Refugiados sírios no Líbano perdem tudo em incêndio, mas conseguem se recuperar
Refugiados sírios no Líbano perdem tudo em incêndio, mas conseguem se recuperar
RAS EL EIN, Líbano, 16 de abril (ACNUR) – Um vento soprava forte vindo do mar quando a vela caiu sobre a tenda que Amar El Oman tinha construído para abrigar sua família. O fogo se espalhou pela estrutura improvisada feita de postes de madeira e ripas de telhados, coberta por coberturas plásticas.
Em poucos minutos o incêndio tinha consumido outras 10 tendas que abrigavam refugiados da Síria. Amar e sua família perderam tudo: suas economias, seus documentos, seus móveis. E o mais importante foi a perda do filho de Amar, Abdul, com apenas 10 meses de vida.
Funcionários do ACNUR vieram naquela noite e realojaram as famílias em um abrigo a cinco minutos de carro de suas tendas queimadas. As famílias então tomaram uma decisão difícil: eles poderiam ficar em um local mais seguro ou estar mais perto do local onde pudessem ganhar um dinheiro para se sustentarem.
Na manhã seguinte, todas as famílias retornaram para as brasas de suas tendas recém-queimadas. Com a decisão das famílias de retornar, o ACNUR novamente lhes ofereceu materiais para construir suas tendas, junto com fogões e utensílios de cozinha.
“Nós não conhecíamos ninguém lá”, disse Amar, que liderou o retorno. “Era muito longe dos campos onde podemos achar trabalho”. Ele estava inclinado sobre uma enxada após um dia em um desses campos que lhe rendeu 7 dólares.
Os refugiados sírios aqui são relativamente sortudos. Lá existe trabalho disponível, mas com baixo pagamento – um terço ou um quarto do que é pago aos libaneses é pago aos sírios – e agora está acontecendo um efeito desse acontecimento.
A enxurrada de chegadas - existem mais de 1 milhão de refugiados sírios no Líbano – criou um excesso de mão de obra barata. O Banco Mundial diz que o desemprego dobrou para mais de 20% e empurrou mais de 170.000 libaneses para baixo da linha da pobreza.
Amar tem duas esposas e 10 filhos sobreviventes. Ele e sua segunda esposa, Wajiha, choraram pela perda de seu bebê, mas a tristeza teve que ser contida. A prioridade é alimentar a grande família. Wajiha trabalha nos campos também, mesmo estando grávida de outra criança. Seu trabalho de semear, plantar e colher lhe garante apenas 5 dólares por dia.
“Ainda é melhor aqui do que na Síria,” ela disse. “Aqui tem trabalho para nós e escola para as crianças. São apenas 10 minutos de distância e um ônibus as busca”.
A chave para o seu trabalho – outro refugiado, chamado Abdul Jabar El Mansur – vive próximo às barracas, em um prédio de apartamentos que caiu em desuso e abriga hoje outras 20 famílias. Antes do conflito na Síria, homens como Abdul viviam no prédio quando a cada ano chegava mais trabalhadores migrantes.
Hoje, ele, seu irmão e seu primo também se tornaram refugiados. Parentes e conterrâneos que viviam próximos à Allepo também se juntaram a eles. Abdul Jabar conhece os donos libaneses das fazendas próximas e pode achar trabalho para os outros refugiados.
Abdul Jabar tem 46 anos e fugiu do bombardeio na Síria com seus sete filhos. Mas a guerra continua com eles. Suas duas filhas mais velhas, 13 e 15 anos, sofrem de ataques ocasionados por estresse pós-traumático e não podem ir à escola. Além disso, elas e o resto de sua família querem desesperadamente voltar para casa.
“O conflito está constantemente em nossa cabeça. Estamos presos entre o presente e o futuro, e estamos ainda entre aqui e tudo que trabalhamos para construir”.
Enquanto esperam para retornar, a vida continua no Líbano. Yassia é uma velha parteira cuja família de sete pessoas veio da Síria há um ano. Eles vivem em uma garagem ao lado das tendas e abrigou sete membros da família de Araf Al Hussein – que haviam conhecido na Síria – quando o fogo tomou conta do acampamento.
A esposa de Mohammed entrou em trabalho de parto um dia após o incêndio e ela ajudou no parto do bebê. “Misericórdia de Deus” disse Yassia com um sorriso.