Caritas São Paulo esteve de Portas Abertas em evento de abertura das celebrações do Dia Mundial do Refugiado
Caritas São Paulo esteve de Portas Abertas em evento de abertura das celebrações do Dia Mundial do Refugiado
O Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo organizou, na semana passada, a sétima edição do tradicional evento Portas Abertas. O evento tem como objetivo mostrar o trabalho de atendimento que é realizado diariamente às pessoas em situação de refúgio, para conhecimento do público geral. A atividade abriu a programação do ACNUR relacionado ao Dia Mundial do Refugiado, tendo como temática o combate à xenofobia.
Entre as atividades, o público teve a oportunidade de participar de visitas guiadas pelo prédio da Caritas por profissionais e voluntários da equipe, que apresentaram dados da instituição e explicaram o funcionamento dos quatro programas de atendimento: Assistência, Integração, Proteção e Saúde Mental. O evento foi composto pela culinária da Uganda e da Venezuela, além da venda de roupas africanas e bonecas abayomi - bonecas de origem Iorubá cujo significado é "encontro precioso", considerada um amuleto de proteção.
A novidade desta edição foi a instalação artística Desenhos sonoros: refugiados e identidades em fluxo, elaborada pelo Projeto Lince, composta por conteúdo multimídia gravado com refugiados/as, que permitiu interação do público por meio de desenhos e textos livres.
Como ação exclusiva voltada a famílias de pessoas em situação de refúgio, as artistas Eda Nagayama e Iara Jamra conduziram uma atividade de pintura para crianças. A ideia era desenhar o contorno do próprio corpo, em grandes pedaços de papel espalhados pelo chão, e depois colori-lo para simbolizar como as crianças são por elas mesmas vistas - e o resultado foi de fato muito diverso.
Roda de conversa
Com a temática de combate à xenofobia, a roda de conversa teve introdução da advogada da CASP, Juliana Rodrigues, que explicou como esse comportamento preconceituoso se manifesta e como pode ser evitado e denunciado. A mesa foi composta por pessoas em situação de refúgio e brasileiros que já moraram fora do país, cujo objetivo foi aproximar experiências migratórias.
O brasileiro Maurício falou sobre a dificuldade de ir aos Estados Unidos com o desejo de trabalhar na área de formação e encontrar vagas em outros segmentos, além da visão estereotipada que algumas pessoas têm sobre os diferentes países da América do Sul. Já Victoria, que teve a oportunidade de morar em Omã, no Oriente Médio, disse que, ao ser reconhecida como brasileira, geralmente as pessoas começavam a falar em inglês, mesmo que ela soubesse falar árabe fluente.
Danya, que há quatro anos vive do Brasil, conta que precisou sair da Síria após um ataque de armas químicas na região onde morava. Hoje vive no Brasil com a família. A jovem diz ter sido alvo de olhares desconfiados por usar o véu, fruto de visões distorcidas sobre a cultura árabe. Por outro lado, acredita que seus pais fizeram uma ótima escolha ao optarem pelo Brasil, e diz se sentir brasileira hoje em dia.
O congolês Alphonse lembrou as dificuldades de aprender outro idioma, as piadas que ouvia por conta do sotaque e a dificuldade de aproximação com os brasileiros. Para ele, é preciso estar aberto ao que as pessoas que chegam têm a dizer: “As pessoas precisam ouvir o que essas pessoas (refugiadas) têm a contribuir”, ele ressalta. E reconhece que “o povo brasileiro é maravilhoso”, completa.
Ao reunir brasileiros e pessoas em situação de refúgio, a CASP tentou aproximar narrativas que parecem desconectadas num primeiro momento, mas que podem ter mais semelhanças do que se imagina. A fala de Maurício, ao final, traz uma importante reflexão, quando ele sugere que as pessoas visitem outros países para sentir, mesmo que em um contexto diferente do vivido no refúgio, como é estar em um lugar diferente, distante dos amigos da família, vivenciando outro idioma e cultura.
A próxima edição do Portas Abertas está prevista para o mês de novembro.