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"É importante para mim oferecer proteção para aqueles que enfrentam o que minha família enfrentou"

Comunicados à imprensa

"É importante para mim oferecer proteção para aqueles que enfrentam o que minha família enfrentou"

26 Fevereiro 2019

Catalina Sampaio, 25, trabalha para a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Brasil desde 2014, primeiro como uma assistente de Proteção em Boa Vista e agora como chefe de Unidade de Campo em Manaus. Em seu novo cargo, uma de suas responsabilidades é liderar a resposta do ACNUR na proteção e acolhimento de venezuelanos. Aqui, ela compartilha alguns momentos marcantes de sua experiência com o trabalho que doadores como você possibilitam.

Você pode descrever o trabalho do ACNUR no norte do Brasil?

Nosso trabalho aqui é dar suporte ao governo brasileiro, para garantir a devida proteção e ajudar refugiados e pessoas que foram forçosamente deslocadas, principalmente venezuelanos, para que possam ter um lugar seguro pra dormir, acesso a alimentos, água e remédios. Ano passado, mais de 10 mil venezuelanos se beneficiaram com abrigos de emergência no norte do Brasil e mais de 4 mil foram realocados para outras cidade com o suporte do ACNUR e de parceiros.

Por que esse trabalho é tão importante para você?

Grande parte da minha família já foi refugiada escapando de perseguição política na América do Sul. A ajuda e proteção internacional que eles receberam foram fundamentais para a reconstrução de suas vidas. Suas experiências, o que eles passaram é minha maior inspiração para continuar a ajudar refugiados. É muito importante para mim ser capaz de oferecer proteção que salva vidas para aqueles que enfrentam uma jornada semelhante a que minha família enfrentou.

Qual é o aspecto mais gratificante do seu trabalho?

O objetivo do meu trabalho é coordenar as atividades do ACNUR em Manaus, ajudando o governo a garantir que refugiados e pessoas deslocadas possam ter acesso a seus direitos, nesse caso principalmente os venezuelanos. Quando encontramos refugiados e solicitantes de refúgio pela primeira vez, normalmente eles estão em condições extremamente vulneráveis e precisam de assistência imediata. Algumas pessoas chegam gravemente queimadas pelo sol, e com fome. Alguns caminharam mais de 200km para chegar aqui.

Quando eles chegam, frequentemente não têm informação sobre para onde ir, então é por isso que o centro de recepção em Pacaraima, administrado pelo ACNUR e por parceiros, é tão importante. Lá eles são instruídos sobre os serviços básicos disponíveis para eles aqui no Brasil, como saúde. Eles são muito solidários uns com os outros, então eles se comunicam e organizam para garantir que todos estejam cientes de seus direitos. Assistir eles reconstruir suas vidas e se tornarem mais fortes e confiantes é muito gratificante. Também fico feliz quando os testemunho reconquistando suas independências – e uma vez que isso acontece, eles sempre querem compartilhar as notícias, me contando, “Olha, eu posso tomar conta de mim, estou bem, estou vivendo minha vida”.

Qual é a parte mais difícil?

Por outro lado, é desafiador quando não podemos atender, individualmente, todos os casos que chegam para nós. Muitas vezes temos que lidar com múltiplos casos com diferentes níveis de risco e não somos capazes de responder todos os casos imediatamente. Em situações como essas, devido aos recursos limitados, precisamos classificar o que é urgente, diferenciar o que requer ação em menos de 24 horas do que pode esperar até 72 horas. Sabemos que em uma crise humanitária tudo é urgente. Então, a parte mais difícil deste trabalho é ter que identificar e classificar as prioridades.

Por exemplo, isso aconteceu com o crescente número de venezuelanos chegando em Boa Vista, a cidade onde trabalhava. Nosso papel em identificar aqueles que precisam de ajuda imediata começa com os venezuelanos recém-chegados e em situação de rua. Com a informação correta, somos capazes de realocar todos para abrigos. Oferecer proteção a tantas pessoas de uma só vez é muito gratificante.

Qual foi o ponto alto do seu trabalho no último ano?

Minha melhor lembrança é de maio de 2018, quando o ACNUR em conjunto com outros parceiros, abriu o abrigo temporário de emergência Jardim Floresta – o primeiro na área –, onde cerca de 600 pessoas em situação vulnerável, que estavam vivendo nas ruas, foram capazes de finalmente dormir em segurança. Ajudamos com o estabelecimento voluntário de família com crianças pequenas, mulheres, idosos e homens que precisavam de assistência imediata.

Situação da Venezuela

Mais de 3,4 milhões de venezuelanos deixaram seu país desde 2014. O fluxo de pessoas aumentou em 2017 e, especialmente, em 2018. Este é o maior êxodo na história recente da América Latina, e as pessoas continuam a deixar a Venezuela devido à violência, insegurança, ameaças e falta de alimentos, medicamentos e serviços essenciais. A maioria são família com crianças, mulheres grávidas, idosos e pessoas com deficiência. O ACNUR está respondendo as crescentes demandas enquanto o número de refugiados continua a crescer. Nós trabalhamos para garantir que as pessoas mais vulneráveis estão protegidas com abrigo, atendimento de saúde e documentação que os permitirá acesso a serviços, para que eles não vivam em situações precárias, expostos e em risco.

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