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Cidade devastada pela guerra volta à vida no Mali

Comunicados à imprensa

Cidade devastada pela guerra volta à vida no Mali

22 Março 2019
Mariam Abu Bakr é uma das moradoras que se beneficia de um novo poço de água em Gao. © ACNUR / Mark Henley

Esta é uma cidade com cicatrizes. Muitas são visíveis, outras não.


Mas, no sol quente da manhã, em Gao, uma cidade de pouco mais de 100 mil pessoas, risadas ecoam enquanto 20 mulheres se juntam para coletar água para preparar o almoço.

O poço foi instalado em 2018 com financiamento do Fundo Fiduciário de Emergência da União Europeia para África e por meio da gestão da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). O investimento faz parte de um dos dois dutos que custou CFA14,4 milhões (€ 21.500) e foi instalado no ano passado.

Para os moradores de Gao, a vida mudou no dia em que grupos armados extremistas invadiram a cidade em 2012, levando cerca de 80 mil pessoas a fugir com suas famílias. Alguns foram para outras partes do Mali, outros se refugiaram em países vizinhos. Para aqueles que retornam, o poço tem sido vital. "A bomba de água fez uma grande diferença", disse Mariam Souleye Maiga. Ela fugiu com seus quatro filhos para o Níger e só voltou 16 meses depois, quando os grupos armados foram expulsos.

“Antes, as pessoas sem torneira tinham que se levantar no meio da noite para buscar o que precisavam. Era exaustivo, particularmente no verão, quando a água é preciosa”.

"A bomba de água fez uma grande diferença"

 Mariam Abu Bakr fugiu com sua família em 2012 para um campo de refugiados no Níger. Ela passou 20 meses lá. Ela decidiu voltar para casa depois que os combatentes foram forçados a sair da cidade.

“Não havia dúvidas, esta é a minha casa. Eu tive que voltar”, ela disse.

Seu desejo - e determinação - de voltar para casa é compartilhada por outros retornados.

No final da rua onde se encontra a bomba de água comunitária existe uma associação chamada Um Fim à Corrida (Em inglês, An End to Running). Sua existência é uma prova da mudança do estado de espírito entre seus moradores. Liderada por Mariam Souleye Maiga, a organização foi criada em 2016 e conta hoje com 47 membras, todos ex-refugiadas, deslocadas internas e migrantes econômicas. Com a ajuda do ACNUR e de parceiros como a Terre Sans Frontières (Terra Sem Fronteiras), elas começaram a trabalhar.

Cada membra contribui semanalmente para comprar ingredientes para cozinhar pratos de cuscuz e trigo como sêmola. Em seguida, elas vendem seus produtos e dividem os lucros a cada nove meses.

"Nós nos reunimos e decidimos que não queríamos continuar pedindo", ela disse, "e essa associação nos ajudaria a viver por conta própria".

Às margens do Rio Níger encontra-se uma horta. Fundada em 2007, por meio da concessão de um terreno pelo município, a horta é cultivada e administrada por 18 mulheres locais. Elas capinam e regam seus produtos diariamente – cenouras, tomares, alface e outros vegetais – para depois comercializá-los.  A associação prosperava, até a cidade ser invadida em 2012. Na ocasião, seis das mulheres fugiram com suas famílias, mas outras permaneceram, determinadas a não desistir de seu empreendimento.

"Foi muito difícil sob o domínio dos islamistas", disse Boshira Touré, presidente da associação. “Fomos mal tratados, tivemos que nos cobrir completamente. Mas nós nunca desistimos da nossa horta. Nós continuamos”.

Os combatentes foram expulsos, as mulheres que fugiram retornaram mais uma vez e, em 2018, a associação recebeu um subsídio de 1 milhão de euros (€ 1.500) da CFA para comprar sementes, ferramentas e um motor mais potente para operar a bomba de água.

Outra história de sucesso, mas que no fundo carrega uma cidade ainda assombrada pelo passado. Nas ruas, gado e cabras pastam, indiferentes às paredes atrás deles, cheias de buracos de bala. A Praça da Independência, sete anos atrás era um teatro onde execuções públicas aconteciam em frente a multidões forçadas a comparecer.

A violência ainda espreita. Desde novembro de 2018, houve pelo menos 15 confrontos mortais em Gao, em subúrbios e nas cidades próximas.

Enquanto as gangues armadas continuam a dominar e causar estragos em cidades e vilarejos da região, a própria cidade de Gao hospeda uma grande base militar internacional. Há cerca de 13 mil soldados de 56 países que compõem a força de paz da ONU que trabalha para estabilizar o país.

Apesar das ameaças constantes, para muitos há esperança. Mais de 71 mil pessoas que fugiram retornaram. Moradoras como Mariam Abu Bakr ainda falam de medo, mas, segundo ela “agora, pouco a pouco, temos menos medo. As coisas estão melhorando”.

Em Aljanabandia, a água flui a partir da nova bomba de água e, na associação Um Fim à Corrida, os negócios são rápidos para atender a eventos.

“Se nós recebemos um evento de casamento”, Mariam diz, “nossas membras devem vir e trabalhar a semana toda”.

O próximo passo é expandir a produção. Elas querem começar a vender para outras cidades além de Gao. Sua corrida, elas esperam, acabou.