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Mulheres grávidas fogem da falta de cuidados de saúde materna na Venezuela

Comunicados à imprensa

Mulheres grávidas fogem da falta de cuidados de saúde materna na Venezuela

2 Agosto 2019
Roxibel Pulido (29) no centro de acolhimento do ACNUR em Maicao, Colômbia. © ACNUR / Alejandra Romo

Roxibel Pulido, 29, estava grávida de três meses quando ela ouviu que o hospital mais próximo de seu bairro, na cidade de Maracaibo, na Venezuela, tinha sido fechado.

“O hospital estava sob investigação porque três bebês recém nascidos morreram ali por causa da falta de um gerador”, diz ela.

Nos últimos anos, os hospitais da Venezuela têm lutado com a falta de suprimentos e pessoal, assim como com os constantes cortes de energia. Entre 2015 e 2016, mortes maternas cresceram 65% e a mortalidade infantil após seis dias do nascimento aumentou 53%, de acordo com informações governamentais.

Milhares de venezuelanos continuam a deixar o país todos os dias. Muitas são mulheres grávidas que não podem receber o atendimento pré-natal e que não querem colocar em risco a vida de seus filhos.

“Se houvesse qualquer complicação, o hospital não iria me ajudar e meu bebê morreria”.

“É um momento muito ruim para ser uma mulher grávida lá na Venezuela”, dis Roxibel. “Muitas delas estão fugindo por amor aos seus bebês que ainda não nasceram”.

Junto com seus dois outros filhos, Santiago (3) e Matías (2), Roxibel chegou a Maicao, uma cidade colombiana perto da fronteira norte com a Venezuela. A Colômbia é o país que abriga o maior número de refugiados e migrantes venezuelanos, com mais de 1,3 milhão de pessoas.

Depois de passar dois meses nas ruas, Roxibel e seus filhos encontraram segurança no novo centro de recepção do ACNUR, que temporariamente abriga mais de 350 pessoas vulneráveis da Venezuela, a maioria mulheres e crianças.

No centro, uma enfermeira examinou a saúde de Roxibel e de seu bebê – algo que ela não foi capaz de fazer na Venezuela durante toda suas gestação.

“Quando fui para o hospital, não havia eletricidade; quando eu quis que alguém examinasse minha barriga para ter certeza de que as coisas estavam bem, não tinha ninguém para fazer uma consulta; quando eu quis um ultrassom, eles pediram por uma quantidade absurda de dinheiro que fui incapaz de pagar”, ela lembra.

No hospital público San Jose, em Maicao, mais de mil mulheres venezuelanas foram atendidas no primeiro trimestre de 2019, diz Zela Cuello, coordenadora de Ginecologia e Obstetrícia. "Damos atenção preferencial e integral a todas as mulheres grávidas, sem distinção de nacionalidade", diz ela.

Uma das mulheres atendidas no hospital foi Yorgelis Garcia, 23, que fugiu da Venezuela uma semana antes de dar à luz. Desesperada por comida e assistência médica, ela e o marido usaram “trochas”, travessias informais perigosas, para chegar a Maicao.

"Foi uma jornada difícil", diz Yorgelis. "Meu marido teve que carregar nosso filho de dois anos e garantir que eu não caísse no chão."

Quando viram sua barriga grande e como era difícil para ela andar, outros venezuelanos que fugiam ajudaram Yorgelis e seu marido.

"Estou muito agradecida à Colômbia e à atenção médica que recebi aqui"

A filhinha da Yorgelis, Yoangely, nasceu saudável no hospital de San Jose há cinco meses. "Felizmente para mim eu era capaz de dar à luz sem complicações", diz ela. "Mas eu sabia que, se algo tivesse acontecido, eu estaria no lugar certo com as pessoas certas."

Yorgelis e sua família também estão morando no centro de recepção do ACNUR. “Antes de entrar, meus filhos receberam vacinas e todos nós realizamos exames médicos para nos certificarmos de que estávamos saudáveis”, diz ela. "Estou muito agradecida à Colômbia e à atenção médica que recebi aqui".

Agora grávida de cinco meses, Roxibel está convencida de que também vai ter uma menina: "Ninguém me disse isso ainda, mas sinto isso em meu coração e ela é uma guerreira".

Roxibel se preocupa em não conseguir registrar seu bebê na Colômbia para uma documentação de identidade adequada. A maioria dos venezuelanos não consegue registrar seus bebês nascidos na Colômbia como cidadãos venezuelanos porque não têm a documentação adequada e os serviços consulares não estão disponíveis no momento.

A fim de obter a cidadania colombiana, a constituição do país estipula que pelo menos um dos pais deve ser colombiano ou, se este não for o caso, pelo menos um dos pais deve possuir visto de trabalho ou um visto temporário no país – que muitos venezuelanos lutam para obter.

O registro nacional da Colômbia estima que cerca de 23 mil crianças nascidas na Colômbia de pais venezuelanos estão esperando para receber a nacionalidade colombiana. O Governo da Colômbia está trabalhando com parceiros para resolver a situação e prevenir futuros casos de crianças em risco de serem apátridas.

Hoje milhões de pessoas em todo o mundo têm negadas suas nacionalidades. A falta de documentação tem consequências graves em suas vidas - muitas vezes elas não têm permissão para ir à escola, consultar um médico, conseguir um emprego, abrir uma conta bancária, comprar uma casa ou até mesmo se casar.

Por meio da Campanha #IBelong, o ACNUR busca acabar com a apatridia em 10 anos.