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“O importante é que as crianças estão todas bem”

Comunicados à imprensa

“O importante é que as crianças estão todas bem”

11 Março 2019

Fatima tem 42 anos e cinco filhos. Quatro meninos, Hussen, 21, Mohamde, 20, Lawand, 15, Laith, 7, e uma menina, Simaf, de 4 anos, que nasceu no Brasil. Eles moram há 4 anos em São Paulo, onde estão reconstruindo suas vidas dia após dia.


 

“Graças a Deus a gente conseguiu, eu consegui trazer meus filhos, isso é o importante da vida. O importante é que as crianças estão todas bem.”

Fatima com os filhos Lawand, 15, Laith, 7, e Simaf, de 4 anos. © ACNUR/ Érico Hiller

 

Fatima morava com seus três filhos mais velhos e o marido em Alepo, no norte da Síria. Sua família era dona de uma fábrica de roupas e ela trabalhava no negócio da família, como costureira. Descendente de uma família curda, ela chegou a dar aula de árabe para os familiares que chegavam na sua cidade e não sabiam falar a língua. Na época, a vida era um paraíso, como ela mesma definiu. Até a guerra começar:

“Eu amava aquela cidade. Você olhava e podia ver os anos de história. Eu passeava muito.  Tinha os castelos de Alepo, com mais de 7 mil anos. Eu sempre ia lá, porque da casa da minha família você conseguia ver o castelo bem longe. Era a cidade que eu mais gostava da Síria, eu amava. E no interior de Alepo minha família plantava azeite, uva, algodão, trigo, pistache.” 

Fatima na sala de sua casa em São Paulo. © ACNUR/ Érico HillerNo início, ela acreditava que tudo ia passar, mas seu marido a abandonou por conta da guerra e levou seus dois filhos mais velhos, que na época tinham 12 e 13 anos. Fatima ficou sem notícia das crianças até que um dia um conhecido da família contou que tinha visto os meninos em um bairro, morando na rua:

“Ele deixou meus filhos na rua. Meus amigos me contaram que ele tinha deixado as crianças na rua, meu filho quase morreu até minha família conseguir encontrá-los. Ficaram nessa situação por seis meses. 

No conflito, muitas crianças se perdem de seus pais, às vezes para sempre. O ACNUR trabalha para que nenhuma delas fique para trás. Junte-se a nós. Doe hoje.

A esperança de que os conflitos fossem passageiros foi grande por muito tempo, até que ela não aguentou mais. Sozinha e com o filho de 8 anos para cuidar, Fatima conheceu seu atual marido. Por um tempo, ele morou na Jordânia enquanto ela continuava na Síria. Mas o conflito foi se agravando e eles decidiram viver todos no mesmo lugar:

“Eu estava grávida e era perigoso. No meu bairro, todo mundo fugiu. A minha mãe não queria sair de casa, eu morava perto dela, mas liguei para o meu marido e sai de lá. Peguei meu filho e a gente fugiu para a Jordânia.”

A crise na Síria continua a ser a maior crise de deslocamento no mundo. Mais de 12 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas: metade da população. São 8 anos de guerra, mais de 5,6 milhões de refugiados sírios registrados e mais de seis milhões de pessoas deslocadas dentro da Síria.

A família viveu na Jordânia por 4 anos, esperando que a guerra acabasse. Sofreram muita discriminação no país. Seus dois filhos mais velhos, depois que foram reunidos com ela, precisaram trabalhar para ajudar a sustentar a família. Apenas o mais novo estudava. Tudo era muito caro e eles viviam em condições precárias, apertados em um cômodo. Se sentindo sem saída, foram até a embaixada brasileira:

“A gente queria sair da Jordânia por causa dos estudos do meus filhos, a gente queria dar uma vida melhor para eles. Fomos no consulado da Austrália, da Suíça, da Armênia: todas pessoas secas. Quando entrei no consulado brasileiro, eu não esqueço esse momento, nos receberam com um alegre: “Oi, bem-vindo!”

 

 

Chegar no Brasil não foi fácil. Fatima conta que eles queriam ir para um lugar onde tivessem família e que não conheciam ninguém aqui. Mas hoje já se adaptaram, todos os filhos estão estudando e os dois mais velhos estão fazendo curso superior, de enfermagem e comissário de bordo.

 

“Quando entendemos a cultura daqui a gente se acostumou mais. Agora meus filhos amam arroz e feijão, e eu tenho que fazer. Mas no início a gente pensava ´por que sempre arroz e feijão? ´. Agora nos acostumamos, mas só uma vez por semana, todo dia como os brasileiros não dá”, completa rindo.

Até 2017 haviam 2.770 refugiados sírios no Brasil. Eles são o maior grupo dentre os solicitantes de refúgio que já tiveram seus vistos reconhecidos.

Fatima traz os sabores e aromas que sente falta para o dia a dia da família. Sua saborosa comida também é desfrutada pelos brasileiros, que fazem encomenda de salgados e doces com ela. Assim, consegue gerar uma renda extra para ajudar a família.

 

As receitas da mãe a ajudam a lidar com a saudade de uma casa que não existe mais. Seu bairro foi bombardeado e restaram apenas destroços. Dói saber que seu lar não está mais lá. Quando lembra da guerra se entristece:

“Alepo está destruída. Meu bairro, Ashrafieh, não existe mais, está completamente destruído. Minha mãe ainda está na Síria. Agora lá é assim: eles entram nas casas, limpam e as pessoas podem morar até o dono voltar, se o dono chega, a pessoa tem que sair e ir para outra casa que esteja vazia. Isso é vida? Antes a minha mãe era gorda, agora se você olhar para ela, está muito magra. Ela não aguenta mais. Às vezes é difícil falar com eles porque é muito triste e você acaba ficando triste também. 

O ACNUR atua na emergência da Síria desde o começo. Somos a principal agência da ONU em proteção, abrigo, serviços comunitários e distribuição de itens essenciais dentro da Síria. Mas não é só isso: estamos ao lado dos refugiados em todos os passos da sua jornada. No Brasil, apoiamos através de nossos parceiros locais cursos de português, revalidação de diploma, documentação, atuando para que as famílias se integrem e tenham a chance de viver em melhores condições.

Seja um doador do ACNUR e ajude refugiadas como Fatima a reconstruírem suas vidas. E seus sonhos.

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