reuniões, as autoridades chilenas reiteraram o compromisso do Governo do Chile em cumprir suas obrigações internacionais, inclusive garantindo o direito ao asilo. Também fui informado da resolução de 9 de agosto, que dá instruções para a concessão de uma conduta segura aos cidadãos venezuelanos com relação às razões humanitárias. Tomo nota desta medida e da disposição das autoridades para garantir o direito de asilo no Chile. É essencial que esse direito, contemplado na legislação nacional do Chile e no Direito Internacional, seja garantido em todo o território do país, inclusive nas fronteiras terrestres, e que os solicitantes do status de refugiado não encontrem obstáculos ao exercer este direito.
Além das autoridades, durante minha visita tive a oportunidade de ouvir representantes de outras agências do sistema das Nações Unidas, membros da comunidade acadêmica e da sociedade civil e também refugiados e migrantes venezuelanos, que me expressaram de forma clara e direta o seu agradecimento ao Chile e aos chilenos por recebê-los e fazê-los se sentirem bem-vindos. Isso é muito positivo e deve ser reconhecido, especialmente quando expressões de rejeição e xenofobia são observadas em outros países da região.
Também reconheço os esforços que o Chile e as comunidades locais fizeram para acolher, documentar e integrar os refugiados e migrantes venezuelanos e de outras nacionalidades. É importante continuar e intensificar esses esforços para que essas pessoas possam viver de maneira digna e contribuir para a economia e a sociedade do Chile. Em particular, os processos de obtenção de documentos devem ser simplificados para evitar tempos de espera que compliquem e atrasem a inserção de refugiados e migrantes na sociedade. Nesse sentido, meu escritório está disposto e pronto para colaborar com as autoridades para fortalecer as capacidades e mobilizar seus recursos.
A situação do povo venezuelano no Chile não pode ser vista isoladamente. O Chile é o destino final de muitos venezuelanos que viajaram por outros países da região andina. É vital que os países desta região coordenem suas respostas ao êxodo da população venezuelana e, nesse sentido, encorajo o Chile a continuar participando ativamente dos processos regionais de coordenação e harmonização de políticas estatais, como o Processo de Quito. O ACNUR e a Organização Internacional para Migrações (OIM) apoiam esse processo por meio da plataforma regional de coordenação interagencial, que reúne mais de 40 organizações para atender às necessidades de proteção, assistência e integração de refugiados e migrantes da Venezuela.
Finalmente, gostaria de reiterar nosso compromisso de continuar trabalhando de forma construtiva com as autoridades e com a sociedade civil no Chile e continuar pedindo à comunidade internacional que intensifique seu apoio, inclusive financeiro, ao país. Este é um objetivo importante da minha visita: lembrar à cooperação internacional, doadores e instituições financeiras, que a responsabilidade de acolher, proteger e ajudar os refugiados e migrantes venezuelanos não pode ser assumida apenas por um país ou região e que a solidariedade internacional deve não apenas permanecer no discurso, mas também em ações e recursos.