Curso de Garçom oferece recomeço para oito refugiados no Distrito Federal
Curso de Garçom oferece recomeço para oito refugiados no Distrito Federal
A venezuelana Yenni Torres está há pouco mais de 1 ano no país. Yenni é uma das oito refugiadas (os) e solicitantes de refúgio que se formaram no final do mês de fevereiro (26/02), no Curso de Garçom pela Escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Ela é engenheira industrial de formação, e achou no curso a oportunidade de se preparar para conseguir um emprego. O esposo, engenheiro mecânico, trabalha como motorista de Uber. O casal tem duas crianças, que estudam.
“Meu compromisso como pessoa é buscar melhor qualidade de vida e também ajudar minha família que ficou no meu país. Todas as profissões são dignas, temos que ter humildade de recomeçar”, declarou.
Promovida pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJSP), a iniciativa faz parte do programa de capacitação SENAC Gratuidade, que oferece cursos totalmente gratuitos, com carga de 240 horas, destinados ao público de baixa renda que busca inserção laboral.
Ao final da capacitação, aconteceu a cerimônia de encerramento do Curso de Garçom, que contou com a formatura de cinco solicitantes de refúgio venezuelanos, três refugiados de Gana e de Camarões e quatro brasileiros. Durante o curso, iniciado no dia 14 de janeiro, os beneficiados tiveram aulas no restaurante-escola do SENAC, situado anexo ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública, em Brasília.
Segundo o responsável pelo curso, Hélder Cassiano, os alunos, oito homens e quatro mulheres, saem preparados para o mercado de trabalho após uma jornada de oito horas diárias de aprendizagem.
“Eles passaram por todo o processo de trabalho em um restaurante, desde o recebimento da mercadoria e o contato com os fornecedores, até a entrega final aos clientes no salão”, explicou. Para Cassiano, com mais de 30 anos de experiência, o que mais lhe chamou a atenção foi “o empenho dos refugiados para alcançar seus objetivos no Brasil”.
O curso enfatizou a importância da integração dos migrantes na sociedade brasileira. Para isso, a turma incluiu estudantes brasileiros e adaptou as aulas para atender as necessidades específicas de idioma, de diferenças culturais e prover uma dinâmica diferente de aprendizagem.
Para comemorar o encerramento do curso, foi organizado um almoço no qual os novos garçons e garçonetes puderam demonstrar seus conhecimentos, habilidades e aprendizado ao Ministro da Justiça, Sergio Mouro, e outras autoridades presentes.
“O importante é construir oportunidades. Infelizmente, por problemas dos mais diversos, essas pessoas deixaram seu país, mas aqui encontraram uma acolhida generosa”, disse o ministro, ao parabenizar os formandos.
O curso de garçom é uma oportunidade não só de capacitação, mas de busca por um emprego formal, segundo o camaronense Pegui Armel Yopa Ngwese, de 23 anos. “Ainda está difícil”, atesta. “O curso é uma oportunidade para uma carreira, porque sem carreira você não tem objetivo, não tem nada”.
Pegui vive no Brasil com a mãe e outros cinco irmãos. Ele entende a importância em aproveitar todas as oportunidades que surgem e uma delas foi ingressar no curso de administração da Universidade de Brasília (UnB), benefício possível graças à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), que implementa a Cátedra Sérgio Vieira de Mello nas universidades brasileiras em cooperação com o CONARE. Por meio de processos de ingresso facilitado, revalidação de diploma e outros mecanismos inclusivos, as iniciativas visam ampliar o acesso de pessoas refugiadas à educação no Brasil. Pegui está no terceiro semestre do curso e oferece aulas particulares de francês e inglês para ajudar no sustento da família.
Oportunidades como essas não apenas enriquecem a vida de quem chega no país, mas permite novas experiências para os próprios brasileiros. A brasileira Jaqueline Corrêa chegou em 2013 de Belém, veio a passeio, mas gostou tanto de Brasília que ficou. Estudante de Turismo na UnB, Jacqueline quer no momento trabalhar como freelancer para conciliar com a faculdade. “A experiência com os estrangeiros ampliou minha visão de mundo. Não apenas o idioma, mas até mesmo as questões religiosas e hábitos me fizeram refletir sobre meu papel como turismóloga”, observou.
Projetos de empregabilidade são fortemente apoiados e incentivados pelo ACNUR. Assim como Yenni e Pegui, os demais beneficiados obtiveram a oportunidade graças ao encaminhamento feito pelo Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH). Nessas ocasiões, o ACNUR fomenta e financia projetos de estudo e empregabilidade, ao mesmo tempo que o IMDH apoia refugiados e solicitantes de refúgio a encontrarem possibilidades de integração e de desenvolvimento.
“Iniciativas como essas são fundamentais para ampliar e aprofundar a integração de migrantes e solicitantes de refúgio na sociedade brasileira. Por meio de esforços conjuntos com o governo e a sociedade civil, o ACNUR trabalha para garantir que as pessoas não sejam somente acolhidas, mas que também encontrem oportunidades e recomeços dignos”, afirma Paulo Sérgio, Oficial de Meios de Vida do ACNUR.
A ideia de oferecer o curso para refugiados partiu da Secretaria Nacional de Justiça (SNJ) que procurou o SENAC DF com a demanda. A motivação foi incentivar a participação mais ativa do MJSP no apoio dado às pessoas em situação de deslocamento forçado, especialmente àqueles beneficiados pelo programa de interiorização.
Diante do sucesso do curso, a parceria entre o MJSP com o SENAC deve continuar. O SENAC mantém um Núcleo de Relacionamento Empresarial, sistema de cadastro por meio do qual faz a ponte entre o setor empresarial e os alunos que têm interesse em ingressar no mercado de trabalho. Em breve, veremos outros refugiados e migrantes no restaurante-escola, em busca de capacitação e de um adequado preparo para o tão esperado emprego formal.