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Desfile de beleza com crianças venezuelanas movimenta abrigo para refugiados e migrantes em Boa Vista

Comunicados à imprensa

Desfile de beleza com crianças venezuelanas movimenta abrigo para refugiados e migrantes em Boa Vista

1 Março 2019
Primeira entrada do desfile para apresentação das participantes. ©ACNUR/Allana Ferreira

Os desfiles de beleza são uma tradição na Venezuela. O país é o segundo maior recordista em Miss Universo na história e acompanha esse tipo de evento com grande empolgação e torcida.

E mesmo com improvisos e um cenário diferente, os refugiados e migrantes venezuelanos acolhidos no abrigo Rondon 2, em Boa Vista (RR), puderam resgatar essa tradição – conhecida como “Reinado del Carnaval”.

Especialmente decorado para a ocasião, o centro de eventos do Rondon 2 estava lotado. O abrigo tem capacidade para aproximadamente 500 pessoas e é o ponto de saída de venezuelanos para outras partes do país por meio da estratégia de interiorização do governo federal, que é apoiada pelas Nações Unidas e organizações da sociedade civil. Em meio às expectativas de recomeçar em outra cidade brasileira, a resiliência comunitária se fez presente em uma celebração tradicional venezuelana.

Os moradores do abrigo se organizaram para celebrar a cultura que os une e, com isso, matar um pouco da saudade de casa. De acordo com Pedro Brandão, funcionário da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), entidade parceria da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) na gestão do abrigo, “esse tipo de evento é tão marcante na cultura venezuelana que eles assistem aos desfiles de beleza como os brasileiros acompanham a Copa do Mundo”.

No palco do concurso, 20 meninas (entre 6 e 14 anos) representaram diferente estados da Venezuela. Tudo aconteceu de acordo com os desfiles tradicionais: as participantes fizeram três entradas, a primeira como introdução, a segunda em roupas típicas e a terceira em roupas de gala. Além disso, cada uma deveria responder uma pergunta elaborada pelos jurados. Muitas puderam compartilhar o que gostariam de fazer para melhorar seu país.

“Desde a decoração do local, até a confecção de cada roupa, produção dos vídeos projetados e produção de palco durante o desfile, tudo foi ideia e feito por eles. A AVSI deu o suporte técnico, mas foi impressionante o engajamento dos venezuelanos do abrigo em fazer esse evento acontecer”, explica Marília Fabbro, oficial de participação comunitária da AVSI do Rondon 2.

Apesar de todas as turbulências na Venezuela, e as dificuldades e desafios enfrentados por essas pessoas que foram forçadas a deixar tudo para trás para buscar refúgio em um novo país, Brandão reforça que ações comunitárias reforçam o sentido de união e perspectiva do grupo.

“Esse tipo de evento, como iniciativa dos próprios venezuelanos, deixa claro que eles não querem serem tratados como vítimas, mas apenas precisam de uma oportunidade e um pouco de estrutura para recomeçar”, conclui.

A ganhadora de cada grupo etário recebeu, além da faixa de “Miss Rondon 2” uma coroa especialmente confeccionada pela comunidade. A pequena Barbara Santos, 11 anos foi ganhadora da categoria de 11 a 14 anos e ficou emocionada com o resultado. “Eu já ganhei algumas vezes como Reina del Carnaval na minha cidade, mas receber essa coroa aqui me fez sentir como se estivesse no meu país de novo, e isso foi muito importante”, declara.

 

A pequena Barbara contou com o apoio e agilidade de sua mãe, Sugey Goute, que celebrou a vitória da filha com um grande sorriso no rosto. “Para nós, assistir os desfiles na Venezuela é uma tradição. Foi gratificante ver o resultado de todo o trabalho que tivemos para preparar todas elas, e estou muito feliz que minha filha foi a ganhadora”, celebra.

Para a promoção do evento, a rádio livre do abrigo gravou uma fala de cada participante que passou durante a programação na semana anterior ao evento.

Durante o momento de entrevistas dentro do desfile, as participantes mostraram que não apenas gostariam de encantar o mundo com sua beleza, mas que também se preocupam em fazer a diferença onde vivem.

Como a pequena Lismarlis Nadales, de 9 anos, representante do estado de Anzoategui destacou, “no futuro gostaria de trabalhar em uma agência como o ACNUR, e assim poder ajudar outras pessoas como eles nos ajudam aqui.”

Lismarlis Nadales, de 9 anos, representante do estado de Anzoategui © ACNUR/Allana Ferreira